Alma Nómada, o restaurante que está a mexer com a gastronomia da Costa Vicentina

Este prime ribeye com 60 a 90 dias de maturação é um dos pratos do chef Ricardo Leite no Alma Nómada. (Fotografia: DR).
Eternizada pela célebre canção de Rui Veloso, a aldeia de Porto Covo está a mudar, mantendo o seu aura de paraíso, graças a quatro “nómadas” que trocaram as vidas que tinham em Lisboa por este lugar “onde as águas brilham como prata”.

José Costa e Ivone estão em Porto Covo desde 2008, ano em que ele trocou a direção de uma multinacional em Lisboa pela liderança do complexo hoteleiro Yelloh! Village Costa do Vizir, com bungalows e atividades de lazer, desporto e natureza. Já Ricardo Leite, de 39 anos, entrou no Alma Nómada como chef consultor em 2019, depois de ter estado seis anos residente no Loco, o Michelin de Alexandre Silva. A verdade, porém, é que se apaixonou pelo projeto e quis ficar ali.

Com ele, trouxe Inês Gomes, que conheceu no Loco e agora assume o serviço de sala do Alma Nómada. Ambos tomaram a decisão de se mudar para Porto Covo, podendo viver tão perto do local de trabalho quanto dos mergulhos no mar da costa vicentina. É a tal qualidade de vida de que tanto se fala e que permite, até à equipa, ir molhar os pés na praia e pescar quando se sentem mais tensos ou desconcentrados no serviço.

O chef Ricardo Leite. (Fotografia: DR)

A pandemia chegou entretanto, mas o Alma Nómada provou ter a resiliência necessária. Tanto José como Ivone, ligada à arte e publicidade, foram testemunhando a evolução das cartas do chef no sentido de uma maior sofisticação – com especial atenção à sazonalidade e ao uso de produtos locais – e aí surgiu a ideia de elevar qualitativamente o projeto como um todo, começando pela oferta gastronómica, em que Ricardo Leite se estreia como chef executivo.

O espaço, decorado com inspiração náutica e balnear, tem um serviço atento ao detalhe, mas não demasiado formal. A cozinha é “de autor e técnica bem executada”, segundo o próprio, e resulta de um percurso iniciado na área da Engenharia Informática. No último ano do curso na escola de cozinha Le Cordon Bleu, em Londres, Ricardo apresentou-se no Viajante, de Nuno Mendes, e abriram- se várias portas de trabalho em Londres, mas decidiu voltar para Portugal.

Nessa altura passou pelo Mensagem, Feitoria, Belcanto e Bica do Sapato, até se quedar seis anos no Loco, como chef residente. “Foi um período muito intenso e muito giro, em que tudo era fresco e desafiante”, recorda. Agora, no Alma Nómada, apresenta uma carta mais complexa, eclética e que reflete as suas ligações rurais a Trás-os-Montes, onde passou os verões em criança e tomou consciência do valor do que é local.

Praticando essa filosofia, abastece-se de peixe na lota de Sines e de hortofrutícolas de quintas da região. O porco e borrego são alentejanos, mas a carne de vaca, em peças com 60 a 90 dias de maturação, vai buscá-la ao Minho por considerar que tem mais qualidade. É o caso do prime rib-eye “Cowboy Kobegal”, acompanhado de batata frita rústica e salada coleslaw, para duas pessoas; e do tártaro de rubia minhota maturada com maionese fumada, taco de milho real e gema curada.

(Fotografia: DR)

Com a frescura do mar, há propostas como ostra com tutano, molho ácido, maçã verde e gramata branca; e cavala curada com maionese de miso, crocante negro de tapioca, pistácio e dashi avinagrado (um caldo para beber ao mesmo tempo). Outros ingredientes nobres nacionais, como o polvo, o bacalhau ou salmonete, também têm lugar, assim como ervas aromáticas, pão de fermentação lenta e frutas e vegetais biológicos. A pêra, por exemplo, é servida como sobremesa, em sorbet e granizado com creme de cardamomo verde e baunilha de São Tomé, camomila e
bolacha de miso. Um porto de valores seguros na costa alentejana.

 

Carta de vinhos
A carta de vinhos do Alma Nómada tem cerca de 200 referências, a maioria de vinhos biológicos, biodinâmicos e de pequenos produtores. Ancorado na restauração de qualidade, o projeto hoteleiro prevê renascer como eco-resort daqui a uns anos.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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