Crítica de Fernando Melo: restaurante Páteo Real, em Alter do Chão

Sobremesa da sogra, no restaurante Páteo Real. (Fotografia: DR)
Passou pelo Bistrô 100 Maneiras em Lisboa e pelo Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte, antes de se entregar de corpo e alma ao projecto próprio do Páteo Real. O jovem chef Filipe Ramalho regressou às suas raízes e veio para ficar.

Dos muitos postulados que a deambulação restaurativa me foi estabelecendo, chego particularmente ao peito o do regresso às raízes. Falo dos chefs que após períodos brilhantes e bem remunerados de desempenho em cozinhas de primeira linha optam por voltar aos lugares de infância e felicidade, não por desilusão mas porque sentem o apelo de se dedicar à sua terra. Filipe Ramalho é de Vaiamonte, quase ao lado de Alter do Chão, e fez exactamente isso, para gáudio dos seus conterrâneos. E de todos nós, está bom de ver.

Abre-se formalmente o jogo com a belíssima tarte de farinheira de castanha com pêra bêbeda (4,50 euros), originalidade assistida pela prodigiosa Salsicharia Canense, ali bem perto, e assessorada por pêra rocha do oeste. Numa próxima investida, quero provar a farinheira sozinha, cozida a preceito, a gula não me deu tempo para mais e o que posso dizer é que gostei mais da surpresa do que do gosto. Rendição absoluta à salada de tomate com cabeça de xara (8,50 euros) que se seguiu, o preparado prensado obra das mesmas mãos que produziram a farinheira do episódio anterior, a fazer-me tomar nota do nome da D. Octávia para no tal regresso não me escapar, a minha admiração dirige-se contudo ao difícil exercício de simplicidade do chef Filipe Ramalho, ao convocar tomate da horta e pickle de cebola para a pérola entradeira, uma delícia.

(Fotografia: DR)

Vieram também pimentos assados com toucinho (6 euros) que não desmereceram. Já nos pratos principais, mantém-se a lógica da simplicidade, atestada logo por um clássico da casa, a galinha do campo tostada (14 euros). Saborosa e copiosa, a evocar os pratos de matriz caseira que nos fizeram sobreviver até aos dias de hoje, o piso de alho e coentros a dançar alegremente com o vinho branco Papaleite que entretanto abrimos.

Ainda bem que fui teimoso e arranjei espaço para acomodar o também clássico do Páteo Real arroz de borrego (16,50 euros), ia com ele no pensamento e não podia falhar. E não falhou mesmo, o borreguinho desfiado e entalado no forno sobre arroz amarelo com açafrão de Alter e paio do cachaço. Alternância cuidada e provocada de texturas e sabores, não fosse o chef de alta escola.

No derradeiro capítulo, fui pelas sobremesas da sogra (3,50 euros), havia nesse dia uma tarte de amêndoa e gila que fiz muito bem em não deixar fugir. À boa maneira alentejana, deixei-me ficar e fui até ao pátio exterior fazer as honras a um digestivo caseiro e ao vezeiro café. Depois, muito devagar, aceitei finalmente sair. Mas para voltar e de novo me entregar ao talento do eternamente jovem Filipe Ramalho.

A refeição ideal
Tábua de enchidos da Dona Octávia (11 euros)
Salada de tomate com cabeça de xara (8,50 euros)
Bacalhau d’oro (15 euros)
Arroz de borrego (16,50 euros)
Sobremesas da sogra (3,50 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend