A extensa obra de Camilo Castelo Branco não é parca em referências a comida. Livros como “Eusébio Macário”, “Coração, Cabeça e Estômago” ou “A Brasileira de Prazins” são disso exemplo. E é mesmo neste último romance que o chef Renato Cunha, do restaurante Ferrugem, na Portela, Famalicão, se inspirou para criar o seu Menu Camiliano.
O desafio foi lançado pelo Centro de Estudos Camilianos – Casa de Camilo, que se dedica à preservação e divulgação da obra do autor, gerindo também a casa onde o escritor viveu as últimas décadas da sua vida, em São Miguel de Seide, e a rota camiliana, que fica assim enriquecida com um restaurante. «Convidaram-me antes das férias e quando voltei já tinha propostas a mostrar», explica o chef que, embora baseando-se na Brasileira de Prazins não deixou de fora outras referências, mas sempre tudo inspirado em Camilo e na cozinha regional do Minho.
Quem pedir o menu camiliano receberá na mesa uma carta onde do lado esquerdo se transcrevem as passagens que motivaram os quatro momentos da refeição.
Quem pedir o menu camiliano receberá na mesa uma carta onde do lado esquerdo se transcrevem as passagens que motivaram os quatro momentos da refeição. As sardinhas em escabeche, que no livro aparecem a ser devoradas por um falsário que se faz passar por um D. Miguel esfomeado – «Sardinhas de escabeche? Se gosto!… Vamos a elas, que estão a dizer – comei-me» – é o primeiro momento, seguindo-se ao prelúdio composto por pão, pataniscas e presunto de porco bísaro. As sardinhas são marinadas previamente e braseadas no momento, acompanhadas por um chutney de cebola e compota agridoce de pimento.
Os aromas tradicionais continuam no caldo de feijoca que se segue. Depois, limpa-se o palato com uma mousse de limão e genebra para preparar o terceiro momento: galo de raça amarela e arroz carolino. Tudo embrulhado num arroz de cabidela muito equilibrado e cremoso. A sobremesa é um arroz doce especial. «É uma mistura de arroz doce com leite creme», diz o chef que não se abstém de esclarecer um dos truques: triturar o arroz, para lhe dar uma textura próxima do creme. O remate é feito com café e um quadradinho de toucinho do céu.
Quem quiser harmonizar com os vinhos sugeridos pelo chef, terá uma experiência mais completa, pois as três sugestões, incluindo um porto, foram escolhidas a dedo de pequenos produtores. O primeiro é o regional minhoto branco Vinha da Bouça. Para acompanhar o segundo e o terceiro momento, sugere-se o verde tinto Pardusco Private. O Cottas Porto Tawny fica para a sobremesa. E chega ao fim o «copioso almoço», como diria Camilo.
Longitude : -8.44801355145114
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