Crítica de Fernando Melo: Casa Nepalesa, em Lisboa

(Fotografia: DR)
O chef Tanka Sapkota volta a surpreender com a renovada Casa Nepalesa, que estamos habituados a encontrar nas Avenidas Novas, junto à Gulbenkian. O passo em frente que acaba de dar traz a comida autêntica das suas raizes para bem perto das nossas casas. A visitar muitas vezes até ter provado mesmo tudo.

A grande novidade é a cordiceps sinensis, uma lagarta de 3 pares de patas dianteiras, 4 a meio e um na cauda, vive enterrada e transforma-se em fungo que se serve ralado como condimento de sopas e caldos. Elevado valor nutritivo, preço elevado e raridade são as principais características, da yarchagumba, a designação corrente em nepalês. A utilização é semelhante à da trufa branca na sua época e o preço pode ser até superior. É uma presença nova no matizado das cozinhas étnicas presentes em Portugal, e é também um sinal de aproximação entre, viajando milhares de quilómetros das terras místicas e de paz que orlam o Tibete até à mesa lusitana carregada de especialidades e tradições regionais.

(Fotografia: DR)

Tanka Sapkota tem no seu irmão Yojesh o braço direito e cozinheiro oficiante, casado com a irmã de Rita, a sua mulher. A união faz a força, disso não há dúvidas. A Casa Nepalesa é desde há muito visitada com prazer pelos lisboetas e havia sempre um toque de consensualidade que tornava os seus pratos legíveis e favoritos dos amantes da novidade. O novo espaço é a um tempo mais profundo na origem dos produtos e ousado na qualidade.

Exemplifiquemos, começando pela maravilhosa e inesperada sopa de cabrito em fogo lento com yarchagumba (75,95 euros). O cabrito transmontano DOP abrilhantado com a “pérola do Nepal”, como se lê na ementa, utilizando uma intensificação natural dos sabores, praticamente sem recurso ao sal. O tártaro de borrego alentejano temperado com especiarias (8,95 euros) é apresentado com uma gema de ovo bio que nós amalgamos no prato, sabores novos e brilhantes, muito cuidado posto no pormenor, seguramente um prato que nunca mais vamos dispensar aqui.

Outra delícia são as miudezes de cabrito salteadas com cogumelos (9,95 euros). Faz lembrar o sarapatel goês e facilmente nos convencemos que tem mão lusa o preparado de sápidos cubinhos. Imperdível o dim sum que aqui dá pelo nome de momo ra chatani (8,50 euros), originalíssimo recheio de porco ibérico e frango do campo numa grande intensidade de sabor. Pelo menos uma vez há que experimentar o brilhante o javali de caça de Évora cozinhado em 9 horas (13,80 euros) com molho tradicional de caril. Havendo, não deixe de provar o melão amargo de são caetano, uma delícia desconhecida dos portugueses e que na primeira investida fica arquivada no coração. Se seguir a nossa recomendação de refeição ideal, vai encontrá-la e saboreá-la com iogurte natural biológico. Muito por onde se perder, muito também para reencontrar na Casa Nepalesa, com certeza.

A refeição ideal
Degustação exótica
49,95 euros (2 pessoas)
Tartare de borrego com especiarias e gema de ovo bio
Javali de caça de Évora em fogo lento
Frango do campo com molho de caril tradicional
Grão de soja salteado com raiz de mandioca e gundruk
Karela (melão amargo de são caetano) e batatas
Acompanhamentos de iogurte natural biológico, arroz dos himalaias e chutney

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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