Crítica de Fernando Melo: Casa Nobre d’Azeitão

Uma das propostas da chef Zelinda Maia. (Fotografia: DR)
Foi em boa hora que Pedro Rosário decidiu dar vida nova a um dos mais belos lugares no coração de Azeitão. Secundado na cozinha por sua mãe Zelinda Maia, o Casa Nobre d’Azeitão é súmula e pináculo dos sabores de sempre e tem tudo o que nos leva a sair de casa. Paz, harmonia e património, em oferta exótica.

Vieram outrora queijeiros, pastores e ovelhas até este lugar numa transumância que acabou por dar o nome e a fama ao queijo de Azeitão. Feito exatamente da mesma forma e jeito que o da Beira Baixa que lhe está na origem, criou aqui raízes no século XIX. Estamos na margem sul do Tejo, onde de vez em quando sobe a maresia, e foi para aqui que Gaspar Henriques de Paiva decidiu começar a fazer o queijo semelhante ao Serra da Estrela. Aposta mais que correta, é um dos queijos que os portugueses mais apreciam. Solos, clima e castas especiais configuram também o berço de moscatéis de antologia com que nos deliciamos e aqui é onde a Castelão tem nobre assento. Passamos a ponte e estamos em autêntica terra de prodígios, na margem certa.

A chef Zelinda Maia oficia com paixão e muito amor no seu reduto culinário mais interior, enquanto o seu filho Pedro Rosário ciranda veloz e ágil na coreografia que ele próprio gizou. Há mão profissional na decoração da sala principal, sugestões arabescas e cuidado com a iluminação.

A tríade filetes de biqueirão com alcaparras (4 euros), queijo de Azeitão DOP (8 euros) e espargos verdes com ovos (9 euros) encanta logo na primeira empreitada. Há um arroz de línguas de bacalhau com amêijoas (29 euros) que é de antologia porque sai cremoso e ligado com a gome do próprio bacalhau, como a gente gosta. Entre o petisco e e o pequeno pecado inconfesso está impante e provocador o choco frito (16 euros), bem bom. E é fantástico o bacalhau à Brás da Dona Zelinda (21 euros), mas dizem que só por encomenda. Tenhamos fé.

A caça é feita muito a sério, a lebre com feijão (21 euros/pessoa) prega-nos ao chão de irresistível tentação que é. A grelha é ciosa de atenção e gosta de mandar o naco australiano (24 euros) suculento e processado a preceito. As costeletinhas de vitela (22 euros) não desmerecem na gula e aprumo.

É fundamental reservar espaço para a brilhante torta de Azeitão caseira (5 euros), servida como deve ser, à fatia, ou o cheesecake de lemon curd (5 euros) ou a copiosa tarde de requeijão e amêndoa (5 euros). Pedro Rosário é exímio na gestão da bem fornecida garrafeira, que cobre desde vinhos ligeiros a reservas e moscatéis clássicos, sempre harmonizados da melhor forma. Definitivamente, estamos na margem certa.

A refeição ideal:

Salada de polvo (8 euros)
Espargos verdes com ovos (9 euros)
Presunto ibérico de bolota (18 euros)
Polvo à lagareiro (21 euros)
Rabo de vitela estufado a baixa temperatura (14 euros)
Torta de Azeitão à fatia (5 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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