Braga, uma cidade vibrante de olhos no futuro

Vivaz, diversificada, monumental e acolhedora. Parecem ser algumas das caraterísticas com que Braga está a seduzir cada vez mais turistas – e não só.

Uma das cidades mais jovens do país, Braga, foi Capital Europeia da Juventude em 2012. Já lá vão cinco anos, nos quais muita coisa mudou na cidade minhota. Um projeto que surgiu à boleia da capital é hoje um importante pólo de cultura da cidade. O GNRATION nasceu com a reconversão do antigo quartel da GNR para espaço multidisciplinar «dedicado às artes digitais e à música contemporânea não erudita, e onde também estão instaladas várias startups», diz Luís Fernandes, diretor do espaço desde 2014. Nos seus vários projetos, o cruzamento entre arte, tecnologia e ciência é uma constante. O programador, músico (Peixe:Avião) e também diretor do singular festival Semibreve acredita que Braga tem sido palco de um «boom cultural» nos últimos anos e espaços como o Theatro Circo e o GNRation têm contribuído para isso.

Num projeto em que a tecnologia é essencial, há um sítio onde se pode fazer uma pausa do mundo digital. Chama-se mesmo PAUSA e é a cafetaria do GNRation. Susana Seabra ganhou há um ano o concurso para explorar o bar e decidiu criar «um elemento de distúrbio de disrupção», diz. «Quando isto era quartel, esta era a sala das armas, espaço pensado para ser muito seguro. Acabou por ser o sítio de todo o edifício onde as redes de wi-fi e de telemóvel funcionam pior», refere. «A tecnologia é muito importante, mas há coisas que vale a pena manter», acredita. Como, por exemplo, comer produtos da época. As refeições leves que serve ao almoço respeitam esse princípio. Da cafetaria faz também parte uma sala – mesmo em frente – dedicada aos livros e à BD. As paredes preenchem-se com um mural de Sama, nesta sala, e, na outra, um mural de Francisco Vidal. Ainda assim, com toda a variedade que se encontra dentro do GNRation, a cidade parece, às vezes, «ter alguma resistência a entrar ali». Talvez «o facto de o edifício ter sido um quartel da GNR não traga boas memórias a muita gente», diz Susana.

TUDO PARA O CENTRO

Considerada uma cidade conservadora, Braga está a mudar de paradigma aos poucos. As pessoas que estão a aproveitar o crescimento para apostarem em negócios diferentes foram as primeiras a ter de lidar com «resistências». Como Diogo Gomes, ex-engenheiro civil que há dois anos montou um café numa Piaggio APE e começou um negócio ambulante de venda de bebidas de café. «A aceitação foi má no início, as pessoas não percebiam o conceito.» Com o tempo a estranheza desapareceu e o sucesso foi tanto que agora conseguiram abrir um espaço permanente – o APE COFFEE – no centro da cidade. «Foi difícil arranjar sítio, as rendas já estão muito altas», considera. Se no início depararam-se novamente com a estranheza, agora já têm de recusar clientes à hora do lanche. «Tiramos o café de forma correta. Fazemos teste à moagem. A máquina está sempre limpa e afinada. Tudo isto, parecendo que não, faz toda a diferença», afirma. Além das diversas bebidas de café – macchiato, capuccino, entre outros, há bebidas frias, como frappés, smoothies e café gelado. Para comer há crepes e panquecas. Em breve, a casa vai aumentar a sua oferta, principalmente de salgados e de bebidas de café. A moto continua a trabalhar e normalmente pode ser encontrada na Rua do Souto.

Ter um espaço no centro foi o que desejou Joana Vilas Boas, que há dez anos abriu a MERCEARIA DA JOANA. Da periferia passou para perto da câmara municipal. «A loja abriu durante a crise e continuou na crise profunda», conta. Quando abriu, era a única casa do género e «houve muita resistência a determinados produtos». Hoje, há uma recuperação, «tanto económica como na mentalidade das pessoas», diz. De loja «gourmet puro» passou «a vender apenas produtos portugueses, principalmente porque surgiram artesãos a fazer produtos de qualidade». Com a mudança de instalações, os clientes habituais mantiveram-se e ganhou os turistas. A loja vende compotas, vinho, azeite, mel, sabonetes, produtos de caça, livros de receitas e até sacos de pão e aventais desenhados por Joana. A Mercearia também organiza eventos, como servir chá em casas particulares ou piqueniques. Uma vez por mês, há conversas temáticas, sempre com um convidado e um brunch.

Foi também em época de crise – e para combatê-la – que Silvana Nogueira, professora do primeiro ciclo desempregada, começou a fazer cheesecakes para fora. Ao projeto juntou-se Patrícia Fernandes. Com o crescimento do negócio, abriram um espaço de produção em Ferreiros. Mas há dois anos quiseram aproveitar a movida do centro e para lá se mudaram, abrindo o CHEESECAKE STORY. «A cidade está a crescer a olhos vistos. No verão, há muito turismo e às vezes nem sei em que língua falar», diz Patrícia. Da cozinha saem cheesecakes para todos os gostos: de forno (New York style) e o tradicional semifrio. Os mini-cheesecakes são a grande atração do espaço, com Nutella, maçã e canela, limão, entre outros sabores.

PETISCOS E PRATOS

Mais recente, de abril passado, é o NOCHA’S, um espaço para se tapear criado por Raul Vilas Boas e a cunhada Cristina Veiga. Raul tinha tido um café em Braga, já lá vão dez anos, e depois trabalhou em Angola, sempre na área da restauração. Com a crise naquele país, regressou e a ideia de abrir um sítio vingou. Montaram o negócio numa antiga casa de bifanas. No Nocha’s é tudo feito na hora, desde as tábuas de queijos e enchidos (transmontanos), os cogumelos recheados e todos os montaditos. Apesar dos dois andares e da esplanada, o espaço não é grande. Por isso, ao fim de semana aconselha-se a reservar mesa.

Outro negócio familiar é ATÍPICA, restaurante de petiscos aberto há dois meses, onde se come «em cima da história», diz Magui, referindo-se ao chão de vidro que deixa ver as ruínas romanas sob os pés: um vestígio da muralha, de um torreão e do caminho para Lugo. Nesta antiga oficina de móveis, Magui e os seus filhos Ronaldo e Fábio encontraram o espaço ideal. «Esta altura foi excelente para abrir por causa do turismo. Nestes dois meses temos tido boa adesão», diz Ronaldo, que também é músico e enfermeiro. Agora, admite, é preciso solidificar a nível local. «A qualidade da comida e do atendimento tem de passar de boca em boca», diz. Acredita que isso vai acontecer até porque a mãe tem tido vários elogios. Além do prato do dia servido ao almoço e ao jantar, há petiscos como sandes de pernil, cachorrinhos ou pataniscas. Mas o orgulho da casa é o bacalhau à Braga da Magui. Pois para ser moderno não é preciso esquecer a tradição.

DUAS ITALIANAS NO MINHO

Foi o programa de estágios Leonardo Da Vinci que levou Maria Antonieta, da Calábria, e Floriana Rotella, da Sicília, a apaixonar-se por Braga, em 2014. Gostaram da sensação de tranquilidade e sentiram-se em casa. «As pessoas são hospitaleiras, têm a mesma forma de ser dos italianos do Sul», diz Floriana. Depois do estágio terminado, do regresso a Itália e de empregos noutros países, decidiram reunir-se novamente em Braga e aqui optaram por viver e criar negócio. Está a fazer um ano que abriram LE ITALIANE CAFFÈ BISTRÓ, onde servem a comida que aprenderam a fazer desde crianças, principalmente pratos tradicionais do Sul de Itália.

SAIR À NOITE

Acabou de fazer um ano que abriu um bar dedicado aos cocktails: o DESTILADO. Simão Vila Verde, que está por detrás do projeto e atrás do balcão, quis ir ao encontro «das novas tendências da coquetelaria», baseando-se em produtos premium. Isto porque «cada garrafa tem uma história para contar», diz, acrescentando que é preciso «desmistificar os cocktails», que normalmente são vendidos como algo a que só alguns podem aceder. O que Simão quer é normalizar o seu consumo, neste espaço elegante e descontraído onde se ouve rock, soul e funk. Além dos cocktails clássicos, estão disponíveis criações do próprio Simão. Mais recente é o SETRA, também com grande variedade de cocktails. O MAL AMADO e o PELLE são outras das recentes propostas noturnas da cidade.

LADO B EM BRAGA

Depois de se ter tornado uma das casas mais importantes de francesinhas no Porto, o LADO B quis expandir horizontes. Em Braga encontraram o espaço ideal, mesmo ao lado do Arco da Porta Nova. À carta acrescentaram novos bifes, tostas e o famoso doce minhoto pudim abade de Priscos. A carta de cervejas é também mais alargada.

DORMIR COM CULTURA

Durante as obras de reabilitação do edifício onde se ia instalar o BURGUS TRIBUTE & DESIGN HOTEL foram encontradas ruínas romanas do século i. A opção foi interpretá-las e deixá-las à mostra. Sempre que se escava no centro de Braga é difícil não encontrar algo, ou não tivesse sido esta uma importante cidade romana. A homenagem que José Alberto, engenheiro à frente do hotel, quis fazer à cidade começa aqui e espalha-se por todos os espaços. Cada um dos 14 quartos presta tributo a uma personalidade importante da região, de Afonso Henriques a S. Martinho de Dume. A única personalidade ainda viva é o músico Adolfo Luxúria Canibal, que foi mesmo convidado a decorar o quarto batizado com o seu nome. Por ser um ponto importante de história e cultura, Braga atrai turistas.

João Fernandes, que abriu há pouco tempo a SÉ GUESTHOUSE, acredita que o turismo veio para ficar. Natural de Castelo Branco, foi viver para Braga com a mulher, Susana Cunha, e encontrou um prédio já reabilitado, mesmo ao lado da Sé, onde montou a guesthouse com quatro quartos duplos e cozinha de acesso livre. Aqui paga-se preço acessível por uma oferta muito boa. «A cidade está a evoluir e o nível de exigência é grande», considera.

 

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