Crónica de Ana Costa: Razões para sor(rir)

A vida tem-se mostrado uma comédia de enganos, a trocar-nos as voltas uma e outra vez. Assim sendo, mais vale que nos riamos. Façamos uma lista bem humorada de razões para não nos darmos por vencidos.

Diz a sabedoria popular que rir é o melhor remédio. A ciência comprova que, sendo o melhor ou não, tem as suas qualidades terapêuticas, tanto para o corpo como para a mente. Entre outros benefícios, rir promove a libertação de serotonina, um antidepressivo natural, e de endorfinas, hormonas responsáveis por criar sensações de bem-estar e prazer. Ajuda, por isso, a reduzir o stress e a ansiedade, maleitas tão bem conhecidas deste século.

Os entendidos recomendam 10 minutos de riso por dia, para alegrar o cérebro e equilibrar o organismo. Mas o sorriso (indispensável ao riso) e ainda mais a gargalhada fazem-se tímidos e reticentes nestes tempos sisudos. À pandemia juntam-se as preocupações de sempre, que não perderam força com a sua chegada, e quase soa a escárnio dizer que no meio desta intempérie há razões para se estar de bom humor.

A vida tem-se mostrado uma comédia de enganos, a trocar-nos as voltas uma e outra vez. Olá novo ano. Olá esperança. Adeus liberdade de circulação. Adeus Carnaval. Olá drama do teletrabalho/ensino à distância. Assim sendo, mais vale que nos riamos (não desvalorizando a seriedade e gravidade da situação).

Faltando ao que achar graça no momento, um riso provocado também serve o propósito. Nos anos 1990, o médico Madan Kataria começou a desenvolver técnicas de riso simulado que hoje são utilizadas por todo o mundo em aulas de yoga do riso, ou risoterapia, e podem ser aprendidas online.

Ainda assim, é bem mais divertido rir com vontade. Encontrar momentos de alegria no meio do desespero e da incerteza é libertador e não há alívio mais prazeroso que o de uma gargalhada espontânea ou um sorriso involuntário.

Filmes de comédia ou espetáculos de stand-up (disponíveis na internet), são fonte segura para muitas risadas, mas não a única. Há tempos, a devorar um livro dei por mim a sorrir compulsivamente. “Três Homens num Barco” conta a divertida viagem de três amigos pelo rio Tamisa, que tem tudo para correr mal, e corre, mas que não deixa de ser um elogio à vida ao ar livre, à amizade e aos afetos, às férias e às memórias. Tudo o que sentimos falta. Para me puxar um sorriso, a ironia e o sarcasmo resultam na perfeição, e a escrita de Jerome K. Jerome é pejada dessas virtudes.

Também é bom ter por perto uma lista de motivos para sorrir com satisfação, uma salgalhada bem humorada de razões para não nos darmos por vencidos: saúde (quem de momento se pode gabar dela); família, amor correspondido, o som embalador da chuva no conforto do ninho; uma asneira inofensiva e involuntária; um cozinhado que correu bem, ou um que correu mal; bolos; um kiwi doce; um sorriso retribuído; gatos; álbuns de fotografias; takeaway do restaurante preferido; vinho; planos; o cheiro a petricor; música; abraços (mesmo à distância); flores; uma piada, o riso contagiante de outra pessoa. Quaisquer que sejam as razões, o importante é não esquecer de sor(rir).




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