Alexandra Azambuja: Memórias da casa da ameixoeira

Alexandra Azambuja (Fotografia de Nuno Brites/GI)
A casa dos avós é o lugar mágico para onde viaja Alexandra, que se recorda de passear pela cidade com a mãe e de muitos pormenores, tal como aqueles que valoriza nas ofertas que faz aos outros.

Dantes o Natal era uma coisa como um presépio vivo cheio de musgo e coisas pequeninas, como ovelhas de loiça pintadas à mão. Era o tempo de de adivinhar o que estaria dentro daqueles tantos embrulhos em cima dos armários altos onde não chegávamos nunca”. À distância de meio século, Alexandra Azambuja descreve o que ficou para contar do tempo em que era menina, na Leiria dos anos 60 do século passado.

Para a nossa entrevista, traz na mão uma lâmpada verde, que o pai guardou religiosamente, como se quisesse congelar no tempo a imagem da ameixoeira decorada com lâmpadas de cores várias, no jardim daquela casa à beira da estrada da Marinha Grande, hoje Rua dos Mártires. Foi ninho de muitos natais, quando a avó Beatriz e o avô Álvaro acolhiam na sala estreita “umas 30 pessoas”, na Consoada. À tarde, já tinham embebedado um peru, que haveria de ser o almoço daquela família no dia seguinte.

O jardim e a casa ainda lá estão, agora habitados por um casal de belgas rendido ao clima português, e que gentilmente acedeu abrir as portas para que Alexandra pudesse reviver o passado. Já não é a menina que trepava a cada uma das árvores, mesmo antes de se sentar à mesa. “À volta da canja de galinha servida em chávenas com duas asas, e quando os passarinhos de plumas a fingir saíam dos armários cheios de louça antiga para vir decorar a mesa grande. A minha avó só usava aquele serviço de louça no Natal”, recorda, enquanto descobre recantos que trazia guardados na alma: “é pequenina e modesta/a casa que visitais/mas reparai, está em festa, pela honra que lhes dais”. Diz assim um azulejo pintado à mão, que resistiu à passagem do tempo e dos dois proprietários que se seguiram à família.

Já não há ameixoeira, nem canja, nem peru. Também já não estão cá os avós, tão-pouco a (outra) avó Julieta, que aguardava pelos dois netos em Lisboa, nos dias que antecediam o Natal, para lhes mostrar a patinagem no Coliseu ou as iluminações da Baixa. Mas a ordem natural das coisas faz Alexandra valorizar cada amigo, cada presente que compra, cada postal que (ainda) escreve à mão, cada embrulho rebuscado que faz, dando um tanto de si aos seus. Cresceu, casou e descasou, já passou natais só com uma ou com as duas filhas, e até sozinha.

Enquanto passeia pelo jardim da cidade onde passeava com a mãe aos domingos e na tarde do dia de Natal, recupera “a chama viva do espírito mágico”. Há de voltar a casa, não tarda, e fazer doce de abóbora, colocado em pequenos frascos e etiquetas desenhadas à mão. Porque há uma certa magia que a acompanha, por mais que a infância seja apenas uma lembrança feliz.

UMA HISTÓRIA DE NATAL
As convidadas chinesas

Alexandra Azambuja já passou natais muitos diversos, que oscilam entre a mesa farta e rodeada de imensa família, até àquele em que as filhas passaram essa noite de Consoada com os pais, e ela sozinha, com uma lareira por companhia. Mas há um que merece destaque: quando convidou duas estudantes chinesas, deslocadas em Leiria, a estudar, respondendo ao desafio à comunidade feito pelo Instituto Politécnico de Leiria. “E assim parecíamos mais, numa família de três”.




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