Um roteiro entre serra e costa algarvia, guiados pelo Baixo Guadiana

Um roteiro entre serra e costa algarvia, guiados pelo Baixo Guadiana
Barrocal, serra, paisagens protegidas, mar, sapal, areal. A versatilidade cénica é rainha quando se fala no Baixo Guadiana, o rio que serpenteia a fronteira mais a sul entre Portugal e Espanha, e que pode e deve ser contemplado sob rodas, na água ou nas alturas. Sempre intervalado com peixe fresco e carne de caça em restaurantes clássicos da zona.

Azul, verde e laranja. São três as cores que ajudam a adormecer e que dão as boas-vindas, todas as manhãs. Da cama, avista-se um farto pinhal verde, o mesmo que emoldura uma piscina exterior, os telhados de algumas moradias em redor e o mar que banha a praia que batiza o Praia Verde Boutique Hotel. Em Altura, junto de águas quentes e da tranquilidade da ponta leste algarvia, as noites são de sossego no hotel que surgiu há seis anos, na sequência de uma forte remodelação levada pela Discovery Hotel Management, e que já foi considerado pela CNN um dos melhores boutique hotéis europeus.

As madeiras claras e os pormenores decorativos em cortiça ajudam a criar o ambiente rústico dos cerca de 40 quartos, com varandas generosas e espalhados por três pisos. Transversal a todos estes, e às restantes zonas do hotel, é o conforto enquanto prioridade, quer se trate da convidativa fogueira na rua, à entrada do edifício, ou nas bolachas e estrelas de figos caseiros que todos os dias são depositados nos quartos. Mimos que se estendem a quem volta a dormir nestas paredes por uma segunda vez: neste caso, oferece-se um conjunto de produtos regionais, como flor de sal, compotas ou aguardente de medronho. Na loja gourmet no piso térreo, podem comprar-se estes e outros produtos feitos por mãos algarvias, como conservas, sabões e azeites.

O Praia Verde Boutique Hotel, em Altura. (Fotografias: DR)

Entre braçadas na piscina, passeios pelo jardim nas traseiras, exercícios no ginásio ou entre sessões no centro de massagens, o dia parece pequeno. Quem preferir, tem a Praia Verde a uma distância de 10 minutos a pé, com um passadiço que liga o areal ao hotel.

No piso térreo, junto a fachadas envidraçadas que deixam entrar muita luz natural, provam-se os sabores da cozinha do chef David Domingues, no À Terra Fornaria, muito apoiado no fogo, com tachos de barro e um forno e lenha, onde saem pizas, mas também o cabrito que se desfaz a cada garfada, com batatinha e legumes, e a pá de borrego com mostarda, assada ao sal de Castro Marim.

A cozinha de forno é o pilar deste À Terra Fornaria.

É precisamente nestes jardins de sal que nascem na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, e que ocupam 30% deste território, que Agostinho Gomes se sente em casa. Há mais de 30 anos que o fotógrafo de avifauna organiza sessões de observação de aves nestas salinas, em parceria com a empresa EtnoNature, e com vista para o castelo de Castro Marim. “Isto é mais prazer do que trabalho”, ri-se o vila-realense. Durante o ano inteiro, avistam-se com a ajuda de um telescópio cerca de mil flamingos, mas não só. Por estas salinas, passam quase 170 espécies, como sisões, alcaravões, gaivotas de bico fino, perdizes do mar e falaropos.

Agostinho Gomes observa aves, na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, há décadas. (Fotografias: Ricardo Bernardo Photography)

 

Passear em terra, no rio ou nas alturas
Os passeios vão desde 10 minutos até uma hora, mas em qualquer dos casos, vão passar num instante. Há vários anos que Pedro Cotovio mostra o sotavento algarvio no seu girocópetro, a uma média de 150 a 300 metros de altura. É nesta aeronave, com partida de Altura, que se sobrevoa a Ria Formosa, o Guadiana, Tavira, os areais e o oceano ou até Ayamonte, na vizinha Espanha, consoante a duração da viagem.

É alfacinha mas foi a sul que criou a sua Sky Xpedition. “Nasci em Lisboa mas sou de onde me sinto bem”, explica. Já fez 12 voos num só dia e o recorde de tempo a voar, num ano, ronda as 350 horas. Atrás de si, no girocópetro, já se sentaram pessoas dos 7 aos 84 anos. “Já tive clientes que, estando de tal forma emocionados no ar, me perguntaram se podiam chorar”, recorda Cotovio.

Pedro Cotovio, da Sky Xpedition.

Para quaisquer idades são também os passeios de barco da FunRiver pelo Rio Guadiana, sempre ladeados da verde serra, a portuguesa e a espanhola. Há uma década que estes percursos se fazem nestas embarcações, que levam até 12 pessoas e partem de Alcoutim, passando por oliveiras centenárias, hortas e pomares, mas também pelas ruínas romanas da aldeia do Montinho das Laranjeiras, achadas em 1876, ou pelos cais de Mértola e Vila Real de Santo António. A variedade de rotas e distâncias é uma das grandes vantagens, havendo percursos para quem tenha mais ou menos tempo: da meia hora às três horas e meia.

Os passeios de barco da Fun River.

Versatilidade de atividades e horários é também uma mais-valia para quem prefira ter os pés assentes no chão, a bordo dos passeios de Jeep da Rio Sul Travel. “Aqui, queremos mostrar o verdadeiro Algarve, que é muito mais do que praia”, conta Jorge Gomes, o guia deste percurso de adrenalina que vai contando pormenores sobre a história do sotavento algarvio.

Um dos cenários dos passeios de Jeep da Rio Sul Travel.

O passeio faz-se entre salinas que somam mais de 280 anos, barragens, laranjais onde se para para provar as doces laranjas algarvias, o Castelo de Castro Marim, com vista desafogada para o Guadiana, ou a Foz de Odeleite, onde desagua este rio. Mas também pelos 17 hectares da Quinta da Fornalha, em Castro Marim, que aposta numa produção 100% biológica ao transformar e rentabilizar o que cultiva. Aqui, pode comprar-se a sua famosa manteiga de alfarroba, mas também sal aromatizado de rosmaninho e orégãos, figo seco com piri-piri ou doce de figo.

 

Percursos pedestres na serra algarvia
Pelas ruelas da aldeia de Alta Mora, em plena serra algarvia, mostra-se como se borda, trabalha a lã e o barro, como se ordenha uma vaca ou se enche morcelas e chouriços. O Festival das Amendoeiras em Flor trouxe este fevereiro, pela primeira vez, nova vida a esta aldeia a meia hora de carro de Castro Marim. A iniciativa pretende promover o folclore regional, mostrando também as amendoeiras que ficam ainda mais bonitas em janeiro e fevereiro.

O Festival das Amendoeiras em Flor.

Durante o ano inteiro, ainda assim, há duas caminhadas, devidamente assinaladas, para se fazerem por aqui: o Caminhos da Cabra Algarvia e o Caminho da Amendoeira partem ambos do centro da aldeia, com 14 e 11 quilómetros, e passam por conjuntos de cabras, pelo cheiro de estevas e pela Ribeira do Beliche, que desagua no Guadiana. Só este ano, mais de mil pessoas se inscreveram para fazer estes percursos junto da natureza.

 

Dois clássicos à mesa no leste algarvio
O peixe de rio e de mar, ao longo da costa algarvia, é o chamariz de atenções desta casa, há mais de uma década. Ao longo desse tempo, o Restaurante Associação Naval do Guadiana, gerido pela associação que lhe dá nome, tem-se tornado num clássico no centro pombalino de Vila Real de Santo António. A espetada de tamboril é um dos pratos mais conhecidos do espaço, com mais de 100 lugares e uma esplanada com outros 60 junto ao Guadiana, mas também vale a pena provar a cataplana de amêijoas e camarão, a açorda de marisco, os carapaus alimados ou o próprio bacalhau à Naval, frito e servido numa cebolada com pimento e batata.

O Restaurante Associação Naval do Guadiana, em Vila Real de Santo António.

A meia hora dali, num outro contexto, o do sossego da serra algarvia, aposta-se em guisados de carne de caça, toda local, numa casa aberta há mais de década e meia, quase sempre cheia, seja dia ou noite. As doses bem servidas de perdiz, coelho ou javali, bem acompanhados por uma das mais de 100 referências vínicas da garrafeira da Taberna do Ramos, na aldeia de Balurcos, são motivo suficiente para as romarias de comensais.

A Taberna do Ramos, perto de Alcoutim.

Luís Ramos é o anfitrião de serviço, e conhece a maioria deles pelo nome. Na sala, tem a ajuda do filho, e na cozinha está a dupla composta pela mãe e mulher. É daqui que saem as enguias fritas e o cabrito assado em forno a lenha, rematando-se pela sobremesa mais pedida, um pudim de mel. Iguarias que se provam junto a uma lareira, quando o frio assim pede, ou na esplanada, quando o sol dá sinais de si. Qualquer um dos cenários, felizmente, é bem temperado pela gastronomia regional.

 

A Evasões viajou a convite da Odiana, numa ação do projeto Promoturis, financiado pelo Programa Operacional Cresc Algarve 2020.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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