Troia: roteiro com tudo o que há de novo para fazer este verão

Ruínas romanas à beira do rio, praias e dunas a beijar o mar e uma movida cosmopolita e gastronómica voltam a agitar a península este verão e a afirmá-la como destino de férias por excelência no concelho de Grândola.

O líquido escuro deitado em pequenas gotas na palma da mão é provado a medo, causando um esgar de desconfiança e uma troca de olhares aflitos entre os visitantes do museu das Ruínas Romanas de Troia que tiveram coragem de o provar. Como é possível que os romanos tenham gostado de algo tão fétido e de sabor tão estranho? Na verdade, o que a arqueóloga Patrícia Brum dá a provar é o molho vietnamita nuoc mam (à venda nos hipermercados), muito próximo daquilo que foi o condimento preferido dos romanos: o garum. «Ou se adora ou se odeia». E os romanos não só gostavam de o colocar na carne, peixe e até no vinho, como o produziam em larga escala, exportando-o de Troia para todo o império. Em Roma era vendido como produto de luxo.

«Distinguia-os como romanos», enfatiza a guia no início da visita às ruínas que são o maior centro de salga de peixe do Império Romano, com dois quilómetros de extensão e 192 tanques identificados. «O conjunto de tanques é que fez com que a UNESCO considerasse que não havia nada comparável a este sítio». Uma monumentalidade que cresce quase todos os anos à medida que são descobertos novos tanques por via de escavações ou da erosão natural da península, formada há mil anos.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Há 500 anos que se sabe que as ruínas existem. O local arqueológico tem 29 oficinas de salga de peixe estudadas, mas o percurso museológico sobre passadiços ao ar livre só permite admirar um par delas, nomeadamente «uma das maiores do mundo romano», com tanques que davam para encher 13.500 ânforas com molho de peixe. Cobrindo-os com brita calcária impermeável, era neles que os romanos confecionavam o garum com camadas de sal, sangue,
sardinhas, vísceras de atum, cavala e outros pequenos peixes, crustáceos e moluscos esmagados, deixando tudo em salmoura, tapado, durante três meses. A produção seguia depois em ânforas embarcadas a partir do Sado, e deixou vestígios que levaram os arqueólogos a classificar Troia como um centro industrial e não uma cidade. Acreditam-se que ali tenham vivido e trabalhado 1500 pessoas.

No entanto, como só se conhecem ainda 10% das ruínas, qualquer remoção de areia pode trazer ao mundo novas revelações. A primeira ‘escavação’, explica Patrícia Brum, aconteceu no século XVIII quando a rainha D. Maria I, ainda princesa, mandou desenterrar objetos para oferecer a vários nobres. Um deles, o Duque de Palmela, criou em 1849 a Sociedade Arqueológica Lusitana, pioneira no país, e a partir daí Troia começou a ser escavada. Durante anos o local arqueológico esteve abandonado e a saque até que, em 2005, a Sonae Turismo assumiu um protocolo com o Estado para a sua gestão. As ruínas são monumento nacional desde 1910 e estão na lista de locais da UNESCO candidatos a património da Humanidade.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Uma importância que se avalia igualmente pelos vestígios de habitações nobres encontrados na margem do rio – alguns dentro de água – e que Hans Christian Andersen descreveu elogiosamente como a «Pompeia de Setúbal» na obra «Uma Visita a Portugal em 1866». E também nas ruínas das termas, da basílica e do mausoléu que os romanos deixaram depois de terem ocupado o território do século I ao século VI d. C.

 

Passear a cavalo nas dunas

Graças a Nuno Oliveira, da empresa de turismo equestre Quinta da Boa Vista, em Vila Franca de Xira, tal como os romanos, passeia-se hoje a cavalo na Caldeira. «O licenciamento é extremamente difícil porque estamos em plena Reserva Natural do Estuário do Sado. Aqui só se pode andar a pé ou nestes cinco cavalos», diz, enquanto vai aparelhando os elegantes e dóceis animais – Zeus, Voughan da Boa Vista, Xairel, Wanesco e Zidan. Francisco, o seu
melhor aprendiz, ajuda-o como gente grande. Dali a minutos começa o passeio, de uma hora, pela mata e dunas de areia branca e a chegada à língua de areia que separa a Caldeira da Caldeira Velha, com as ruínas romanas na outra margem, tem tudo de cénico e permite saborear a quietude da natureza. Nada se ouve a não ser o vento e um enérgico «bom dia» de Nuno ao casal de pescadores que vive ali numa cabana.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Das dunas da Caldeira à marina de Troia vai um passo curto, prova de como o Troia Resort conseguiu unir a natureza e o espaço urbano de uma forma harmoniosa. Na marina, além do casino, sala de espetáculos, lojas, cafetarias e restaurantes encontra-se este ano o novo Monte Mar Troia, chefiado por João Oliveira, de 32 anos, e cuja «única relação que tinha com Troia era a praia». Mas fala com entusiasmo deste «grande desafio profissional»: manter, longe da casa-mãe no Guincho, a qualidade a que os clientes se habituaram desde 1973. Há quem lá vá matar saudades da especialidade de filete de pescada com arroz de lingueirão; mas também se petiscam, e bem, umas amêijoas e um clássico camarão al ajillo, por exemplo. Tudo ao sabor de um branco fresco no copo, que o escansão do restaurante se prontifica a aconselhar.

Velejar com os golfinhos

Outro passeio bom de fazer por ali é a caminhada pelo Trilho da Praia e Duna (1,7 quilómetros), que começa no
final da marina e é um dos vários trilhos que convidam a explorar os limites naturais do resort. Caminhar pelo passadiço é como levitar sobre as dunas, uma formação geológica com pouco mais de mil anos se tivermos em conta que quando os romanos chegaram a Troia ela seria ainda uma ilha no meio do Sado – Álaca -, que iria unir-se com a restinga de areia que crescia do lado da Comporta. Estas e outras explicações, sobre a fauna e flora locais, surgem em
vários painéis informativos ao longo do percurso.

Continuando pelo passadiço, a praia de Troia-Mar é a primeira a surgir, com vista para a Serra da Arrábida, e permite avistar golfinhos enquanto se petisca um hambúrguer ou outra refeição leve no snack-bar e no restaurante, geridos a partir deste verão pelo grupo a que pertencem os restaurantes Monte Mar. Já para chegar à atlântica praia de Troia – Bico das Lulas, de areia branca, mar calmo e água cristalina, é preciso andar até ao fim do passadiço em madeira e continuar sobre a areia. Foi aí que, apaixonado pelo mundo náutico e tirando partido do extenso areal, Fernando Curval instalou há nove anos a Bluesailing, com atividades tão diversas como caiaques, pranchas de stand up paddle e passeios de barco a motor pela costa da Arrábida e pela península. O mais requisitado, claro está, são os passeios de barco à vela, para os quais a empresa tem embarcações para diversos escalões etários e níveis de
experiência, e colaboradores sempre prontos a ajudar.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Quando o sol começa a descer no horizonte tingindo o céu de tons quentes, na cozinha do Troia Beach Club – perto da praia de Bico das Lulas – tudo muda. Durante o dia o restaurante tem uma carta de snacks e refeições ligeiras, como hambúrgueres, tostas e saladas para comer à beira da piscina, e à noite transforma-se no Soul Sushi Beach Club, explica Christoph Sievert, dono do restaurante almadense que vai estar em Troia até ao dia 15 de
setembro. A carta é mais pequena que a original, é certo, mas tem todos os best-sellers que os clientes já conhecem, como os combinados de sushi e sashimi, a tempura de camarão e os gunkans. Uma fresca e inesperada fusão entre Portugal e o Japão, que em Troia faz todo o sentido, ou não fosse a península eterno ponto de partida e chegada, e um porto seguro para o verão.

 

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Dormir com vista para o mar

A história de Troia confunde-se com a da Torralta, que chegou a ser um dos complexos
turísticos mais modernos da Europa na década de 1970. Ferida de morte com as convulsões
do pós-25 de Abril e envolta em polémicas, tendo sido nacionalizada, a empresa acabou por
ceder, abandonar as instalações, e em 2007 duas das torres inacabadas do empreendimento
implodidas em direto para todo o país, mudando para sempre a face da península. A Sonae
assumiu o projeto, integrando antigos funcionários da Torralta, e em 2008 nasceu o Troia
Resort, com três das torres que restaram transformadas no moderno e funcional Aqualuz Suite
Hotel & Apartamentos, da marca SHotels. No total são 365 apartamentos e suítes T1, T1 + 1
e T2, quase todos com kitchenette; e nas duas principais torres uma piscina exterior; spa com
salas de tratamentos, sauna, hidromassagem e banho turco; sala de fitness; dois bares e dois restaurantes, com o italiano Il Palato acabado de abrir. Por estar vocacionado para famílias o hotel tem também um berçário, clube infantil e sala de jogos. Quem quiser ir a banhos de mar tem a praia Troia-Mar a cinco minutos a pé.

 

Comer e fazer compras na marina

Queijos de cabra, ovelha, de mistura e amanteigado e bolachas de cerveja, tudo de produção
própria. Luís Marques, diretor-geral do grupo Sabores Altaneiros, sediado na Covilhã, já os vende na
marina do resort há cinco anos (de junho a setembro), e o balanço que faz é positivo. Há
bolos secos, conservas, mel e compotas e muitos vinhos, do norte e da Península de Setúbal
(50 referências a copo). «É a garrafeira aqui de Troia», enfatiza Luís. Já nas petiscadas saem
muito as tábuas e a salada de queijo de cabra com mel e nozes. Na porta ao lado, acabou de abrir
o Moscatel de Setúbal Experience, extensão do negócio que o empresário e chef de cozinha
Vasco Alves tem em Setúbal. A carta manteve-se, mas recebeu um novo bife com molho de
moscatel, uma massa de frango, saladas e uma sandes de choco frito, assim como novos
cocktails com moscatel. Na decoração do espaço destaca-se um gigante candeeiro feito com
140 garrafas suspensas tipo linha de montagem.

 

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Street food e cinema ao ar livre

A carrinha do Açaí Concept é a mais recente novidade do Street Food Lounge, ‘estacionado’
na Alameda do Pinheiro Manso até 15 de setembro. Trouxe para Troia o famoso fruto exótico
das palmeiras amazónicas, dando-o a provar em granizado com kiwi, banana e morango aos
pedaços, e três tipos de granola. Há ainda quem lhe adicione leite condensado e mel. O
resultado é uma refeição doce e fresca. Depois também há hambúrgueres, cachorros, waffles e
cocktails ao longo da rua. Já no Jardim do Norte, a NOS oferece cinema ao ar livre todas as
sextas-feiras e sábados, às 21h30, com um ecrã gigante instalado num anfiteatro natural, com
almofadas gigantes, pipocas e bebidas.

 

A EVASÕES RECOMENDA

FICAR
Aqualuz Suite Hotel & Apartamentos
Troia
Tel.: 265499000
Web: www.shotelscollection.com
Apartamento-estúdio desde 60 euros por noite (inclui pequeno-almoço)

COMER
Monte Mar Troia
Marina de Troia
Tel.: 968624246
Das 12h00 às 16h00 e das 19h00 às 23h00.
Web: facebook.com/RestauranteMonteMar
Preço médio: 40 euros

Troia Beach Club
Troia
Tel.: 936547536
Das 09h00 às 19h00.
Preço médio: 20 euros

Restaurante e Snack Bar Bar da Praia
Troia-Mar
Tel.: 968624508
Das 09h00 às 19h00 (snack-bar) e das 12h00 às 16h00 e das 19h00 às 22h00 (restaurante).
Preço médio: 22,50 euros

Soul Sushi Beach Club
Troia Beach Club
Tel.: 960228016
Das 19h30 às 23h30.
Web: facebook.com/soulsushibar
Preço médio: 40 euros

Moscatel de Setúbal Experience
Edifício da Marina LM 12
Das 09h00 às 00h00.
Tel.: 911927317
Web: facebook.com/moscatelsetubalexperience
Preço médio: 15 euros; copo de moscatel a partir de 2,50 euros

Açaí Concept
Street Food Lounge, Alameda do Pinheiro Manso
Das 12h00 às 23h00. Até 15 de setembro.
Preço: 6,50 euros (taça de açaí)

COMPRAR
Sabores Altaneiros
Edifício da Marina, LM 13
Das 09h00 às 00h00.
Tel.: 926628776
Web: facebook.com/SaboresAltaneiros
Petiscos a partir de 5,50 euros; copo de vinho a partir de 2,70 euros

FAZER
Quinta da Boa Vista
Caldeira de Troia
Tel.: 936547536/967002314
Passeios todos os dias (sob marcação)
Web: facebook.com/quintadaboavista.equitacao
Preço: 50 euros por pessoa (1h)

Bluesailing
Praia Troia – Bico das Lulas
Tel.: 935750194
Das 10h00 às 19h00.
Web: facebook.com/BlueSailing
Preços: 15 euros/hora (aluguer de caiaque e prancha de SUP); 50 euros (passeio de barco à
vela); 75 euros (passeio de barco a motor)

 

Leia também:

Já se pode comer sushi em Troia à beira de uma piscina
Antigo café «A Brasileira» renasce em Setúbal ao sabor do moscatel
Atlantic Ferries não confirma adesão ao Navegante na ligação a Troia



Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend