De trabalho todas as caves são, mas na da Poças Júnior, a alguns metros da Avenida da República, está tudo à mostra. No armazém da centenária casa de vinhos do Porto e do Douro, aberto ao enoturismo desde junho, é possível ver trabalhos que normalmente decorrem nos bastidores, caso das filtragens do vinho ou do engarrafamento.
«A intervenção que aqui fizemos foi minimal, procurámos manter a essência da cave. A principal preocupação foi que as pessoas não dessem pela intervenção», explica Pedro Poças Pintão, diretor comercial da empresa. O que não quer dizer, vá, que a cave não tenha levado um jeitinho para tornar a experiência mais agradável: a iluminação é nova, «compromisso entre as necessidades de trabalho» e um efeito mais cénico, e o chão foi pintado com tinta antiderrapante. A intervenção arquitetónica ficou a cargo de António Mota.
Normalmente, o visitante entra logo para o armazém, mas tratando-se de um grupo este é convidado a subir à sala de provas, término natural da visita. Mal passam as portas que dão acesso à cave, os narizes são invadidos pelo caraterístico cheiro a vinho. Há mangueiras pelo chão e rotinas de trabalho em curso.
«Os visitantes ouvem falar da história desta empresa familiar, e de como hoje há seis membros da família ativos na gestão, da região do Douro, do clima e do terroir durienses e dos diferentes tipos de porto. E explicamos-lhes por que motivo os vinhos têm diferentes teores de açúcar», conta Maria do Céu Gonçalves.
Segundo a diretora do centro de visitas, o momento alto do tour é a passagem pela tanoaria, onde o senhor Barbosa trabalha à vista de todos. Sempre assim foi, não mudou por haver visitas, sublinha.
Tudo isto enquanto os olhos se maravilham com as 790 pipas onde envelhecem os tawnies e os colheita antigos que fazem a reputação da casa.
Ao todo, estão ali armazenados dois milhões de litros de porto – o stock total da empresa ronda os quatro milhões. «O 1964 é o colheita mais antigo que aqui temos. O vinho mais antigo é um blend sem data mas que terá, seguramente, à volta de 80 anos», detalha Pedro Poças Pintão.
Na sala de provas, esperam os visitantes dois portos reserva, normalmente um branco e um tawny, sendo possível, sob consulta provar outros vinhos do portfólio da Poças e fazer provas específicas, com queijos ou chocolates, por exemplo. Neste espaço novo, salta à vista a enorme mesa de madeira vinda de casa do fundador, Manoel Domingues Poças Júnior, bisavô de Pedro. Também era dele a máquina de escrever Underwood Standard que se vê à entrada do centro de visitas.
Na decoração desta zona, foram aproveitados outros móveis antigos da empresa e na escadaria brilha uma publicidade antiga ao Lacrima Christi. As esculturas que se veem espalhadas pela sala de provas e pela receção são da autoria do designer Luís Mendonça. «Metáforas em torno do vinho. Uma série que já vai em seis e que começou com um desafio para decorarmos montras de lojas tradicionais em Lisboa, antes de abrirmos a cave ao público», explica Pedro.
Porquê abrir agora as portas ao público? Havia cada vez mais gente a pedir para fazer uma visita e estava na hora. «Estávamos a passar ao lado de uma boa oportunidade», partilha o diretor comercial daquela que hoje é uma das poucas casas de vinho do porto cem por cento portuguesas.
Centro de visitas da Poças Júnior (Vila Nova de Gaia)
Rua Visconde das Devesas, 186. Tel.: 223203257
Web: pocas.pt. Das 10h00 às 17h30; entre maio e setembro, até às 20h00. Não encerra. Preço: 3,50 euros por pessoa (inclui prova).