Cocorico. É para ler com sotaque, carregando nos rr e transformando em «ô» os oo. É uma casa francesa afinal – por sinal, a primeira fora da pátria –, parte da insígnia hoteleira Millésime, sediada em Paris. Mas quem preferir aportuguesar não será olhado de lado, ou não fosse o derradeiro objetivo que aqui «tanto um francês como um português se sintam em casa».
A apresentação é feita por Sara Faria, diretora desta guesthouse de luxo que abriu no início de julho, na união de duas casas burguesas de estrutura simétrica, a dois passos da Praça da Batalha. Se há dúvidas no porquê do nome, basta reparar no logótipo, que junta, num beijo bico-com-bico, um símbolo de cada país: o galo francês e o seu congénere de Barcelos. «Côcôrri-cô», assim canta um galo francês.
Antes que a palavra «luxo» e a origem do grupo Millésime induzam em erro, convém esclarecer à cabeça, «à grande e à francesa» não é lema que se cole a esta casa. Talvez «à pequena e à francesa» seja mais indicado: apesar do considerável tamanho do edifício, aqui há apenas 10 quartos (e todos estrategicamente desprovidos de telefone, «para que haja sempre uma cara quando há um contacto», continua Sara). Aliás, há uma palavra para isso (francesa, nem de propósito), «boutique».
À vista desarmada, não são só os telefones que faltam nos quartos. «A diretora criativa tem horror à tecnologia», explica Ricardo, o rececionista. (Fixemos este detalhe: diretora criativa. Já lá iremos.) Portanto, tudo quanto é modernidade está escondido, a televisão atrás de cortinas, o ar condicionado dentro de uma caixa de madeira, mesmo as tomadas, de desenho rètro, ficam fora de vista. Para que nada choque com a estética vintage que junta móveis antigos, chão de madeira, pé direito elevado, tetos em estuque. E camas confortáveis, muita luz natural, casas de banho espaçosas e com chuveiro duplo.
Marie Christine Mecoen é a tal diretora criativa de que Ricardo falava. É ela que define o espírito e a decoração de cada nova casa com o selo Millésime, para que reflita o lugar onde se encontra e a filosofia do grupo. Foi ela que escolheu as loiças Bordallo Pinheiro e Costa Nova, o mobiliário comprado em antiquários, os tons amarelos e laranja que decoram boa parte dos quartos, justificados pela profusão de limoeiros e laranjeiras que encontrou nos jardins portuenses, nas suas visitas prévias de estudo pela cidade.
A comida e os vinhos estão em igual patamar de importância. Ou não fosse o restaurante aquilo que o hóspede encontra ao entrar, a fazer as vezes de átrio. Se Marie o decorou para fazer lembrar uma viagem no Expresso do Oriente, com mesas ao estilo de cabines, balcão de madeira escura, elegância à antiga, também a carta, de cozinha de autor, foi pensada ao milímetro, pela chef executiva do grupo, Flora Mikula, que tanto englobou elementos locais – nomeadamente os vinhos, de Douro e porto – como apostou em trazer ao Porto uma volta a França no prato, para sublinhar que este restaurante vale por si só, e que não é um exclusivo para hóspedes.
Nestas mesmas mesas, é servido o pequeno-almoço, até às 11h00, porém com flexibilidade para pedidos mais tardios. Também a pedido, e sem cobrança extra, a refeição mais importante do dia pode ser tomada no quarto, para tirar máximo proveito do fator conforto. Para quê viver à grande, quando se pode ter estes pequenos grandes luxos?
Cosmética bio
As amenities disponíveis nos quartos são da Ec(h)o, marca própria da Millésime, de cosmética à base de princípios ativos naturais e bio – disponível para venda na miniloja junto à receção.
Longitude : -8.604875200000038
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