Crítica de Fernando Melo: Degust’AR Lisboa

A açorda de bacalhau. Fotografia: Cátia Barbosa/DR
Se é verdade que uma capital cosmopolita tem de ter as grandes cozinhas do Mundo declinadas em bons restaurantes, é imperativo absoluto que as grandes cozinhas regionais pontifiquem. É o grande reduto nacional e no Degust’AR, do brilhante chef António Nobre, está o Alentejo bem representado.

Portugal não tem uma cozinha nacional, é o glorioso matizado regional das suas muitas cozinhas que o define. As raízes e a proximidade são os seus grandes trunfos, e é por isso ainda o receituário familiar com este ou aquele acento de um qualquer recanto que vai vingando e representando a respetiva origem. É por isso que encontramos excelentes casas que executam e partilham pratos minhotos, beirões, transmontanos, etc., apelando aos sentidos dos respetivos patrícios que a eles vão acorrendo para matar saudades e perceber que o Mundo não acaba amanhã.

Lisboa é uma das capitais europeias e para cumprir o inegável desígnio cosmopolita que o estatuto implica, deveria ter bons restaurantes de cada uma das cozinhas dos estados-membros da União Europeia. Mas mais do que isso, deveria também ter oferta boa das suas regiões. O Alentejo marca presença inefável já em restaurantes que oferecem as receitas herdadas e transmitidas em família, mas merecia há muito um demonstrador dessa grande região que é o Alentejo. No Degust’AR Lisboa, o chef António Nobre instalou os muitos saberes que ao longo de décadas foi integrando e oferecendo nas mesas dos hotéis Mar d’AR, em Évora. Tem trabalho de referência publicado, é conhecedor profundo do produto alentejano, e a ventura do restaurante do grupo a que está afeto é uma boa notícia.

Fotografia: Cátia Barbosa/DR

Já podemos conferir em Lisboa as suas criações mais notáveis, como a açorda de bacalhau com ovo escalfado (14 euros), incrível trabalho de piso no almofariz, simplicidade desarmante. Igualmente desarmante é a maravilhosa canja de galinha (8 euros), congregadora na mesma taça de arroz carolino – claro -, galinha, linguiça, toucinho e hortelã, e que configura, como toda a cozinha de pastor, refeição completa. Viva, única e sápida aqui é a vezeira oferta de migas de espargos verdes com lombinhos de porco ibérico, linguiça frita e laranja (16 euros). Trabalho muito bom do pingue da carne, as migas a integrá-lo com harmonia.

Quero ver aqui as coxas de rã de tomatada que este rapazinho inquieto de Beja faz como ninguém e ainda outras glórias. Até lá, vamo-nos consolando com as belíssimas vieiras com mousseline de batata (18 euros), o belíssimo tártaro de novilho mertolengo (12 euros) e o belíssimo cação de coentrada (11 euros). Nem em dez visitas esgotamos a oferta. Bandeira bem cravada, está aqui o que pode ser o melhor restaurante alentejano de Lisboa.

Fotografia: Cátia Barbosa/DR

A refeição ideal

Menu de degustação 8 momentos (54 euros)
Harmonização vinhos premium (36 euros)
Vieiras, batata, coentros, presunto ibérico
Perdiz vermelha, beterraba, pão alentejano, salsa
Robalo, funcho, legumes, cebolinho
Bacalhau, feijão branco, espinafres, linguiça
Pato, citrinos, mel, aipo, legumes
Porco ibérico, abóbora, alecrim, cuscuz de espelta, curgete, beterraba
Frutos silvestres, chocolate, limão
Encharcada, sericá, sopa dourada, tangerina

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Mapa da ficha ténica
Morada
Rua Latino Coelho, 63A (Picoas), Lisboa
Telefone
962673777
Horário
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h. Encerra domingo.
Custo
(€€) Preço médio: 35 euros.


GPS
Latitude : 38.7328696
Longitude : -9.149793000000045




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