As tascas e casas de pasto fazem parte, de há muito, do cenário típico da gastronomia tripeira. Com a passagem dos tempos, com a exigência dos clientes e o custo dos produtos de qualidade a aumentar, a graça de alguns destes lugares foi-se esvaindo, o próprio serviço passou de castiço a vulgar e muitos desses espaços tornaram-se incómodos. Outros souberam evoluir, renovando- se, não raramente perdendo na transição aquilo que era a sua velha identidade.
Mas é a vida!, como dizia já não sei quem. Há muito que eu deixara de ouvir falar na Adega São Nicolau, onde, nos anos 60 do século passado, ainda a Ribeira não estava na moda, se ia por pratos simples e baratos da culinária nortenha, regados quase sempre a verde tinto. Tenho na memória um balcão com gente encostada e as sardinhas que por lá se comiam, nas noites de São João.
E seria outra vez num São João, há dois anos, que lá regressei, para um almoço de amigos. O espaço tinha mudado – e de que forma! Naquilo que era uma casa de pasto sem grandes comodidades, mão de arquiteto criou um espaço agradável, onde as madeiras claras se adaptaram às curvas do teto e um desenho novo consegue acomodar hoje, com conforto, uma boa trintena de clientes.
Lá fora, nas escadas que descem para a Ribeira, há quase o dobro dos lugares. E, ao que sei, a Adega prolonga-se já hoje nas proximidades, noutros modelos de oferta gastronómica e «líquida».
Fugimos às entradas, que aliás não surgem em excesso, colocadas na mesa com indicação honesta do seu caráter opcional. Por aí havia alheira frita, moira e espargos. Provaram-se apenas uns bolos de bacalhau, que não merecem nota particular.
A oferta de pratos do dia não era curta. Destacavam-se, nos peixes, o robalo, a dourada e os salmonetes. Mas havia também sardinhas assadas, bifinhos de atum e salmão grelhado, para além de um bacalhau à lagareiro que, em anterior visita, já havíamos experimentado, com sucesso. Desta vez, optou-se por umas gambas com molho de alho, muito saborosas, acompanhadas de batatas fritas às rodelas, muito crispy. Vieram também uns tenríssimos filetes de polvo, com o respetivo arroz.
Da memória da visita anterior haviam-nos ficado as saborosas costeletinhas de borrego e o fígado de vitela à portuguesa, então muito apurado. Ainda olhámos, como opção possível, o pernil de porco cozido com legumes e a vitela arouquesa assada no forno, mas haverá que fazer uma nova surtida para provar estes que nos dizem ser pratos em que a casa especialmente se apura. Por encomenda, é também possível vir a ter na mesa outras escolhas, tais como o capão recheado com alheira, a lebre em feijocas e vinho tinto e o clássico pica no chão em cabidela.
A lista das sobremesas não é longa. Apreciou-se o folhado de chila e seminaristas, bem como o quindim, de grande qualidade. Ficaram por testar o toucinho-do-céu e a torta de laranja.
Fez-se acompanhar a refeição por um excelente reserva tinto Vale da Raposa, 2011, de Domingos Alves de Sousa – esse produtor com crescente qualidade e sucesso, que acaba de inaugurar, na Quinta da Gaivosa, na estrada antiga entre a Régua e Vila Real, uma adega modelar, que pode e merece ser visitada.
A assistência às mesas é muito simpática, eficaz e prestável, sem outra pretensão que não seja ser agradável aos clientes. Um verdadeiro exemplo de profissionalismo. Se muitas casas de pasto, como não se cansa de apregoar um amigo portuense, «já não são o que eram», valha-nos a renovada e excelente Adega São Nicolau!
Adega São Nicolau
Rua de São Nicolau (Ribeira)
Tel.:222008232
Web: facebook.com/adegasnicolau
Horário: das 12h00 às 23h00.
Encerra ao domingo
Preço médio: 20 euros
Outras opções: alternativas, ambas no Largo de São Domingos, a 200 metros: o DOP (Tel.: 222014313), do chef Rui Paula, mais caro, e o LSD (Tel.: 223231268), para petiscar com qualidade, com preço similar
Publicado na revista Evasões de 27/11/2015