Monchique, Caldeirão e Alte: à descoberta do Algarve entre a serra e o barrocal

As serras do Algarve têm vários pontos de interesse a descobrir. (Fotografia de Sara Matos/GI).
Por estes dias, alguns milhares de turistas aterram na região ávidos de estender a toalha ao sol, na praia ou na piscina. Mas a estrela, que ali brilha 300 dias por ano, também ilumina serras, trilhos, lagoas e praias fluviais que merecem a visita todo o ano, e fora da época alta do turismo.

A região do Algarve ocupa pouco mais de 540 mil hectares e junta paisagens tão diversas quanto as arribas do litoral, os laranjais do barrocal e os bosques das serras. É por elas, justamente, que se pode começar este roteiro de turismo de natureza pelo lado verde do Algarve.

Bem perto da costa de Aljezur, no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a aldeia de Bordeira esconde um percurso circular de sete ou 16 quilómetros um pouco difícil (o aconselhável é fazê-lo entre setembro e junho), mas que compensa todo o esforço – o percurso da Endiabrada e os Lagos Escondidos. Ele corresponde, em parte, com a etapa do Caminho Histórico (pelo interior) que liga a Arrifana à Carrapateira, e percorre os bosques de carvalhos e medronheiros do sopé da Serra de Espinhaço de Cão.

Nesses trilhos é possível ver pegadas de javalis, raposas, texugos e outros animais, assim como plantas aromáticas como o rosmaninho e a esteva. Espinhaço de Cão é um dos três importantes relevos do sistema montanhoso que delimita a região a norte e em que se incluem as serras de Monchique e do Caldeirão. A primeira, aliás, é apelidada por “Sintra do Algarve”, por ser a mais alta (902 metros de altitude), nebulosa e chuvosa (razão pela qual são cultivados milho e hortaliças nos seus socalcos), ter plantas raras e nascentes de águas medicinais (que alimentam as afamadas termas).

Terreno fértil para o turismo de natureza, é nela que Reinaldo Alves, da empresa Monchique – Passeios na Serra, faz caminhadas de nove a 12 quilómetros, de nível médio de dificuldade, com grupos de até dez participantes “A Rota da Água dá para contar a história de Monchique, pois passa pela Fonte Santa da Malhada Quente, as termas medievais da Fornalha, árvores de grande porte como plátanos e carvalhos, moinhos de água e cascatas”, descreve. Já na Rota dos Saberes, que também faz, Reinaldo dá a conhecer património ligado à cortiça, à pastorícia e às destilarias de aguardente de medronho e aguardente com mel.

(Fotografia de Sara Matos/GI).

Na Serra do Caldeirão, que abrange cinco concelhos e atinge 590 metros de altitude, mantém-se a descoberta de sabores e saberes ancestrais, como a produção de aguardente biológica, cujos medronhos são apanhados entre outubro e novembro. E na aldeia de Tenoca há ainda quem construa, com mãos calejadas, peças utilitárias em vime e folha de palma. Tudo isto é dado a conhecer nos safaris da Extremo Ambiente, criada há 17 anos e uma das poucas empresas a operar durante a época baixa do turismo, conta Pedro Oliveira. Ao contrário das caminhadas, aqui há mais ação graças às subidas e descidas em jipes todo-o-terreno, ou em motas Polaris 4×4. Em poucas horas, descobre-se o “mundo completamente diferente” que existe para lá da fronteira da EN125, entre o barrocal das
amendoeiras, alfarrobeiras e outras árvores e a paisagem larga da serra, com passagem pela aldeia de Alte e o Castelo de Paderne (concelho de Albufeira).

Centremos as atenções no concelho de Loulé. Por estar sobre o aquífero Querença-Silves (o maior reservatório de água do Algarve), na Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola, a água nunca deixa de correr ao longo do ano, vinda da ribeira da Menalva – habitat de rãs, cágados e lontras. Para facilitar a caminhada por este vale fluvial há um trilho marcado que leva ao encontro de noras e até grutas com 12 metros de altura. Já em Alte, graças a uma represa em forma de piscina com quase 100 metros de comprimento, pode-se nadar na água da ribeira, abastecida pela Fonte Grande, descansar à sombra de plátanos e fazer piqueniques. Do outro lado da aldeia, após uma curta caminhada, por vezes a mãe natureza brinda os visitantes com uma cascata, a Queda do Vigário (que nem sempre tem água).

(Fotografia de Filipe Amorim/GI).

Quatro matas para caminhar, comer e descansar

O lado verde do Algarve não se faz apenas de serras e rios. Do barlavento para sotavento, também há matas para descobrir e passar uns dias no meio da natureza – e com sorte, até avistar animais em estado selvagem. No concelho de Lagos encontra-se a Mata Nacional Barão de São João, cujas espécies arbóreas mediterrânicas abrigam fauna cinegética. De caminho, pode-se fazer um piquenique, deixar as crianças brincarem no parque infantil e percorrer até seis percursos pedestres e de BTT. Em Tavira, nos 456 hectares do Perímetro Florestal da Conceição, o espetáculo natural ganha vida com uma família residente de gamos, que pode ser melhor observada do alto de uma torre de vigia. Já na Mata Nacional das Dunas Litorais de Vila Real de Santo António – um sistema natural de fixação dunar que controla os ventos marítimos – a grande estrela é o camaleão. Há, também, um caminho de três quilómetros que vai direto à praia. Não muito longe, em Castro Marim, erguem-se os pinheiros-mansos da Mata Nacional das Terras da Ordem, assim batizada porque pertenceu à Comenda da Alcaidaria Mor de Castro Marim, nos tempos da Ordem de Cristo.

(Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI).

 

Lagoas: o habitat das aves

O Parque Natural da Ria Formosa, que se estende por Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, nasceu em 1987 para preservar uma laguna com nome de ria, nascida há cerca de 18 mil anos. De tão vasta, junta praias e dunas, ilhas-barreira, sapais, bancos de areia, salinas, lagoas de água doce e salobra, cursos de água, matas e áreas agrícolas e tem como espécie-estrela o cavalo-marinho. Mas é também casa de muitas espécies florísticas de interesse e de aves aquáticas migratórias, que a caminho do norte da Europa passam ali o inverno ou fazem escala. Na Lagoa dos Salgados (Silves), separada do mar por um cordão de dunas a poucos passos dos campos de golfe e dos hotéis, as aves também reinam, com o pisco-de-peito-azul, a pernilonga e o garçote. Para os ver, basta caminhar ao longo de um passadiço de madeira de quase um quilómetro, por entre os juncos e caniços. Com sorte, no outono e inverno avistam-se também bandos de flamingos-rosados.

+ Onde dormir

O Algarve é profuso em hotelaria com todo o tipo de ambiente e para diferentes gostos e carteiras. Eis três sugestões para ficar na região, com diferentes vistas e acomodações.

Grand House Algarve (Vila Real de Santo António)
Desde 2019 que este hotel – o primeiro e único cinco estrelas da cidade – enobrece a marginal pombalina do Guadiana. Trata-se do antigo Hotel Guadiana, original de 1926, encomendado por Manuel García Ramirez (filho de Sebastian Ramirez, o catalão fundador da fábrica de conservas de atum) ao arquiteto Ernesto Korrodi. Após oito anos de abandono, foi recuperado com pinças, dispondo de 31 quartos – dos quais 15 duplos – e três suítes júnior, de estilo clássico mas leve. Entre os luxos encontra-se um «telemóvel- mordomo» que permite aceder aos serviços do hotel, consultar os menus dos restaurantes, aceder à Internet e fazer chamadas para todo o mundo. No bar de cocktails e no restaurante Grand Salon, a atmosfera dos anos 1930 mantém-se viva.

Os jantares são no Grand Salon, do Grand House Algarve. (Fotografia: DR)


Monte da Vilarinha (Bordeira, Aljezur)
Encaixado entre a costa e a serra, o Monte da Vilarinha tem três T1, cinco T0 e quatro casas individuais em que nada falta para descansar e partir à descoberta da região (a Serra de Monchique fica a uma hora de carro). Todas as casas têm camas exteriores assentes em tijoleira, varandas com espreguiçadeiras, chão aquecido e cozinha equipada. O hotel dispõe, também, de um serviço de comidas e bebidas com jantar, sob marcação. Os hóspedes podem inclusive usar bicicletas ou experimentar aulas de surf, a pedido.

(Fotografia de José Mónica)


Aqua Ria Boutique Hotel
O Aqua Ria Boutique Hotel fica numa rua pedonal no centro, perto do Museu Arqueológico de Faro, e tem 17 quartos simples, mas bem decorados, para dar conforto a quem pernoita na cidade. É um projeto de Elvino Carolino, hoje com 78 anos, que começou com a abertura do restaurante Brasília, em 1971 (hoje diferente), instalado no piso térreo do hotel.

(Fotografia: DR)

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