Crónica de Nuno Cardoso: O luxo veste-se de verde

Copenhaga. (Fotografia: Pixabay)
Em Copenhaga, eleita a cidade mais feliz do mundo em 2020, 25% de toda a sua área é coberta de parques e jardins públicos. Coincidência? Talvez não.

Tenho especial apreço pela cultura e identidade nórdicas. Há umas semanas, estreei-me em Copenhaga para celebrar mais um aniversário e rever amigos que lá vivem, fazendo uso dessa prática tão humana que é matar dois coelhos de uma cajadada. O que mais me surpreendeu foi a generosa quantidade de amplos parques e jardins públicos que coabitam na capital dinamarquesa, que não é assim tão grande em tamanho. É, de longe, uma das urbes europeias mais zonas verdes que já visitei. Anda-se uns metros e tropeça-se num espaço verde, uns metros à frente está-se noutro, e dez minutos depois noutro ainda. E por aí fora. Cada um mais bonito que o outro, equipados com lagos, palacetes, estufas, tulipas de todas as cores e limpeza acima da média.

Num maio soalheiro como o que estava em Copenhaga – e eles bem sofrem com o frio ao longo do ano -, era ver dinamarqueses em massa nos parques, com toalhas estendidas para piqueniques, de bebidas frescas na mão, à beira dos lagos, a correr, caminhar, a dar aos pedais em pequenos barcos ou em jogos de grupo que remontam a outros tempos. A verdade é que, nos últimos anos, o município tornou obrigatória a presença de um parque ou jardim a uma distância máxima de 15 minutos a pé para qualquer habitante, em qualquer zona da cidade. Isso leva a que 25% da área total da cidade seja verde. Em 2020, o The World Happiness Report colocou Copenhaga como a cidade mais feliz à escala global. Será uma inocente coincidência ou a relação causa-efeito? Pendo para o segundo.

Em Portugal, a ligação com os espaços verdes não só estreitou com a pandemia, como trouxe óbvios benefícios para a saúde mental. Um estudo de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, divulgado no ano passado, revela que 46% dos inquiridos aumentaram ou mantiveram a sua exposição às zonas verdes públicas, durante o primeiro confinamento, apresentando depois menores níveis de stress, perturbação psicológica e sintomas psicossomáticos. E é fácil perceber porquê.

Nem a propósito, um dos festivais que tem tido um papel fulcral em levar público aos pulmões verdes citadinos, ao longo da última década e meia, está de regresso. Pela primeira vez, o Out Jazz deixa Lisboa e aloca-se agora em Oeiras, levando concertos de jazz, funk e hip-hop, comida e boas vibes aos jardins do concelho, todos os domingos entre maio e setembro. Parque dos Poetas, Parque Urbano do Jamor, Parque Urbano de Miraflores, Jardim da Quinta Real de Caxias e Jardins do Palácio Marquês de Pombal são os palcos para a presente edição. Porque o luxo, cada vez mais, se veste de verde.




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