Foram os muitos pedidos dos clientes para que Jeny Sulemange lhes desse receitas dos pratos do Cantinho do Aziz, o mais antigo restaurante moçambicano de Lisboa (e provavelmente o mais carismático), que a levaram a dedicar-se ao livro “Cozinha moçambicana”, que agora chegou às livrarias. “Queria tê-lo feito há mais tempo, mas sempre adiei”, disse a chef. Estão no livro, por exemplo, as suas famosas chamuças, mas ali há muito mais do que receitas.
“Este livro conta a minha história”, assume a chef, que viveu até aos 22 anos em Moçambique, até a sua vida se cruzar com a do marido, Khalid Aziz, filho do fundador do restaurante, perto do castelo de São Jorge. No livro, tanto nos capítulos iniciais como junto às receitas, pode-se ir lendo e saboreando, como num romance, pedaços da história do casal Sulemange – Aziz. Desde a paixão da Jeny-menina pela cozinha, até à aventura do casal em Inglaterra (para onde estão a expandir a marca Cantinho do Aziz) até ao regresso a Lisboa e à recente incursão americana.
Há histórias deixadas como ternos bilhetes junto a cada receita, adicionando-lhe outra suculência. Jeny conta, por exemplo, como a sua muamba macua (o povo macua é dominante no norte de Moçambique, onde Jeny tem a sua origem) nasceu em virtude dessa herança cultural e ainda de uma viagem à Bahia, no Brasil.
Há ainda a receita da yuca miamba (mandioca com camarão), inventada pela sogra Farida; o “piri piri sacana” que faz com as malaguetas cultivadas pelo pai e muitas outras especialidades cheias de histórias – os pratos de festa moçambicanos, os pratos de saudade de Jeny, os bolos com as receitas que a avó lhe deixou, os petiscos populares que ela reinventou, sobremesas e bebidas populares, como as nipas (aguardentes).
Todas as receitas são de pratos que Jeny cozinha no restaurante Cantinho do Aziz, em Lisboa.
Fotografia: DR
Há cerca de 40 receitas e todas são de pratos que Jeny cozinha no Cantinho do Aziz, e que a a chef garante poderem ser feitos em casa, mesmo sem os produtos que ela usa, importados de Moçambique. “Pode-se trocar a folha de mandioca por folha de couve”, assegura a autora.
Jeny, que foi adiando a obra, acabou por lançá-la numa altura em que a sua vida se tornou mais ocupada, com a gestão de um restaurante em Leeds (Inglaterra) e as crescentes solicitações para ir cozinhar nos Estados Unidos. É um país para onde vai com o marido muitas vezes, desde que o êxito dos restaurantes pop up que abriram em Nova Iorque os levou a replicar a experiência em Nova Jersey.
A consagração chegou quando Jeny Sulemange foi convidada a cozinhar na James Bears Foundation, em maio passado. A fundação, com sede em Nova Iorque, foi criada em 1986 para homenagear aquele cozinheiro, professor e divulgador de culinária – e passar por lá é prestigiante. “Foi uma noite muito bonita”, assinalou Jeny, que preparou um menu com chamuças, gambas wa malu malu, frango à zambeziana, miamba macua e bakra piri piri, que foi acompanhando com alguns vinhos portugueses, e até um licor de ginja.
Cozinha Moçambicana
De Jeny Sulemange
Arte Plural Edições
128 páginas
PVP: 17,70 euros
O restaurante de Lisboa
O livro conta com receitas do Cantinho do Aziz, onde Jeny Sulemange trabalha como chef desde 2013, a tempo inteiro.
Longitude : -9.13572679999993
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