António Teixeira Jorge: Recriar os natais na aldeia

António Teixeira Lopes (Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)
A infância e adolescência vividas na pequena aldeia transmontana de Paranhos, em Valpaços, deixaram-lhe as mais doces memórias de Natal. Recordações que agora reproduz com as filhas e os netos num refúgio de família em Vilar de Mouros.

Chegado o Natal, “todo o ambiente da aldeia se alterava”. As crianças, de férias da escola, passavam o tempo a jogar ao rapa, com pinhões retirados às pinhas aquecidas na fogueira. Viviam em contagem decrescente para o ponto alto das festividades, a noite de consoada, cujo dia era passado a enfeitar com canela as travessas de aletria, “ao mesmo tempo que íamos lambendo as sobras que ficavam na panela”. É assim que António Teixeira Jorge recorda os natais da sua infância e adolescência, passados em Trás-os-Montes, na pequena aldeia de Paranhos, concelho de Valpaços. “O que mais me marcou foi a autenticidade daquelas festas. Era tudo muito simples, mas vivido muito intensamente. Tudo se concentrava na preparação do Natal em família”, conta.

A cozinha era o epicentro da festa, lugar de convívio à volta da lareira. Na mesa, reinava o polvo cozido, acompanhado de batatas, couves e grelos; as filhós e os bolinhos de bacalhau, as rabanadas e os sonhos. Não havia presentes – “concluíamos que o Menino Jesus não conhecia a aldeia, por ter como acesso somente um caminho de terra, estreito e sinuoso” -, mas também não faziam falta.

Aos 16 anos, o mais novo de oito irmãos foi estudar para o Porto, cidade onde ainda vive, e com o avançar da idade dos pais, o Natal passou a ser celebrado em Chaves, em casa dos irmãos mais velhos, mantendo as tradições e o espírito familiar, mas sendo, ainda assim, diferente.

Sempre teve o desejo de voltar a ter um Natal na aldeia, e em 1997 concluiu a reconstrução de uma ruína em Vilar de Mouros, com paredes em pedra, uma grande cozinha e lareira. E a partir desse ano, a quadra voltou a ter o mesmo sabor de outrora.

“O sítio não é o mesmo, mas consigo ter o ambiente que tinha em Trás-os-Montes. E vou sempre buscar as couves, os grelos e as rabas a Paranhos, porque o sabor é outro”, garante Teixeira Jorge, que este ano assinala o seu septuagésimo Natal. A preparação da consoada começa cedo, e com a ajuda de todos: a mulher, as duas filhas, os genros e até o pequeno Guilherme, o mais velho de quatro netos. E enquanto a noite não chega, ainda se passa o tempo a jogar ao rapa.

 

UMA HISTÓRIA DE NATAL
Guilherme e o Pai Natal

Se em Paranhos não chegava o Menino Jesus, em Vilar de Mouros não falta o Pai Natal, para delícia dos quatro netos de Teixeira Jorge. Especialmente o Guilherme – agora com 11 anos -, que até se ofereceu para ser ajudante do barrigudo de barbas brancas. “Quando ele tinha cinco anos, levei-o à Lapónia para ver o Pai Natal. Algum tempo depois tive de lhe desfazer a história. Fiz um livrinho com a nossa viagem e depois, evocando o poema da Pedra Filosofal do Gedeão, disse-lhe que o Pai Natal é um sonho, que existe para quem acredita nele, e para quem não acredita, não existe. Passados uns dias perguntei-lhe: ‘Então Guilherme, o Pai Natal existe ou não existe?’ E diz-me ele muito sério: ‘Existe’.”




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