Quanto mais nos aproximamos de Sagres, mais o mar se manifesta na forma inteira e inviolável. Conhecidas e comprovadas as tendências do gosto internacional pelo produto marítimo com pouca manipulação, clama há muito o barlavento por iniciativas que fazem jus à riqueza do pescado que medra e brinca nas suas águas.
As propostas foram surgindo, muitas mais se seguirão, mas o que o hotel Vila Vita Parc, em Alporchinhos, criou no Mizu Teppanyaki, no espaço outrora ocupado pelo Club House, tem um lançamento de nível estelar. Estelar é também o Ocean, logo aqui por cima, que está, como sabemos, preparado para receber a terceira estrela Michelin e que ele próprio louva o mar como poucos. Governa Isaulinda o conteúdo sólido, o líquido está entregue a Filipe Rocha, sommelier de pergaminhos confirmados, António Moniz é o chef de sushi, e a gestão do restaurante está entregue à biónica Vanessa Alves. Recomendar e servir vinhos numa casa em que os pratos apresentam uma banda larga de texturas e sabores é já em si mesmo um desafio, fazê-lo com esta mestria transforma em luxo toda a experiência. Isaulinda Pires inaugurou o Ocean na equipa de Hans Neuner e oficiou ali até à chegada da segunda estrela. Após a licença de maternidade voltou para liderar o Mizu. Impõe-se a avaliação inicial ao trabalho de cozedura pela lâmina que representa o sashimi (37 euros, 5 variedades), duas peças de cada.
O wasabi fresco é preparado à nossa frente e é delicioso, intensificando os sabores sem esmagar pelo picante, nota normalmente identificada na pasta comercial de wasabi. Dourada, pregado, barriga de atum, atum e salmão foi a oferta inicial de sashimi, genial a escolha do Crasto branco 2017, mais ainda a do Alfaiate branco 2015 para acompanhar a sequência de sushi (unagi maki, 9 euros e mizu maki, 32,5 euros) que se lhe seguiu, as tonalidades salinas e a copiosidade na boca a resolver todas as instâncias de forma competente. Assim dá gosto, talvez um dia o treino permita apreciar melhor a combinação com saké, que os há aqui de truz. Imaculado, o trabalho do sushi.
Aqui trabalha-se o fogo direto, e entrámos no departamento das brasas com secretos de porco ibérico (26 euros) processado nesse equipamento, ainda relativamente pouco conhecido, que dá pelo nome de robatayaki. Grelhamos e assamos carne há séculos e tinha de ser neste momento que aconteceu o pináculo do sabor, suculência e respeito. Com a assessoria de um copo de Envelope tinto 2015, deu para sentir como é o catering no paraíso. Aliás o paraíso propriamente dito.
A refeição ideal
Gyoza de frango, gengibre, mel (16 euros)
Tataki de atum rabilho (15,50 euros)
Usuzukuri de pregado (16 euros)
Seleção de 8 variedades de sashimi (58 euros)
Tempura de camarão-tigre (17 euros)
Robatayaki de secretos de porco ibérico (26 euros)
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