Crónica de André Rosa: É um privilégio

Monte Gordo (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)
O meu trabalho enriquece-me ao proporcionar-me um contacto único com pessoas e lugares e aprender sobre realidades que, de outra forma, poderiam não se cruzar no meu caminho.

Sempre que reflito sobre o meu trabalho ocorre ao meu pensamento a noção de privilégio. Não no sentido de me sentir mais que os outros ou de ter vantagens inacessíveis ao comum mortal. No sentido, sim, de considerar que o meu trabalho me enriquece ao proporcionar-me um contacto único com pessoas, lugares, histórias, ensinamentos e experiências a que – verdade seja dita, e sou o primeiro a admiti-lo – dificilmente teria acesso se tivesse qualquer outra profissão.

Sinto-me privilegiado por poder conhecer pessoas e histórias excecionais; por poder visitar lugares e sítios admiráveis; por poder aprender sobre temas, assuntos e realidades que, provavelmente, não se cruzariam no meu caminho; e por poder experienciar momentos e atividades que, pela sua essência ou valor, me enchem a alma de plena satisfação e gratidão.

Estas oportunidades têm-se somado ao longo do meu percurso na “Evasões” e a consciência que tenho disso faz-me sentir ainda mais grato ao universo. Quando me formei em Ciências da Comunicação (com especialização na vertente de Jornalismo), não sonhava vir a trabalhar num título de lifestyle, mas com o tempo vim a descobrir – talvez desde logo – que este tipo de jornalismo me realiza muito.

Portugal é um país pequeno, mas riquíssimo; cheio de pessoas admiráveis, de histórias, feitos e lugares que muitos nem sequer sonham

É um jornalismo de proximidade humana e territorial, que nos leva a correr o continente e as ilhas de norte a sul em busca de lugares secretos, histórias por contar e sabores por sentir. É um jornalismo para o qual os cinco sentidos são essenciais, para transportar o leitor para o local da ação, e em que a reportagem se confirma como o mais completo género jornalístico. Guardar num baú todo este património humano, material, imaterial (e às vezes até emotivo) é plenamente enriquecedor. Faz-nos crescer interiormente, pessoal e profissionalmente e torna-nos pessoas mais empáticas, tolerantes, sabedoras e vividas.

Há qualquer coisa de transcendente no momento em que, por via destas circunstâncias, chego a casa e conto com toda a paixão e entusiasmo aquilo por que passei (e aprendi) numa reportagem. Entusiasma-me a sensação de revelar, seja a uma ou a milhares de pessoas, histórias desconhecidas ou silenciosas, podendo dar-lhes o palco que merecem.

Nas reportagens da “Evasões” cruzo-me sempre com pessoas talentosas, perseverantes e visionárias, e que no anonimato fazem a diferença e acrescentam valor, ainda que o reconhecimento do seu trabalho não pareça ir além das quatro paredes onde o fazem. Há em todas elas um denominador comum: a generosidade com que me recebem, dando o tempo delas e partilhando os seus projetos, feitos de sonho, vontade e coragem.

É esta capacidade de impactar positivamente a vida das pessoas que me satisfaz e estimula, levando-me à noção de privilégio concedido pelo meu trabalho. Portugal é um país pequeno, mas riquíssimo; cheio de pessoas admiráveis, de histórias, feitos e lugares que muitos nem sequer sonham, e poder ter acesso a tudo isso, para o transmitir a um grande público, é incomparável e apaixonante.




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