República Dominicana
«É uma festa da comunidade»
Dionicio Santiago está em Portugal há cerca de sete anos e, desde maio de 2012, assume a cozinha daquele que é, até à data, o único restaurante em Portugal de raiz caribenha dedicado à gastronomia típica da República Dominicana. Situado em Linda-a-Velha, o Recuerda Amor é um espaço alegre e convivial, como o são também as recordações que Dionicio guarda dos Natais vividos na sua terra-mãe.
Na República Dominicana, apenas as crianças recebem presentes nos dias 24 ou 25 de dezembro, ficando o mais importante para o Dia de Reis. O Natal não passa em branco, mas é vivido de um outro modo. Na quadra natalícia à portuguesa, o chef dominicano rendeu-se ao nosso cabrito — «não sou muito apreciador de bacalhau», confessa — e perde-se por doces da época, mas não esconde uma certa nostalgia pelos Natais à moda do Caribe: «É um momento para desfrutar a vida, com muita alegria, muita comida, muita bebida… Como faz calor, as pessoas vão para a rua, onde há sempre música alta, e andam de casa em casa. Não é apenas uma festa de família, é uma festa com os amigos, os vizinhos. É uma festa da comunidade, da partilha.»
Embora seja tudo muito mais simples e não se possa falar propriamente em pratos ou doces natalícios, o interesse está em que cada pessoa ou família, por regra, apenas prepara uma iguaria, fá-lo é em grandes quantidades, pois manda a tradição que nesses dias se vá de lar em lar e se ofereça um pouco aos amigos e parentes.
Recuerda Amor
Avenida 25 de Abril de 1974, 5 Loja A, Linda-a-velha.
Tel.: 214193550
Web: recuerdaamor.pt
De terça a sábado, das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h00.
Preço médio 10 euros (almoço), 17,50 euros (jantar)
Síria
«Ortodoxos ou católicos, todos gostamos de comer»
Sebouh, sírio de Aleppo, é cristão ortodoxo, mas andou na escola católica, por causa da sua avó. Na família, convivem estes ramos do cristianismo e comem-se muitos pratos diferentes nesta época de Natal (que ele celebra em janeiro) e no fim do ano. «Uns são ortodoxos e outros católicos, mas todos gostam de comer», diz o dono do restaurante com o seu nome – Sabores do Sebouh – que abriu no Porto, com a mulher portuguesa, Célia, trocando a carreira de ourives pela cozinha.
Na carta convivem pratos de inspiração síria, libanesa, grega e turca, tudo feito por ele. Bolinhos de bulgur com carne, mortadela caseira, frango cozido recheado e peixe-gato do Eufrates são alguns dos pratos à mesa na época festiva, e ainda estes dois que Sebouh preparou para a Evasões, um arroz com carne e frutos secos de origem otomana e kunefe, um doce feito com massa kadaif e nozes… e manteiga açoriana («a melhor de todas», diz Sebouh).
Sabores do Sebouh
Rua Miguel Bombarda, 34 (Cedofeita), Porto.
Tel: 933446790.
Web: facebook.com/Sabores-do-sebouh
Das 13h00 às 23h00.
Preço médio: 12 euros
Moçambique
«Passamos a noite em churrascos e a dançar»
Em Moçambique, o Natal calha no verão, por isso «há sempre marisco com fartura», diz Orlanda Barbosa, conhecida como Tia Orlanda, o nome do restaurante que abriu, nas Taipas, há quatro anos, depois de se consagrar como cozinheira no bar da Associação Porto-Moçambique e, antes disso, ter sido empregada doméstica, costureira, jardineira e telefonista. Em boa hora, decidiu dedicar-se a uma carreira que nem a mãe, enfermeira, percebeu que lhe corria nas veias. Mas a verdade é que esta moçambicana de 51 anos, nascida em Maputo numa família da Zambézia, sempre esteve fortemente ligada à sua cultura, mesmo a viver no Porto (de onde é o pai) desde os 14 anos e nunca ter voltado ao seu país natal. Rendeu-se ao bacalhau porque o marido, português, adora comê-lo.
É muito simples, porém rico, o prato de camarão-tigre grelhado que escolheu partilhar e que se faz com frequência em Moçambique, quando as famílias regressam da missa do galo e passam a noite «a fazer churrascadas e a dançar». O jantar, antes da missa, faz-se com leitão, cabrito e peru assados. Os doces são de inspiração portuguesa: rabanadas, arroz-doce e sonhos
Tia Orlanda
Rua das Taipas, 113 (Clérigos), Porto.
Tel: 914622823.
Web: facebook.com/tiaorlandasaboresmocambicanos
Das 12h00 às 15h00 e das 19h30 às 23h00. Sexta e sábado até às 00h00. Encerra terça.
Preço médio: 15 euros
Jugoslávia
«A comida era deliciosa e comia-se muito»
Nos muitos anos que leva em Portugal – em que abriu restaurantes, casou-se, teve filhos, escreveu livros e participou em programas de televisão, Ljubomir Stanisic, ou apenas Ljubo como quase todos o tratam, sempre fez questão de se dizer jugoslavo. Por mais que a Jugoslávia não exista a não ser nos livros de História e na memória dos que têm idade para se lembrar e contar como foi.
Pela primeira vez, nem de propósito, Ljubo vai realizar no dia 6 de janeiro, que coincide com o Natal ortodoxo, um jantar especial no Bistro 100 Maneiras, em Lisboa, para celebrar a data de uma forma plural: «Vou ter a minha mãe, que é bósnia e celebra o Natal ortodoxo, a minha irmã, um primo, uma amiga croata… Quero juntar todos e com eles preparar uma ceia que, tal como a antiga Jugoslávia, seja ao mesmo tempo católica, ortodoxa, muçulmana.»
Ljubo cresceu entre Belgrado, na Sérvia, e Sarajevo, na Bósnia. Com o seu habitual humor, se lhe perguntarmos qual é a recordação mais viva que guarda dos seus Natais por lá, a resposta não desaponta: «Lembro-me da fechadura do carro congelada, porque nesta altura do ano sempre faz uns 15 graus negativos.» A par da família, os amigos sempre tiveram um papel importante nessas tradições: «A comida era deliciosa… comia-se muito, bebia-se muito… e recordo-me das casas serem muito mais quentes do que aqui», acrescenta. Não que se queixe. Plenamente adaptado aos nossos hábitos, Ljubo não se faz rogado na mesa de Natal à portuguesa: «Gosto de tudo, do bacalhau, dos grelos, dos sonhos… sou louco por sonhos!»
Dos pratos que vai servir no seu Natal «jugoslavo», o chef do 100 Maneiras destaca a sarma, uma receita de repolho recheado que se encontra muito na Croácia. Llubo descreve-a como uma couve que fica a fermentar por um mês, sendo depois lavada e recheada com um refogado onde vai cebola, sal, pimenta, colorau, ovo, vegetais e carnes. De seguida, a couve recheada, acompanhada por carnes fumadas à volta, pode ir cozer por seis horas num tacho ou, como faz a sua mãe, ir assar ao forno por 12 horas. Mas porque nem todos somos o Ljubo – ou a mãe do Ljubo –, sugerimos uma versão alternativa, fácil de preparar. Para sobremesa, baclava, um doce que os turcos ajudaram a difundir no império otomano e cuja receita é fácil de encontrar.
BISTRO 100 MANEIRAS
Largo da Trindade, 9, Chiado.
Tel.: 910307575.
Web: restaurante100maneiras.com
De segunda-feira a sábado, das 19h30 às 02h00.
Preço médio: 40 Euros