Anselmo Mendes, o primeiro enólogo a fazer experiências com alvarinho

Enólogo Anselmo Mendes, em Monção. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
Nascido em Monção de uma família de agricultores e viticultores, Anselmo Mendes lembra-se de ainda em miúdo ter o sonho de ser um “agricultor evoluído”. Hoje, tem orgulho de ter sido o primeiro enólogo a fazer experiências com alvarinho.

“Sempre me fascinou tudo o que é plantas”, lembra Anselmo Mendes, um dos mais importantes e premiados enólogos da região de Vinhos Verdes e não só. Em mais de três décadas de trabalho, conhece bem as regiões vinícolas do país. Já fez vinhos no Alentejo, Dão, Douro, Beira Interior, Bairrada, Açores e também lá fora, principalmente no Brasil.

Os seus primeiros anos como enólogo foram essenciais para se familiarizar com a variedade do território. Depois de ter estudado agronomia em Lisboa, ingressou, em 1988, na Borges & Irmão. Experiência que durou 10 anos que foi “uma escola”, pois “trabalhava com vinhos do Porto, Douro, Verdes, espumantes e aguardentes”, lembra. Anselmo Mendes acabou por assumir a responsabilidade de enologia depois da viticultura e tomou conta das quintas do Douro da empresa.

Mas já um ano antes de entrar na empresa, ocupava os tempos livres fazendo experiências de fermentação com as uvas dos pais. “Experimentei fazer vinhos com fermentação em barricas de carvalho francês, o que era quase heresia na região”, conta.

Foi em 1997 que apostou num projeto próprio. “Comprei uma pequena quinta em Melgaço, toda em patamares, e comecei a fazer vinho ‘de garagem’”. Lançou em 1998 o Muros de Melgaço, fermentado em barrica, e um ano mais tarde começou a fazer experiências de curtimenta, “outra heresia, fermentar um branco como se fosse um tinto”, refere.

Isto, com a casta alvarinho que estava a tornar-se predominante naquela sub-região. Monção e Melgaço é diferente das outras sub-regiões do Vinho Verde, porque está protegida por montanhas, o que cria uma barreira ao Atlântico e lhe dá uma certa continentalidade. O alvarinho adaptou-se muito bem. Anselmo Mendes assistiu ao crescimento da casta e tem orgulho de ter sido o primeiro a fazer experimentação com ela. Essas experiências também passaram pela maceração pelicular – deixar em contacto com película da uva sem deixar que fermente.

Hoje, está focado no solo, fazendo, na quinta que adquiriu mais recentemente, oito vinhos de alvarinho oriundos de oito solos diferentes. Está também a plantar castas antigas que estiveram na origem dos primeiros vinhos portugueses exportados para Inglaterra, castas tintas “que dão vinhos claretes muito finos, elegantíssmos”. É, considera, “um tributo ao passado glorioso dos tintos”. As experiências continuam na sua “coleção de vinhos ilegais”, como lhe chama, vinhos generosos produzidos com alvarinho ao estilo do vinho do Porto, vinho da Madeira e mesmo Jerez.

Turismo rural

É na Quinta da Torre, em Moreira, Monção, que Anselmo Mendes está a fazer algumas das suas recentes experimentações. Esta quinta que remonta ao século XIV vai também abrir, no final do ano, como turismo rural.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend