Baião: viajar entre montes e memórias de Eça

A Tasquinha do Fumo, na Aboboreira, serve comida de forno. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
A Serra da Aboboreira, com dólmenes, cascatas e uma tasquinha famosa, já pode ser percorrida de buggy ou segway. A terra que Eça de Queirós imortalizou num dos seus romances tem novidades para juntar à velha boa mesa.

Muitos associam a Serra da Aboboreira aos desportos motorizados, ou não tivesse sido palco do Rally de Portugal. Mas esse território, distribuído pelos concelhos de Baião, Marco de Canaveses e Amarante, tem um lado mais tranquilo e surpreendente, dado a conhecer pela BELLO’ GIRO. Entre as suas propostas para descobrir a serra está um passeio de buggy, um carro que se adapta a percursos hostis, logo, permite entrar em zonas mais escondidas, explica Eduardo Martins, daquela empresa de animação turística, sediada em Baião.

Os clientes são convidados a conduzir o buggy pela serra, bastante florida por estes dias, acompanhados por guia e munidos de óculos protetores. A viatura não tem portas nem vidros, logo, permite sentir o vento na cara – assim como o pó e, por vezes, a vegetação circundante. Dólmenes (monumentos funerários) como o de Chã de Parada, que é Monumento Nacional, aldeias, parques de merendas e vacas de raça arouquesa integram a paisagem, que vai mudando.

Pelo meio, há algumas paragens, seja para apreciar a vista do baloiço de Soalhães, no concelho de Marco de Canaveses; ou para caminhar até uma cascata na floresta, na zona de Carvalho de Rei, em Amarante. “Nós, que somos daqui, nunca tínhamos ouvido falar em cascatas na Aboboreira”, ouvimos, pelo caminho.

Cascata na zona de Carvalho de Rei, Amarante.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

A Bello’ Giro adapta as atividades aos interesses e disponibilidade dos clientes. A Aboboreira é tão sumarenta, que justifica uma visita de dia inteiro, mas também se pode tomar-lhe o gosto num percurso de BTT ou de segway. Quem quiser passear naquele veículo elétrico tem um programa que inclui degustação de produtos regionais na TASQUINHA DO FUMO, onde uma mesa livre vale ouro.

Isabel Soares e o marido, Artur, só trabalham por reserva e por encomenda. Não têm parança, de tão concentrados estarem naquilo que, no fundo, importa: os sabores tradicionais saídos do lume e do forno a lenha.

Petiscos de Rosa e favas de Tormes

A Tasquinha do Fumo, na Aboboreira, é famosa pelo anho no forno e pela posta de vitela na brasa, entre outras opções, como o galo no forno ou o cabrito, servido só por inteiro. O pão e a broa de milho caseiros inauguram a refeição, a par com cebolas novas com vinagre tinto e sal, bazulaque, alheira ou “iscas”, as pataniscas de Isabel. Afinal, tudo começou com uns petiscos para alimentar quem ali ia em tempo de romaria, feitos pela sua mãe, Rosa, na antiga mercearia e tasca. Hoje, ao concorrido restaurante soma-se uma loja com produtos regionais de marca própria, fumeiro e não só.

Em Baião, as histórias em torno da comida vêm de longe. Basta pensar na Quinta de Vila Nova, ou Quinta de Tormes, como lhe chamou Eça de Queirós na obra “A cidade e as serras”. Fica em Santa Cruz do Douro, e acolhe a FUNDAÇÃO EÇA DE QUEIROZ e o RESTAURANTE DE TORMES, guardiões de memórias do escritor, que era diplomata em Paris quando, em 1892, visitou pela primeira vez a propriedade, herdada pela mulher. Da quinta, onde passou curtas temporadas, retirou inspiração para escrever aquele romance, focado numa mudança da urbe para o campo – e, antes dele, o conto “Civilização”.

A cama onde Eça de Queirós dormia recostado.
(Fotografia: Rui Manuel Ferreira/GI)

Na agora casa-museu estão diversos objetos pessoais de Eça de Queiroz, dos monóculos às chapeleiras de viagem, passando pela secretária onde escrevia de pé e pela cama, pequena para a sua altura. O autor dormia recostado, porque, no seu entender, deitar-se era atrair a morte.

Outra curiosidade que vem à tona nas visitas guiadas prende-se com a primeira refeição que os caseiros ali lhe serviram: arroz de favas com frango alourado. Consta que Eça nem gostava de favas, mas rendeu-se àqueles sabores. E é essa a refeição que faz o protagonista d´”A cidade e as serras”, Jacinto, render-se aos encantos da vida simples campestre. No restaurante ao lado, o chef António Queiroz Pinto recria esse e outros pratos descritos em obras queirosianas, tudo rematado com vinho verde e vistas deslumbrantes.


Do vinho à arte sacra

O MOSTEIRO DE SANTO ANDRÉ DE ANCEDE, integrado na Rota do Românico e cuja carta de couto remonta a 1141, está a ser reabilitado, mas certos espaços continuam abertos. O Centro Interpretativo da Vinha e do Vinho, por exemplo, acolhe a exposição “Ver do bago nos mosteiros”, que assinala a importância dos mesmos na produção de vinho e na dinamização do seu cultivo, ao longo da história.

O Mosteiro está em obras, mas continua ater espaços visitáveis.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

A mostra combina informações sobre a Região Demarcada dos Vinhos Verdes com experiências imersivas e peças de arte sacra que terão sido financiadas pela exportação de vinho. Aqui, salienta-se o “Tríptico de Ancede”, de Joos van Cleve, que integrou a Exposição do Mundo Português, em 1940, como lembra José Augusto Costa, técnico intérprete do património.

Trata-se de uma iniciativa da Rota do Românico, que pode ser visitada, até 12 de setembro, gratuitamente, a solo ou com guia, por marcação. É a primeira de três exposições do ciclo “Ver do bago”. Acessível ao público continua também o Núcleo de Arte Sacra – Coleção António Miranda. E os visitantes podem pedir para aceder à Igreja do Mosteiro, bem como à Capela do Senhor do Bom Despacho, uma capela barroca, de planta octangular, que retrata os Mistérios do Rosário de modo teatral.


Doce com história

O creme de água queimado, criado para contornar a escassez de leite, durante a guerra, foi das primeiras receitas da Pensão Borges, restaurante tradicional em Baião (Rua de Camões, 304). Tel: 255541322. Preço médio: 25 euros


Acordar junto ao Douro

A piscina virada para o Douro é um dos fortes do Portovella – Lodges & Bungalows, em Baião (Rua da Pala, 887). Além de bungalows, suítes e um estúdio, tem jardim e parque infantil. Tel.: 255552309. Web: portovella.com

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