Crítica: Maior e especiado

Mendi. (Pedro Granadeiro/GI)
Completou 20 anos o Mendi, um dos primeiros restaurantes entre nós onde vamos por puro prazer. Ambiente excecional, onde todos têm assento e donde todos adiam a saída até ao limite.

É referência segura das gastronomias étnicas em geral e indianas em particular na Invicta. Utilizo o plural porque se é verdade que em todo o mundo são as regiões que definem a dieta, na Índia a diversidade é muito grande. Não devemos ser redutores nas designações, facilmente distorcemos as coisas a ponto de nós próprios nos confundirmos. A província donde é originária a família de Kamal Rajani, o proprietário da casa calorosa onde me encontro, é o Guzarate, um dos grandes bastiões da cozinha vegetariana do mundo. Ter nascido em Moçambique, juntamente com a formação anglo-saxónica que recebeu, fez, contudo, que crescesse na tolerância. Quis o destino que se fixasse no Porto, oficiando em coisas bem diferentes da gastronomia primeiro, até que decidiu dedicar a vida à cozinha das suas raízes ancestrais. Atingiu neste ano o Mendi – que significa sorte –, o estatuto de maioridade. Inspira aos clientes habituais a ideia de que é a mesma casa de sempre, o que quer dizer que tudo mudou muito.

Basta recuarmos a 1997 para nos apercebermos de como o gosto, os hábitos e as opções alimentares mudaram radicalmente no nosso país. Manter um restaurante em funcionamento implica saber acompanhar a dinâmica e curso do tempo. Primeiro bravo, por isso, a Kamal. O segundo vai logo para a clientela que continua a congregar e que vai muito para lá da comunidade indiana. Famílias e profissionais de todos os ramos e níveis escolhem o Mendi de forma recorrente para os seus momentos especiais. O terceiro bravo vai para a comida, integralmente orientada para o prazer.

Há cerca de uma dúzia de pratos vegetarianos, o que não surpreende, não fora o recorte culinário exótico, que nos faz prometer uma visita ao Guzarate. No lado mais canónico e usual das entradas, vêm do céu os pakora (5,90 euros) – legumes fritos em polme de farinha de grão

Destaco os vegetarianos dal makhani (14,50 euros) – lentilhas, manteiga e natas –, pela simplicidade e sabor apresentados, e dhingri shabnam (12,50 euros) – cogumelos, ervilhas, especiarias, tomate e natas – pela intensidade e sofisticação na boca. Há cerca de uma dúzia de pratos vegetarianos, o que não surpreende, não fora o recorte culinário exótico, que nos faz prometer uma visita ao Guzarate. No lado mais canónico e usual das entradas, vêm do céu os pakora (5,90 euros) – legumes fritos em polme de farinha de grão – e são ritual inefável as «samosas de carne» (4,6 euros). O caril – mistura de especiarias – tem secção autónoma em três frentes, peixe, frango e borrego. Aqui há que atentar no esclarecimento favorito de Kamal aos menos conhecedores, de que especiado não quer dizer picante. Quando isso acontece, está expresso no cardápio. É injusto escolher, mas dos onze caris disponíveis sugiro o rogan josh (19,50 euros), borrego, tomate e açafrão em cozedura lenta. E nas sobremesas, penda (3,60 euros) e bebinka (6 euros). Boa e adequada seleção de vinhos.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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