Um italiano de carne, outro de peixe e uma mercearia romana

O grupo italiano Il Matriciano passou de um restaurante em Lisboa para três espaços em menos de dois anos.

Robalo, camarão, lagostim, anchovas do mar, tamboril, amêijoas, lulas e espadarte. Nem carbonara, nem bolonhesa. Vale a pena esquecer (parcialmente) o que se sabe sobre a cozinha italiana ao entrar no Il Matriciano Al Mare. Até porque o dia a dia deste restaurante, na rua oposta à da Assembleia da República, começa no Mercado da Ribeira. Especificamente na banca de Rosa Cunha, que Alessandro Lasagna diz ter os melhores frescos do mar de Lisboa.

O restante carregamento de ingredientes vem de Itália. Desde que trocou a capital italiana pela portuguesa, em 2014, que o romano continua a repetir as rotas aéreas «semana sim, semana não». Fica sempre dois dias no país de origem, um para tratar do hotel em Abruzzo, outro para encomendar produtos artesanais como o queijo pecorino, a mozzarella, o parmesão e a restante charcutaria utilizada no outro (e primeiro) Il Matriciano, que Alessandro abriu na rua de São Bento um ano antes de lançar a versão Al Mare.

«Os clientes pediam-me peixe, mas não queria misturar diferentes cheiros num restaurante, por muito cuidado que tivéssemos. Até que consegui ocupar o espaço ao lado do restaurante, este verão», conta o proprietário.

Da lista de compras que chega de Itália, o Il Matriciano Al Mare absorve todos os produtos, excepto a charcutaria, que fica para o irmão mais velho. «Os queijos, por exemplo, são utilizados muito levemente, apenas para dar sabor às massas e aos risotti. Não quero anular o sabor do marisco», explica o chef Francesco Palo, natural de Rimini, em San Marino. Chegou a Portugal há três anos e trouxe consigo o conhecimento do peixe e o à vontade de quem nasceu e trabalhou numa cidade à beira-mar. Neste caso, mar Adriático, mas o país da bota está praticamente rodeado por água, cuja influência se sente no receituário italiano do litoral.

Sob tons de azul e branco e decoração marítima, no Al Mare recuperam-se alguns desses clássicos autênticos e até caseiros, como o risotto de camarão ou de lagostim com creme de laranja, as amêijoas salteadas e temperadas com salsa (os coentros são dispensados na cozinha italiana), os ravioli recheados de tamboril ou a massa fresca cozida al dente e tingida com choco. Essa autenticidade sente-se também fora dos pratos. Há música italiana a tocar de fundo e «o buongiorno» e «prego» que se vão ouvindo não são mera formalidade: a equipa partilha da nacionalidade.

Voltou a aumentar com a chegada de Alessandro Olivotto, chef do La Bottega, a mais recente mercearia italiana que o grupo abriu, em setembro, em Campo de Ourique. Muito por culpa e insistência dos habituais clientes dos Matriciano’s, que iam pedindo ao proprietário «para levar uma buratta ou mozzarella», aqui e ali. Por esse motivo, as prateleiras desta mercearia italiana podem bem assemelhar-se à despensa do Il Matriciano e Il Matriciano Al Mare, já que muitos dos seus produtos são também utilizados na confeção dos pratos dos restaurantes.

Como as massas secas, cuja variedade é capaz de satisfazer todos os gostos e feitios, os biscoitos, os queijos vindos de Itália, os enchidos, cereais biológicos, especiarias, cervejas artesanais e, claro, as bebidas como o bellini, o negroni, o licor sambuca e os vinhos, que também podem ser consumidos a copo (3,50 euros cada), pela tarde fora.

Petiscos não faltam para lhes fazer companhia e a par dos tramezzini (mini sanduíches), focacce, pizas e tábuas de queijos e enchidos, o chef Olivotto prepara pratos para refeições mais prolongadas na mercearia de ar rústico.

Os pratos do dia são apenas servidos ao almoço e remetem para clássicos italianos de forno, como a lasanha à bolonhesa, os cannelloni ou melanzane (beringela) alla parmigiana, aos quais se junta a famosa sobremesa do grupo Matriciano, o tiramisù. Se a refeição abrir o apetite para experiências caseiras, vale a pena pedir conselhos a quem sabe. Não para ajudar na tradução dos rótulos, mas para ajudar a desmistificar algumas crenças sobre a cozinha do país da bota.

Em conversa com o pessoal da casa fica-se, por exemplo, a saber que a típica carbonara tão replicada com natas, não leva de facto este ingrediente. Muito menos esse elemento – afinal prescindível – que é o bacon, utilizado apenas em substituição do guanciale (carne das bochechas do porco) que faz a versão original e que se encontra no La Bottega. Explicação feita, e é tempo de levar para casa, arriscar nos cozinhados e esperar que a família diga «mamma mia».

 

Il Matriciano Al Mare
Rua de São Bento, 99 (São Bento)
Tel.: 935803867
Web: facebook.com/ilmatricianoalmare
Das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h00. Encerra domingo e segunda
Preço médio: 27 euros

La Bottega
Rua Correia Teles, 22A (Campo de Ourique)
Tel.: 935803868
Web: facebook.com/labottegalisboa
Das 10h00 às 22h00. Encerra ao domingo

La Bottega
Rua Correia Teles, 22A (Campo de Ourique)
Tel.: 935803867
Web: facebook/labottegalisboa
Das 10h00 às 22h00. Encerra ao domingo




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