José Régio: passear pelas coleções do escritor, em Portalegre

Casa-Museu José Régio. (Fotografia de Paulo Spranger/GI)
No edifício onde José Régio viveu 34 anos, enquanto lecionou em Portalegre, somam-se 17 salas e centenas de peças de arte colecionadas pelo escritor e poeta, que ganhou este vício de um avô. Só esculturas de Jesus Cristo, há mais de quatrocentas na Casa-Museu José Régio.

Nasceu e morreu em Vila do Conde, mas muita da sua vida de José Régio foi feita a sul, estando o seu legado intimamente ligado a Portalegre. Foi no Alto Alentejo, aos pés da Serra de São Mamede, que o escritor, poeta e dramaturgo viveu durante mais de três décadas, enquanto foi professor de Português e Francês no Liceu Mouzinho da Silveira. No centro da cidade raiana, o edifício do século XVII que funcionou como um anexo do Convento de São Brás – existindo ainda alguns vestígios de então, como a capela – passou depois a ser uma pensão. Foi aqui que José Régio se instalou durante 34 anos, levando a autarquia a transformar o espaço num núcleo museológico na década de 1970.

Pelos dois pisos e 17 salas da extensa Casa-Museu José Régio, o passeio faz-se na companhia da sua longa coleção de arte, até porque se tratava de um homem apaixonado pela arte popular e pelo colecionismo, interesse que desenvolveu cedo, por influência de um avô. Aquilo que começou como um passatempo, tornou-se num vício. As centenas de obras expostas vão do século XIII ao XX, com destaque para a sua coleção de mais de quatrocentas esculturas de Jesus Cristo, mas também para porcelanas, quadros em óleo, livros e tapeçarias feitas a partir de desenhos seus, ou não estivéssemos numa cidade carregada de tapeçaria na sua identidade cultural.

Há centenas de peças, muitas de arte sacra, na casa onde o escritor viveu 34 anos. (Fotografias de Paulo Spranger/GI)

Dá ainda para visitar as duas cozinhas do antigo convento (onde reinam os ferros forjados e artesanato alentejano) e o quarto onde dormia. Mas um dos ex-líbris da casa-museu é o escritório do ensaísta, autor de obras como “Poemas de Deus e do Diabo”, “Cântico Suspenso” ou “A Velha Casa”, onde coabitam livros sem fim, documentos e uma varanda com vista para o jardim à volta da casa e para a Serra de São Mamede, a mesma que o inspirou vezes sem conta, de papel e caneta na mão.

Uma das 17 salas da Casa-Museu José Régio.

Hotel em homenagem a Régio

Assim que se entra no quatro estrelas que chegou a Portalegre há quatro anos, é-se brindado com uma mensagem de José Régio na parede. “Por onde quer eu andar, vá eu lá onde for, comigo te hei-de levar, contigo me hei-de ficar, minha terra, meu amor”, lê-se. Se o nome não fosse óbvio o suficiente, o Hotel José Régio é uma homenagem ao escritor, que tem muitos dos seus pensamentos e poemas escritos pelas zonas comuns e pelos 35 quartos, com vista para a serra e para o Jardim do Tarro. Há poltronas em veludo que são réplicas das que Régio tinha em casa e existe uma zona de biblioteca com o espólio de alguns dos seus livros originais. Além disso, no piso térreo, onde está agora o bar e pastelaria Facha, funcionou em tempos idos uma das mais emblemáticas cafetarias da cidade, onde o escritor se reunia com outras figuras das artes, para extensas tertúlias.

O quatro estrelas de Portalegre.


Cozinha regional perto do liceu

Próximo do liceu onde José Régio deu aulas – hoje a Escola Secundária Mouzinho da Silveira -, situa-se um dos clássicos restaurantes portalegrense. O Sal, Alho e Etc recria o ambiente de uma tasca alentejana, com cozinha de conforto e tradicional, e é normal encher a casa ao almoço e jantar, há já uma década. A liderar a casa está José Felício Florentino, ligado à restauração desde jovem, e que tem a filha Tânia a comandar a cozinha. A carne de caça local é um dos pilares, com pratos de lebre, perdiz, javali e veado, além do clássico porco preto, que acompanha com migas de feijão com couve ou migas de espargos. A feijoada de lebre é outra estrela do espaço, tal como a sopa gata, típica de Portalegre, composta de lascas de bacalhau, pimentão e fatias de pão embebidas na água onde cozeu o fiel amigo. Para o brinde, somam-se mais de 700 referências vínicas só de Portalegre e arredores, uma das mais completas garrafeiras da zona quando se fala em vinhos locais.

A cozinha tradicional alentejana é a matriz do restaurante.


Saber-fazer à volta do tear

As tapeçarias feitas por artesãs locais, a partir de desenhos seus, que estão expostas na casa-museu, mostram que o interesse do escritor em torno desta arte artesanal que ganha vida no tear. O que torna obrigatória uma visita ao Museu da Tapeçaria de Portalegre, situado num palacete há cerca de vinte anos, mas que foi remodelado nos últimos tempos, com a inclusão de novas salas. Além de se apreciar tapetes feitos a partir de obras de Almada Negreiros e Maria Keil, dois dos duzentos artistas que já viram as suas criações ganhar nova vida neste espaço, pode também aprender-se mais sobre a tapeçaria local com vídeos que ilustram todo o processo, do desenho à escolha de entre sete mil cores de lã e ao trabalho no tear, que as artesãs manuseiam quase como uma harpa.

O Museu da Tapeçaria de Portalegre.

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