Crónica de Nuno Cardoso: Na terra dos Lumière e Bocuse

Lyon. (Fotografia: Pixabay)
Trocar as capitais pelas cidades secundárias é sinónimo de férias mais descontraídas, menos caras e com maior proximidade a quem lá vive.

Faltavam 30 minutos para abrir o check-in no hotel e, apesar do curto voo – de apenas duas horas, com a cada vez mais rara benesse de ter saído e chegado a horas -, a sede já ia apertando. O dia soalheiro, de céu limpo, pedia uma cerveja à pressão fresquinha e, vai daí, sentámo-nos na esplanada mais próxima do alojamento. Dois dedos de conversa com o dono do café, numa encruzilhada de português, francês e espanhol – ele é natural de Madrid mas vive aqui há largos anos -, e, sem sequer o pedirmos, escreveu numa folha de papel todos os locais que teríamos de visitar, e a lista descritiva de todos transportes que teríamos que apanhar – não foi preciso, que eu e os meus amigos gostamos de caminhar.

Mas não só. Colocou na mesa um cesto com uma baguete e um pires com fatias de rosette, o tradicional salsichão de Lyon, e fez questão de oferecer o petisco. Perguntou-nos sobre a Lisboa de hoje – “caótica, com problemas de mobilidade e habitação, custo de vida asfixiante, a rebentar pelas costuras de turistas”, etc, lá íamos atirando – e, à saída, apenas nos pediu uma coisa: que lhe enviássemos um postal de Portugal, ou não tivesse ele uma parede no café com dezenas de postais que recebe de clientes de todo o mundo.

O fim de semana passou num ápice, entre as visitas à neogótica Basílica de Notre-Dame e às ruínas romanas, ambas no topo da colina de Fourvière, depois de uma subida de mais de 200 degraus – existe um funicular, para os que não sejam teimosos, como nós; passeios pelas ruelas do centro histórico que é Património Mundial da UNESCO, onde dominam os tons salmão, laranja e rosa; a ida ao Jardim Botânico, de entrada livre, a alguns museus de arte e ao Mercado Paul Bocuse; e caminhadas nas margens do Ródano e Saône, os dois rios que banham a terceira maior cidade de França. Sem esquecer os frescos pintados em fachadas de alguns edifícios da cidade, que ilustram a prata da casa – os irmãos Lumière, pais do cinema, e o chef
Bocuse, entre outros.

Há claras vantagens associadas às capitais do mundo, que reúnem uma diversidade patrimonial, cultural e paisagística difícil de igualar. Mas nas minhas viagens, cada vez mais sou atraído para as cidades secundárias, menos caras, mais descontraídas, menos barulhentas, mais pitorescas, menos confusas, onde há mais tempo e menos pressa. E Lyon, comparada a Paris, é isso mesmo. Com outro bónus: não se tropeça em trolleys a cada vinte metros.




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