Crítica de Fernando Melo: Cimas English Bar, no Estoril

O restaurante Cimas English Bar fica no Monte Estoril. (Fotografia de Diana Quintela/GI)
Configura refúgio seguro e no tempo da guerra e da derrocada das monarquias ditatoriais europeias teve frequência real. Das suas janelas e balaustradas, justamente por essa altura, espiões vigiavam entradas e saídas da barra, vendo sem ser vistos. Hoje o tempo é de paz e chegar ao Cimas, no Monte Estoril, é fazer a justa e merecida pausa das nossas próprias guerras interiores e entrar em retiro. Entremos, então.

Há paredes que mesmo não falando parecem perscrutar-nos. Estas do Cimas/English Bar de José Manuel Cima Sobral são especiais porque juntas abraçam-nos e tratam-nos nas palminhas. Cozinha franca, assente no produto, receituário próprio de sempre, naquele irredutível registo de nos convencer que somos capazes de o executar em casa. A cozinha portuguesa não tem segredos, mas cozinhas como esta têm vários e saudavelmente insondáveis.

Entramos na apelativa casa de inspiração shakespeariana de outrora e logo após nos instalarmos começam as hostilidades que desejamos. A lareira está acesa, mas não é por isso que dispensamos a empreitada fria/morna entradeira, de que destaco quase como programa obrigatório desde já o frio e fresco salpicão de gambas (26 euros) que só aqui é feito a preceito, as favinhas com chouriço (22 euros) que mesmo fora da época são de antologia, e as alcachofras quentes (18 euros) para debicar à mão e dar o digestivo toque hortelão.

Nos peixes perdemo-nos facilmente nas tranches de garoupa no forno com amêijoas (34 euros), nas imaculadas e perfeitas lulas grelhadas com grelos e batatinha (28 euros) ou no fresquíssimo pregado cozido com molho holandês (48 euros). Estou aqui a tentar disfarçar o mergulho de cabeça no capítulo caça que é a galinhola (62 euros), mas obviamente não consigo disfarçar a severa recomendação que merece, labor estratosférico do chef Domingos Fernandes, que a faz como ninguém!

Há uma ligeira mudança nas regras de acesso a este emblema nacional da cozinha, agora há forçosamente que a encomendar com um par de dias de antecedência. Sinal inelutável dos tempos, o balanço entre oferta e procura mudou, a maldita pandemia mudou impunemente as regras do jogo. Animemo-nos, contudo que a arte continua lá, e glórias como a lebre com feijão manteiga (44 euros) estão sempre disponíveis. Grande casa continua o muito nosso Cimas, vamos a ele, precipitemo-nos para esgotar as suas muitas delícias!

 

A refeição ideal
Alcachofras quentes (18 euros)
Salpicão de gambas (26 euros)
Ovos mexidos à professor (18 euros)
Amêijoas à Bulhão Pato (34 euros)
Lulas grelhadas com grelos e batatinha (28 euros)
Galinhola (62 euros)
Crepes Suzete (30 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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