Constantino Ramos, o produtor de Zafirah, um tinto de Monção que remete para o passado

Enólogo Constantino Ramos. (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
Constantino Ramos gosta de explorar o que o tempo foi deixando esquecer. Inspirou-se na história para produzir o Zafirah, um tinto de Monção que remete para o importante passado da região.

Foi quando vivia em Lisboa e trabalhava em investigação clínica que Constantino Ramos sentiu a necessidade de “voltar ao campo”. O investigador que mais tarde se tornaria enólogo cresceu em Vouzela, no Dão. Mas, lembra o próprio, não teve muita ligação ao vinho, apenas a “avó tinha uma pequena vinha e produzia em casa”.

Constantino começou a interessar-se pelo assunto na capital e quando a curiosidade cresceu, foi fazer mestrado em enologia Real. Quando estava a escrever a sua tese sobre uma molécula antioxidante presente nas uvas, Anselmo Mendes ajudou-o a recolher uvas alvarinho de várias regiões. Fez vindima com o renomado enólogo em Monção e Melgaço e nunca mais de lá saiu. “Tinha a vantagem da família da minha mulher ser dali”, refere.

“Por ter paixão pela história, desenvolvi carinho pelas castas da região, principalmente as tintas”, conta. Em Monção, encontrou vinhas velhas que estavam na família da mulher e com elas elaborou o Zafirah, com alvarelhão, borraçal e cainho. As vinhas encontravam-se no Vale do Mouro. Daí o nome – “graciosidade”, em árabe. “Era isto que queria fazer, um vinho elegante, gracioso, fácil de beber, a transmitir frescura”, diz. Este remete para os antigos vinhos da região: “os primeiros vinhos que Portugal exportou eram de Monção e Moreira do Lima, os chamados vinhos de Viana”.

Num documento de 1290 fala-se de um tinto que foi enviado por barco para Inglaterra para a entronização de um bispo. No tempo da Guerra dos Cem Anos, várias famílias inglesas estabeleceram-se em Viana para exportar vinho para Inglaterra e Flandres. “Na época, os vinhos mais afamados eram os claretes de Bordéus e os vinhos da Borgonha. Nos séculos XVI e XVII, os mercadores diziam que os de Viana eram comparáveis a esses”, conta. Fazia assim sentido explorar essa faceta. Até porque “Monção e Melgaço não tem de viver exclusivamente do alvarinho. Seria de maior afirmação se a região pudesse dizer que tem tanto branco como tinto de qualidade”.

Novo vinho
O enólogo vai lançar um tinto no final de março, um segundo rótulo de Zafirah para mostrar outra faceta das castas tintas. Este esteve a estagiar nove meses em barricas de carvalho francês e mais sete em garrafa.

Constantino Ramos
FB: facebook.com/cramoswinemaker




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