Este restaurante começou em 1985. Eu vim para aqui como empregada de mesa, isto na altura era o Jerónimo. Casei com o filho do patrão, as pessoas apaixonaram-se por mim e hoje não é o Jerónimo, é a Noélia”. Noélia Jerónimo, 49 anos, resume assim as mais de três décadas de história desta casa, como se a história não merecesse ser contada com maior detalhe e não tivesse sido atravessada por uma pandemia que causou cinco casos positivos de Covid-19 no restaurante e a deixou internada no hospital. Recuperada, a cozinheira reabriu as portas ao público no dia 21 de agosto, entre flores e muita emoção, e deste então o Noélia & Jerónimo cavalga de novo a onda do sucesso que se tornou em Cabanas de Tavira, à beira da Ria Formosa.
A fama (e a fila de pessoas que lá vão à hora de almoço tentar a sorte sem reserva prévia) precede a casa e o rosto que se autointitula “a cozinheira dos chefs”. “São meus amigos, tenho com eles uma relação de amizade, dos mais aos menos famosos”, conta Noélia sem sombra de vaidade. Elogiam-na “pelo tempero, a mão, o amor com que se faz as coisas”. E a amizade estende-se aos clientes que desde há 35 anos visitam o restaurante.
Na altura, era uma pastelaria e pizaria e só se chamava Jerónimo. Em 2007, passou para mãos de Noélia e “as coisas foram acontecendo” de forma natural, tanto na evolução do espaço onde trabalha 16 horas por dia com 15 pessoas, como na sua carreira marcadamente autodidata. “Ninguém me ensinou nada. Aprendi a pôr as mãos na massa e a ler muitos livros de receituário tradicional português”.
No fundo, foi aquilo que começou por cozinhar, criando motivos de peregrinação ao Algarve para gentes de todo o país: as pataniscas de polvo com arroz de coentros, a emblemática corvina com arroz de limão e amêijoas, o arroz de carabineiro com espargos, o atum braseado com arroz de gengibre e manga, entre outras especialidades de peixe e marisco que dão forma a uma cozinha mediterrânica e ancorada nos produtos frescos dos mercados de Tavira e Olhão.
Na carta também há ostras e amêijoas da ria e são de provar, ainda, as várias sugestões diárias como tártaro de carabineiro com laranja e tapa de muxama de atum com figos. E ainda que a sala interior seja desconfortável e o serviço pouco personalizado, a qualidade do que chega à mesa deixa vontade de regressar a este que é, para muitos, um dos melhores restaurantes do Algarve.
O prato-estrela
Corvina com arroz de limão
Noélia já perdeu a conta aos anos que cozinha esta especialidade, seja com corvina, pargo, garoupa ou robalo. O segredo está em adicionar o limão no início e ir “mexendo o arroz para ele libertar amido”, o que lhe dá a cremosidade tão característica. O prato tornou-se tão célebre que a receita até “está na Internet” e é replicada em vários restaurantes algarvios.
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