A horta dos agricultores Ulisses Teixeira e Ana Dias já abastecia o restaurante Italianino, que Felice Jeva abriu no início do ano, junto à Sé Velha, em Coimbra; mas o chef italiano também quis pôr as mãos naquele terreno viçoso, na localidade de Gesteira, Cantanhede. À segunda-feira, Felice encerra a cozinha e vai à Quinta dos Sardões ver como evoluem as culturas e o que é preciso fazer. Preza muito o que a natureza dá em cada estação, e está familiarizado com os trabalhos agrícolas, pois em miúdo passava as férias a trabalhar nas terras dos avós, no Sul de Itália, em torno do vinho, do azeite e mais. Se há algo que valoriza é a “comida boa e saudável” – faz questão de pô-la na mesa, tanto no restaurante como em casa, ali mesmo, em Cantanhede.
O chef mostra-se tão satisfeito a preparar pizas artesanais e massas frescas como a admirar a horta que lhe fornece cebola, alho, tomate, curgete, pimento, beringela e outros ingredientes para os seus pratos com molhos “de verdade”. Dali se recolhe ainda manjericão, alecrim, aipo, abóbora, beterraba ou pepino africano (chifrudo, no Brasil). Dali sai a batata velha de aspeto menos sedutor, inacessível nas grandes superfícies comerciais, mas essencial para fazer gnocchi. Dali se leva ovos de galinhas e outras aves que sabem o que é ter liberdade de movimentos e patas assentes na terra.
Os hortelãos Ulisses e Ana vendem os seus produtos nos mercados de Cantanhede, ao sábado, e da Tocha, ao domingo. Ele, que era carpinteiro e ainda faz artesanato em madeira nas horas livres, resolveu mudar de vida. Pratica uma agricultura que lhe ocupa os sete dias da semana e ainda obedece ao ritmo das estações, enquanto no supermercado há de tudo, todo o ano. “Eu tenho de ter saudades de comer uma laranja; devíamos ter todos”, defende o agricultor. E Felice aprova, com um sorriso.
No paraíso há surf e tomate fresco
Felice Jeva, italiano de 50 anos, leva três deles apaixonado por Portugal. Chegou de férias, para surfar, e não saiu mais – até porque, entretanto, caiu de amores também por Gabriela Sobral, a companheira, que o apoia no restaurante. Antes de abrir o Italianino, de cozinha italiana (primeiro na Praia da Tocha, agora em Coimbra), Felice habitou e teve negócios em países como Itália, França, Áustria ou Espanha. Hoje, vive em Cantanhede, entre o campo e o mar – para ele, “é o paraíso”. Orgulha-se de não comprar tomate em lata, mas de o levar para o restaurante em caixas, fresco e aromático, pronto a entrar numa dança com o sal e a pimenta. A sua filosofia pode ser resumida numa frase: “Qualidade de vida não é ter milhões no banco, é ser saudável”.
Um truque: girassóis para distrair
Os girassóis espalhados pela horta são uma manobra de distração: atraem os pássaros, que assim não atacam tanto os figos e outras culturas. Ulisses também aplica nas couves uma mistura de vinagre e água, para afastar as moscas.
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