Crítica de vinhos: Três vinhos da transição duriense xisto-granito

A seleção é um pouco inusitada mas serve na perfeição para ilustrar o que uma região tem para dar e o apport positivo que o talento enológico tem para acrescentar. Mostramos-lhe o caso de três duplas de truz provenientes da prodigiosa transição duriense xisto-granito, de que não nos cansamos.

Conhecemos o grande vale vinhateiro do Douro como a ilha de xisto e é verdade que grosso modo se trata quase do território dourado de proveniência dos vinhos do Porto, tal como os conhecemos ainda hoje. São conhecidas as diatribes e oposições entre o Barão de Forrester e a poderosa Dona Antónia Adelaide Ferreira, em relação a este assunto. O primeiro nutria um interesse científico e purista na definição dos melhores terroirs durienses, enquanto a segunda tinha um mais que justificado interesse comercial e empresarial na região, aproveitando o carácter único do vinho do Porto.

A história tem vindo a dar razão a ambos, mas tem isolado pela positiva o carácter visionário de Forrester. O valor do Douro estaria, mais tarde ou mais cedo na qualidade e na exclusividade do vinho de mesa, mais do que no fortificado. Temos hoje casas produtoras na região para quem os proveitos do vinho do Porto há já algum tempo deixaram de ser muito superiores aos dos DOC Douro. Os tintos do Douro estão nos quatro cantos do mundo por mérito próprio e também pela senda gloriosa criada pelos vinhos do Porto.

Estamos agora a aquilatar o valor e o potencial dos vinhos brancos do Douro, para o que não espanta que as vinhas fossem implantadas na imensa bacia de transição xisto-granito que define a fronteira da ilha de xisto que é o Douro vinhateiro. Afloramentos graníticos, solos únicos e exposições solares que potenciam a excelência do imenso corredor circundante para a produção de grandes vinhos brancos. Há que incluir, como é evidente, a região de Trás-os-Montes, pelos seus granitos velhos e vinhas de grande talante, quase intocadas ao longo de mais de cem anos, assim como há que confirmar a excelência do trabalho da “gente do xisto” ao procurar altitude e frescura para as suas uvas brancas. Um caso notável de adaptação e leitura de terroir, que sondámos e provámos. Os vinhos menos manipulados, mais diretos, colhem a preferência num primeiro contacto, mas o trabalho de interpretação e introdução de técnicas enológicas não invasivas mostra-se vantajoso. Sinal de que o talento ainda é aposta segura. Muito por descobrir.

Os duetos do desafio
A Quinta de Valle de Passos, perto de Valpaços, tem neste momento dois brancos de grande nível no seu portefólio, um deles sem madeira, o outro com estágio de barrica. Enologia de luxo, com Manuel Vieira e Carlos Magalhães na linha da frente. O projeto da Quinta dos Avidagos acaba de lançar um reserva branco de bom talante, é pedagógica a comparação entre o vinho básico e este, mais sofisticado. E a Casa Ramos Pinto, emblema patrimonial de todo o Douro, mostra-nos um vinho Bons Ares simples, de altitude que se revelou tudo menos simples, e o clássico Duas Quintas permanece o valor seguro. Compre pelo menos um dos duetos que propomos e tire as suas conclusões. Boas provas!

 




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend