Onde comer e dormir à descoberta da ilha Terceira

A Terceira pode não ter os mais dramáticos postais dos Açores, mas tem Angra Património Mundial, touradas à corda, queijo, vacas, a melhor alcatra de peixe do mundo (exagero) ou alojamentos como o Pico da Vigia.

Açores, Açores, Açores, nove vezes Açores, o arquipélago entrou definitivamente na lista dos destinos de férias dos portugueses – ou apenas para passar um fim de semana, algo que se tornou mais fácil com a chegada das companhias aéreas de baixo custo –, ainda assim, muitos são aqueles que continuam a ter dúvidas na hora de decidir qual das ilhas visitar. São Miguel? São Jorge? Faial? Flores? Santa Maria? Corvo? Graciosa? Terceira?

Comecemos pelo que a Terceira não tem, para que ninguém vá ao engano.

«Aqui não temos as lagoas, fajãs ou as montanhas de outras ilhas, aparentemente não existe nada de muito forte para vender, mas temos uma natureza, um estilo de vida, que vai muito para além desse primeiro impacto. Fica entranhado».

Palavras de Bruno Gonçalves, no miradouro da serra do Cume, 542 metros de altitude, vista para a baía, a cidade da Praia da Vitória, a Base das Lajes e uma impressionante manta de retalhos – os tradicionais cerrados, campos de pasto separados por muros de pedra vulcânica por todos os lados – que se prolonga até ao Atlântico.

Se um arquipélago é um conjunto de ilhas, não é obrigatório que uma ilha concentre tudo aquilo de que se faz um arquipélago. Cada uma tem as suas caraterísticas, complementam-se. A Terceira pode não ter os mais dramáticos postais dos Açores, mas conserva, ainda assim, uma série de imagens que falam e valem a viagem por si só. A maior área de mancha endémica da região, Angra Património Mundial, touradas à corda, queijo, vacas, a melhor alcatra de peixe do mundo (exagero) ou alojamentos como o Pico da Vigia. E vistas como esta.

 

O Pico da Vigia tem vista para São Jorge e para o Pico. (Fotografia de Fernando Marques )

 

DORMIR

A vista do Pico da Vigia é outra daquelas! Do terraço, da piscina, da banheira, de quase todo o lado desta quinta de 52 mil metros quadrados – localizada na freguesia de Santa Bárbara, a dez minutos de Angra do Heroísmo – é possível ver a ilha de São Jorge. E o Pico, que se ergue, imponente, lá atrás. Há quem venha de propósito à Terceira apenas para ficar alojado neste turismo rural. De charme. De luxo. É claro que nem todo os viajantes podem ficar em sítios assim – um T0 custa 150 euros por noite – e nem todos os alojamentos têm de ser de charme, a bem da diversidade, mas a existir que tenham esta sensibilidade e bom gosto.

Por fora parecem palheiros tradicionais, em basalto, lá dentro o conforto é total. «Não queríamos fazer algo etnográfico, mas em que depois as pessoas dormem numa cama que range. Temos que apostar na qualidade, na diferenciação, não só aqui, mas em toda a ilha.» As palavras continuam a ser de Bruno Gonçalves, proprietário (lado a lado com a mulher, Sofia Couto), lisboeta, cicerone nesta viagem. Ele que já perdeu a conta ao número de dias em que está na Terceira, já lá vão mais de vinte anos, mas não ao dia em que se apaixonou. Pela ilha e pela mulher. «Vim pela primeira vez com o meu pai, que veio treinar o [Sport Club] Lusitânia. Conheci a Sofia, depois ela foi estudar para Lisboa, apaixonamo-nos e viemos viver para cá.» O pai é Baltazar, treinador e ex-jogador de futebol, campeão pelo Sporting em 1974. Construíram seis casas (de T0 a T2) quase todas sem divisões, todas com peças de autores locais e de… Siza Vieira. O arquiteto desenhou mesmo uma cadeira e um armário em exclusivo para casa. Casas equipadas, com kitchenette, forno a lenha, discos de vinil, um relvado independente com 900 metros quadrados e uma pequena janela «secreta» onde é colocado o pão fresco todas as manhãs.

 

As lapas grelhadas são uma verdadeira instituição no restaurante Beira Bar. (Fotografia de Fernando Marques )

 

COMER

Nos Açores come-se bem, já se sabe, e a Terceira não é exceção. Boca Negra, Beira Mar, Tasca das Tias, Q.B – Food Court, eis alguns dos nomes a decorar. Não são os únicos, podem nem sequer ser os melhores, que isto da ditadura do gosto é um desafio que nem sempre convém alimentar, mas aqui dificilmente alguém sairá desiludido. Peixe ou carne? Peixe, pois claro.

Falar em Açores é falar em peixe e falar em peixe na Terceira é acabar no restaurante Beira Mar, com vista para o porto de São Mateus. Uma instituição, simples, sem pretensiosismos, do qual se diz à boca cheia ter as melhores lapas grelhadas da ilha.

As cracas, primas açorianas dos percebes, também são estrelas. Nos pratos principais há sempre peixe do dia e, especialidade das especialidades, espetada de cherne com camarão. Carne? Também há, não fossem as vacas e a alcatra de carne umas das imagens e dos pratos típicos da Terceira, presente em quase todos os restaurantes, mas convenhamos que com um mar destes é difícil resistir ao peixe. Peixe que também pode vir em forma de alcatra, como no restaurante Boca Negra, em Porto Judeu.

Quem entra não dá nada por ele, parece um café, mas apenas até dar a primeira garfada. Três espécies (boca negra, garoupa e safio) que chegam à mesa numa caçarola, a borbulhar, num molho a clamar por pão. É o único acompanhamento. É possível que nem seja a melhor da ilha, mas enquanto se come parece a melhor do mundo. Qual o segredo? «São maçaricos e já queres saber tudo», responde José Leal Soares, o dono, ele que também é um prato por si só, há cerca de 30 anos a trabalhar as piadas e os sabores regionais.

Quem procurar algo mais contemporâneo, nada como ir ao coração de Angra, à Tasca das Tias. Tem cerca de três anos. Tudo começou como uma brincadeira de amigos que decidiu fazer uns petiscos nas festas regionais e acabou por se transformar no restaurante da moda na ilha – não se leia aqui qualquer carga negativa Há lapas grelhadas e cracas, pois claro, amêijoa de Santo Cristo (oriundas da Caldeira de Santo Cristo, em São Jorge), salada de polvo dos Açores e uma série de outros petiscos da terra e do mar para partilhar, mas também doses individuais, tais como files de abrótea panados ou bife de atum. O ambiente é descontraído, cosmopolita.

Ainda em Angra, um pouco mais afastado do centro histórico, o Q.B. – Food Court. O nome é diferente, a proposta também. Uma propriedade em que no piso térreo se servem refeições ligeiras (tem esplanada e parque infantil) e onde no piso superior se faz cozinha de autor. Uma aposta (para alguns) arriscada, mas claramente ganha. Carpaccio de polvo, arroz de lapa com abrótea, rosbife ou semifrio de maracujá, eis uma refeição possível.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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