Ponte de Lima: o famoso arroz de sarrabulho da Casa Borges

Ponte de Lima: o famoso arroz de sarrabulho da Casa Borges
Casa Borges, Correlhã, Ponte de Lima. (Foto: Paulo Jorge Magalhães/GI)
Maria Gracinda Pelote, bem conhecida muito mais além da Correlhã, em Ponte de Lima, como Dona Cinda, criou este templo do minhoto arroz de sarrabulho com rojões em 1972. Partiu no ano passado, deixando um rasto de saudades e devoção, e os filhos ao leme da Casa Borges.

Vasco, Clara e Aníbal (Zeca) Araújo, filhos de Maria Gracinda, agora cada um com seu restaurante, incentivados pela mãe porque não os queria “a trabalhar para outros”, fazem questão de dar continuidade ao seu legado: cozinhar um impecável arroz de sarrabulho minhoto, que leva àquela porta na Correlhã gerações de apreciadores. A Casa Borges fundada em 1972, junto à Estrada Nacional 203 (margem norte do rio Lima), pouco ou nada se alterou desde então. Nem o espaço em si, salvo algumas necessárias modernizações; e muito menos o seu prato rei, que é o único na ementa (embora exista uma alternativa).

É a filha Clara Araújo, que juntamente com o marido Filipe da Fonte, gere a casa-mãe mantendo tudo como dona Cinda deixou. Até a cozedura das carnes em grandes panelas ao lume com a lenha à vista e a crepitar para o cliente ver. “A lareira foi sempre ali onde está agora”, garante Vasco, o filho mais velho, com 50 anos, proprietário de uma outra casa, mas que nos conduz pela história da matriarca, porque a irmã Clara prefere viver no recato o luto pelo falecimento da mãe, aos 74 anos, ainda muito recente.

A cozinha tradicional minhota serve à mesa nesta casa emblemática. (Fotografias: Paulo Jorge Magalhães/GI)

Filipe da Fonte e Vasco Araújo, dois dos responsáveis pelo espaço.

Vasco Araújo conta que o restaurante surgiu na sequência da passagem por ali de um grupo de caçadores, nos anos 70 do século passado, que perguntou a Maria Gracinda onde havia um sítio para comer, após as caçadas. A então dona do talho respondeu que, naquele dia não poderia, mas da próxima vez, se combinado, lhes prepararia uma comida com as carnes da casa.

“Foi daí que nasceu esta paixoneta pelo sarrabulho. Até aos últimos dia da vida dela, a sua paixão foi sempre cozinha”, diz, recordando que depois disso os porcos criados naquela casa passaram também a alimentar os cozinhados da dona Cinda. A Casa Borges assumiu o nome de uma antiga mercearia, que existia ao lado, e acabou por se tornar um ícone no roteiro gastronómico de Ponte de Lima, com a figura de dona Cinda , a sua gentileza austera e o seu perfecionismo, a preencher as memórias de gerações.

O restaurante Casa Borges surgiu na Correlhã na década de 70.

O filho mais velho explica a singularidade da sua cozinha: “Quando se fala no sarrabulho da minha mãe, é o sarrabulho da aldeia da Correlhã, porque aqui os lavradores fazem-no com tudo o que o porco dá. Essa é uma forma diferente de fazer. E o segredo é a alma da pessoa que confeciona”, afirma com um brilhozinho nos olhos, que, aliás, assoma sempre que refere o nome de Gracinda. “Além de boas mãos para o confecionar, ela tinha uma paixão muito grande e entregava tudo para que as pessoas saíssem felizes da sua casa e quisessem voltar”, refere.

Filipe da Fonte, genro, que comanda a sala da Casa Borges, afirma que ainda hoje se sentam naquelas mesas clientes, quase tão antigos quanto o estabelecimento. E que a saudade de dona Cinda se manifesta a cada passo. “Os clientes falam dela com os olhos molhados”, diz. De fazer crescer água na boca, é o arroz do Sarrabulho,carregado de carne desfiada, e acompanhado com batatas alouradas e por belos rojões, belouras, tripa enfarinhada, chouriças de cebola e verde, coração e fígados do porco. E depois de ouvir a história de dona Cinda, é impossível não associar o prato a quem o criou.

 

O prato-estrela
Arroz de sarrabulho
De fazer crescer água na boca aos apreciadores, este poderoso arroz de sarrabulho minhoto é feito bem carregado de carnes desfiadas, com o caldo a levar sangue de porco no tempo certo. Serve-se acompanhado por batatas alouradas e belos rojões, belouras, tripa enfarinhada, chouriças de cebola e verde, coração e fígados do porco. Depois de conhecer ou ouvir falar de Dona Cinda, é impossível não associar o prato à personalidade forte de quem o criou.

O arroz de sarrabulho da casa.

O leite-creme é a sobremesa por excelência do restaurante.

Leite creme
Além do prato da casa, a sobremesa por excelência da “Casa Borges” é um leite-creme, servido com crosta de açúcar queimado, que mesmo quem não aprecia Sarrabulho, vai querer voltar ali mais que não seja pelo doce. É também confecionado segundo a receita original de Maria Gracinda Pelote.

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Mapa da ficha ténica
Morada
Rua do Carvalho, Correlhã, Ponte de Lima
Telefone
258942442
Horário
Segunda, terça e quinta, das 12h às 15h. Sexta e sábado, das 12h às 15h e das 20h às 22h. Domingo, das 12h às 16h. Encerra quarta.
Custo
() Preço médio: 18 euros.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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