Crítica de Fernando Melo: Solar dos Nunes

Restaurante Solar dos Nunes em Alcântara, Lisboa. (Jorge Amaral/Global Imagens)
Foi dos primeiros a reabrir e foi por força do confinamento que suspendemos a publicação da crítica que estava no prelo. Tirando a nova topologia do arranjo das mesas está como dantes e ainda bem. O Solar dos Nunes acrescenta até mais um predicado ao seu estandarte, a resiliência.

Entramos num restaurante e raramente percebemos que estamos a entrar numa empresa e no entanto é exatamente isso que é, antes de tudo. Os três meses de interrupção forçada que o combate ao covid-19 implicou no seio de um setor já de si soçobrante vai ter um efeito devastador. Muitas casas não voltarão a abrir portas, outras terão de dispensar empregados, outras ainda verão a sua atividade fortemente restringida por motivos económicos. Para já contudo temos motivos para estar em festa com a reabertura ritmada e sustentada dos pequenos templos de cada um. Gostamos, queremos e precisamos de nos entregar nos braços revigorantes de um restaurante, pelo que não podemos desejar senão que a maioria consiga prosseguir em força nas suas venturas.

Desde que abriu em 1988 que o Solar dos Nunes é um clássico da cena lisboeta e nunca se lhe sentiu sequer ponta de adolescência. José Nunes fundou com o filho José António – Zé Tó – um restaurante de vocação intemporal, misto de andaluza e castiça alfacinha, cardápio variado e evocativo do Alentejo. Volvidos 9 anos do desaparecimento do fundador, Zé Tó assumiu o leme, juntando-se-lhe mais tarde a irmã Susana e a mulher, Cristina.

O chef José Medeiros oficia impante e brilhante na cozinha, produzindo com gosto e garbo pratos de sempre, como é o caso da canjinha de garoupa com amêijoas (21 euros), contraponto perfeito de texturas à boa maneira alentejana, de resto como a excecional açorda de alho com bacalhau (15,50 euros) e o inspirado caldo de robalo com poejo (21 euros). Dão bem para duas pessoas, pelo que se deve pensar num prato de carne para avançar sem hesitações na refeição, que a casa não deixa ninguém partir insatisfeito. Cabritinho frito com alecrim (21 euros) é uma opção de luxo e o entrecôte de novilho fatiado na tábua (24 euros) apetece sempre e é processado no ponto de cozedura escolhido.

A empreitada petisqueira no capítulo das entradas pode no entanto ser mais apelativa na canícula do que os dois pratos de peixe e carne. Um pratinho de presunto ibérico 5J (16 euros) cortado a preceito pode apetecer mais e gulodices como a saladinha de polvo (5 euros) e ovos mexidos com farinheira (6 euros) podem ser bem-vindas. Há que reservar espaço na alma e no estômago para as doces terminações, destaque para a encharcada de Mourão (5 euros) e para o arroz-doce da Avó Luísa (4,50 euros). Deste solar de porta franca saímos sempre restaurados.

A refeição ideal
Pratinho de presunto ibérico 5J (16 euros)
Ovos mexidos com farinheira (6 euros)
Canjinha de garoupa com amêijoas (21 euros)
Cabritinho frito com alecrim (21 euros)
Encharcada de Mourão (5 euros)

Solar dos Nunes
R. dos Lusíadas 68, Lisboa
Tel. 213647359
Segunda a sábado, das 12h à 01h. Encerra domingo.
Preço médio: 32 euros




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