Francisco Siopa: “Temos que perder o receio de que o chocolate faz mal”

Francisco Siopa. (Fotografia: DR)
Francisco Siopa, chef pasteleiro do Penha Longa Resort, é o curador do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, que sopra 20 velas e termina no domingo. O mesmo certame que mudou a sua vida, profissional como pessoal.

Come chocolate todos os dias, é apaixonado pelo cacau desde sempre e é o curador do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, que termina este fim de semana, 1, 2 e 3 de abril, na vila medieval. Um convite irrecusável para Francisco Siopa, chef pasteleiro do Penha Longa Resort [em Sintra, onde tem agora folar, amêndoas e ovos da Páscoa] e criador da marca The Chocolate by Penha Longa, já que foi este certame que mudou a sua vida profissional e pessoal. Até domingo, há bancas para provar e comprar, showcookings, corridas, caminhadas, prémios, animação infantil e estátuas, tudo para fazer brilhar o cacau. A celebrar 20 anos, o festival já recebeu dois milhões de visitantes.

Já afirmou que tem uma ligação especial ao festival. De que forma?

Existe uma ligação pessoal e profissional. Quando vim, em 2005, foi um ano de viragem na minha vida, o despertar para aquilo que sou. Foi o primeiro contacto com o chocolate em si, nas esculturas que fizemos. Foi lá que comecei a aprender a trabalhar o chocolate e também o local onde conheci a mãe dos meus filhos.

Como foi fazer a curadoria do festival?

O desafio proposto foi o de mudar o paradigma do evento, dar uma roupagem nova. Este ano, temos o tema dos loucos anos 1920. Muita animação de rua, música, vamos abrir ao longo da vila inteira, para termos mais espaço. É a primeira vez que temos as quatro principais marcas de chocolate em Portugal para profissionais, numa grande tenda onde vão explicar o processo de produção.

Que outras novidades há este ano?

Temos showcookings que são uma montra para a juventude, com pessoas que ainda não são reconhecidos. Queremos mostrar talentos promissores. O Jorge Mimoso, um dos melhores barman nacionais, estará a fazer cocktails, alguns com chocolate, e temos três prémios nesta edição, para melhor bolo de chocolate amador, melhor ementa de restaurante local e melhor produto que encontrarmos nas bancas do festival.

Desta vez, existe uma maior proximidade ao público mais novo.

Sim. Vamos recriar uma mega fábrica de chocolate onde entram com os pais e assistem ao processo de produção, em vídeos, desenhos, etc. Queremos que os pais passem um bom bocado com os filhos.

O chef pasteleiro do Penha Longa Resort. (Fotografias: DR)

Como vê a relação dos portugueses com o chocolate? Somos um povo chocolateiro?

Não somos. O consumo médio em Portugal está nos dois quilos por pessoa, por ano. Na Suíça, por exemplo, está nos doze quilos. Cá, chocolate mesmo real, falamos de 200 gramas por mês. Depois temos o genérico, de fraca qualidade, muito usado no comércio. Temos que perder o receio de que o chocolate faz mal. O negro e verdadeiro faz bem à saúde e tem benefícios. Agora, não é aquele genérico que sabe a sabão.

A paixão pelo cacau vem desde sempre. Que primeiras memórias tem?

Lembro-me que a minha avó me dava uma moeda de 50 escudos e a primeira coisa que eu fazia era ir ao supermercado, antes de apanhar o autocarro, e comprar uma barra de 200 gramas. Era o meu lanche até chegar a casa.

O novo folar de Páscoa do Penha Longa.

É mesmo verdade que não consegue passar um dia sem chocolate?

É verdade. Como 200 gramas de chocolate por dia. É uma coisa inata. Não tenho vícios, só o chocolate.

Se tivesse que criar um bombom que o descrevesse, como seria?

Usava o Gold, da [belga] Callebaut. Sou viciado nesse chocolate branco com caramelo salgado e flor de sal. No recheio, usava algo que criei há uns anos, com ovas de sardinha. Não só porque sou da Ericeira, vila piscatória, mas por ser mais estranho e difícil de agradar. É isso que gosto de provocar. Não tenho que agradar a todos.

Festival Internacional de Chocolate de Óbidos:

Vila de Óbidos. Das 11h às 23h. Domingo, até às 20h. Preço: bilhetes desde cinco euros. Gratuito até aos três anos.




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