Em Palmela, há uma família arménia que salva pomares a fazer vinhos de fruta

Robert e Karine são o casal por trás do projeto Palmanhac, instalado em Palmela. (Fotografia de Carlos Costa/GI)
Encantado pela beleza da Península de Setúbal e dos seus pomares, Robert Kazumyan mudou-se para Portugal e fundou a destilaria Palmanhac. Aqui, junta o saber-fazer arménio às laranjas, limões e morangos de pequenos agricultores.

Kazumyan, na casa dos 60 anos, é o líder desta família arménia com longo historial na produção de bebidas espirituosas, ou a sua avó não fosse detentora de uma receita desde 1895, cumprindo a tradição dos conhaques daquele país. Quando a filha, bancária, se casou com um português, Robert e a mulher, Karine (engenheira-designer) visitaram o país e não tardou muito para que se deixassem apaixonar pela beleza do que viram, e em particular pelos cenários rurais da Península de Setúbal, conhecida pelos seus pomares.

O arménio estranhou, porém, haver tanta fruta esquecida nos ramos das árvores, e caída no chão, sem que ninguém a aproveitasse – em contraste com o que acontece na Arménia, cuja população é ensinada, desde pequena, a aproveitar ao máximo tudo o que a natureza dá. Tomada a decisão de se mudarem para Portugal, Robert lembrou-se de aplicar o saber-fazer da sua família numa destilaria artesanal, para produzir “vinhos de fruta” e aguardentes com produtos da região.

(Fotografia de Carlos Costa/GI)

Um dos segredos da produção destas bebidas é a qualidade das matérias-primas – laranjas, limões e morangos -, produzidas e entregues diretamente por pequenos agricultores da península. Natalia (a única funcionária mais fluente a falar português), explica que, por terem um aspeto menos polido, são frutas que não se adequam à venda em híperes e supermercados, mas que encontram na Palmanhac um importante canal de escoamento e aproveitamento económico.

Uma vez descarregada na destilaria, a fruta é encaminhada para um processo produtivo em tudo “igual ao do vinho de uva”, descreve Robert, vinicultor e engenheiro. A única diferença é que a Palmanhac utiliza laranjas, limões e morangos inteiros. As peças são submetidas a processos de lavagem, trituração, prensagem, extração de sumo e fermentação em cubas de inox. As bebidas são destiladas em alambiques de cobre e quando prontas, estagiam em barricas de carvalho.

Antes de aí chegarem, com recurso a um laboratório, Robert avalia se o aroma e o sabor cumprem os parâmetros de qualidade exigíveis. A legislação portuguesa não permite a classificação como vinho de bebidas que não sejam feitas somente com uvas, daí chamarem-lhes bebidas espirituosas. Quando contou a amigos e profissionais do setor vinícola que pretendia fermentar limões – “algo ímpar no mundo da produção alcoólica” – responderam ao vinicultor que dificilmente seria possível.

O método artesanal, que segue a tal receita antiga de família, permite preservar as vitaminas e outras propriedades das frutas, adicionando-lhes apenas álcool natural – e nada de conservantes. Este é também o resultado de uma carreira já longa na produção de bebidas espirituosas, tendo Robert Kazumyan trabalhado como tecnólogo de conhaques, durante 12 anos, na fábrica Yerevan (na capital homónima da Arménia), e depois mantido um negócio de vodca de frutos vermelhos, a partir de 1990.

(Fotografia de Carlos Costa/GI)

Na Palmanhac foi tudo pensado ao detalhe, desde o formato da garrafa ao design e qualidade do papel dos rótulos. Os produtos estão à venda na Casa do Turismo e na Casa da Baía (ambos em Setúbal), na Casa Mãe Rota dos Vinhos, em Palmela, nos restaurantes Social B e Prado, em Lisboa, e nas lojas online da Adegga e da Garrafeira Nacional.

 

A laranja foi a primeira

A primeira bebida produzida pela Palmanhac foi a espirituosa com sabor a laranja moscatel (uma espécie abundante na região), e é boa para servir como aperitivo. Já a de limão é descrita como “elegante e suave”. A fechar a trilogia encontra-se a bebida à base de morangos. Se lhes forem adicionadas pedras de gelo, os aromas abrem-se mais e a sensação alcoólica diminui. A gama inclui também aguardente de limão envelhecida e de laranja.

 

Visitas e provas
A equipa pretende organizar visitas turísticas guiadas à destilaria e sessões de prova numa sala preparada para o efeito. O objetivo é dar a conhecer a história e as bebidas ao público.

 

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