A equipa do Cais do Pescado – chef e cozinha, sala e balcão – foi escolhida a dedo por Sérgio Cunha para que este não fosse apenas mais um restaurante de mar em Aveiro. «Abrimos para compensar a necessidade que havia de uma casa de peixe e marisco fresco com mais um bocadinho de glamour», explicou o empresário que acumula, com este, três restaurantes naquela zona e quis instalar naquele uma cozinha e serviço irrepreensíveis. O desejado contexto de culinária de autor e sofisticação foi ali conseguido com uma elegante decoração, a harmonia do serviço, alguns pormenores da carta e ainda uma garrafeira a fazer brilhar a Bairrada. Tudo a criar, no geral, uma memorável estadia na mesa.
A experiência começa e acaba no sorriso franco de Carlos Rocha, aveirense bem conhecido dos aveirenses, por ter sido, durante muitos anos, a figura mestra por trás do balcão de uma cervejaria popular na cidade. Foi uma das principais contratações de Sérgio Cunha que o encarregou de acolher os clientes, aos quais serve um copo de espumante à chegada; de ajudar na escolha do peixe e marisco sobre o tapete de gelo; e ainda de comandar o serviço da cervejaria que funciona no piso térreo, de cozinha sempre aberta.
O mesmo aconteceu na sala e na cozinha: qual olheiro de futebol, Sérgio fez contratações entre profissionais de restaurantes que gostava muito, caso do chef Carlos Salvador. Contratou ainda aqueles que possuíam uma experiência que parece quase anacrónica nos dias de serviço minimalista de hoje (em que basicamente o empregado traz o prato feito para a mesa). Ali, a equipa de sala cria todo o ambiente, terminando o serviço na mesa, prato a prato, ora despinhando o peixe, ora aconchegando para cada gosto os elementos do prato e ainda aconselhando o vinho. Por fim, pode-se contar ali com o luxo de uma chef pasteleira a tempo inteiro (Joana Castela), o que faz da carta de sobremesas paragem obrigatória.
Atmosfera dourada
Embora se possa almoçar e jantar no piso de cervejaria, é bem mais especial a atmosfera da sala do primeiro piso, com as suas paredes de azul forte com ilustrações de peixes da autoria do artista urbano Fedor e o dourado do tecto e dos candeeiros. O cenário é distinto de dia, com as janelas enormes a deixar ver a ria, e de noite, quando ali luzem pinceladas de ouro. A garrafeira faz as vezes de uma parede, e nela há sobretudo vinhos da região da Bairrada (vinhos e espumantes) e do Douro, com uma pequena seleção do Dão e Alentejo. É companhia quanto baste para uma carta de opulenta simplicidade: os peixes e os mariscos para grelhar são os que chegam no dia, e quantos bivalves houver são quantos entram no acompanhamento estrela, um arroz do mar malandrinho e aromático.
Da cozinha de Carlos Salvador, saem ainda outros arrozes, como o de línguas de bacalhau com gambas, massada de peixe e e gambas, caldeirada de enguias, cataplana de polvo, ensopado e peixe e ainda um prato que já criou amores, a tempura de polvo. Na face de cervejaria do Cais do Pescado, conta-se com três bifes (o da casa leva um molho de vinho do porto), lagarto de porco preto e petisquinhos do mar. As sobremesas – das quais se destacam a Delícia do Cais, que é Aveiro em versão doce, e um luxuriante pudim Abade de Priscos com pêra bebada – não são, de todo, para evitar a pretexto de dietas. Até porque elas podem chegar à mesa num colectivo para para partilhar, num prato com tanta cor e arte que vai custar enterrar a primeira colherada. Mas só mesmo a primeira.
Aquários
Dois aquários vão ser instalados em breve, junto às janelas do rés-do-chão – onde podem ser vistos da rua – para que os clientes possam escolher, logo à entrada, o marisco vivo para ser cozinhado na hora.
Longitude : -8.655803874239723
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