Tavira e Vila Real de Santo António: praia, sabores e a safra do “ouro branco”

Hotel Quinta dos Perfumes. (Fotografia de Rodrigues/Global Imagens)
Sobre Tavira já muito se escreveu em tom elogioso, mas nunca é demais lembrar a beleza do rio Gilão que a percorre, passando a ponte medieval até ir desaguar na Ria Formosa.

A cidade, conservada ainda numa autenticidade contrastante com o turismo de massas, continua dinâmica graças a quem nela aposta e acolhe os visitantes com um caloroso abraço. Um desses casos é o de Francisco Coelho, chef de 29 anos, natural de Guimarães e apostado em fazer uma “cozinha de autor descontraída”. Conheceu o francês Frederico Lassale Mayor no Come na Gaveta, onde trabalhou três anos, e agora gerem o CERCLE, um dos mais recentes restaurantes de Cabanas de Tavira.

Aberto no final de abril, cativa logo pela esplanada de aura parisiense, com mesas requintadas, floreiras, padrões nas almofadas e um pássaro da ria desenhado numa porta. O que vem para a mesa acompanha as melhores expetativas: depois do couvert desfilam propostas como atum rabilho e shizo (uma erva japonesa), cavala marinada, croquetes de rabo de boi e amêijoas da ria. Já nas opções únicas de carne e peixe podem figurar tamboril com kale, raiz de aipo e Beurre Blanc e vazia maturada com couve-flor e mostarda (note-se que a carta muda a cada duas semanas, assente nos produtos locais e sazonais). A refeição é, em suma, memorável até ao último momento.

A mesma energia renovadora sente-se a poucos quilómetros de distância, na QUINTA DOS PERFUMES, que por mais anos que passem se mantém um dos hotéis de charme mais tranquilos e procurados de Cabanas, perto do parque natural. À história já conhecida – uma quinta dos anos 1950 que era produtora de essências de perfume e foi comprada pela atual família, reconvertida em vinha e, mais tarde, em pomar de citrinos com alojamento – soma-se agora um novo capítulo no que toca ao alojamento, com a abertura de dois novos estúdios no edifício original onde funcionava a receção.

Novilho no restaurante Cercle, do chef Francisco Coelho. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

“O estúdio equipado com kitchenette e o quarto duplo oferecem uma componente familiar e outra não familiar”, explica o responsável Pedro Estrela, filho dos donos. Ambos têm uma decoração sóbria e dispõem de um espaço exterior e acesso rápido à piscina de água salgada. Além das espreguiçadeiras, o descanso pode ter lugar no terraço do edifício principal e em camas grandes espalhadas pelo jardim, tudo rodeado por uma mancha verde de 4140 abacateiros e 22 mil laranjeiras. Quem quiser explorar o terreno de 40 hectares tem à disposição novas e robustas bicicletas.

Um miradouro sobre a ria
O Parque Natural da Ria Formosa termina, a oriente, na praia da Monta Rota, mas imediatamente antes estende-se a península de CACELA VELHA, cuja praia da Fábrica foi considerada pelo jornal The Guardian uma das 10 melhores da Europa para fazer caminhadas e uma das 15 melhores do mundo pela revista espanhola Condé Nast Traveller. Palavras para quê? Nada como enterrar os pés na areia, caminhar e inspirar a maresia da baixa-mar, quando muitos mariscadores aproveitam para apanhar bivalves.

Lá em cima, impõe-se o perfil do forte setecentista erguido na antiga vila de Cacela-a-Velha como ponto defensor da costa algarvia. E descobrem-se, ou revisitam-se, uma das vistas mais arrebatadoras do Parque Natural da Ria Formosa, casas brancas algarvias, uma igreja de origem medieval, ruínas islâmicas e um vestígio de muralha construída em taipa. Estes vestígios da passagem dos povos, deixados à vista de todos, lembram como desde há milénios a Ria Formosa é próspera, e continua a sê-lo pela mão dos que nela trabalham.

É justamente pelos canais da ria que a água do mar chega, com a subida da maré, às salinas da TAVIRA SAL, de Rui Dias, a escassos 500 metros da barra de Tavira. De manhã, um conjunto de homens dedica-se à extração do sal de alguns talhões com recurso a grandes pás de madeira. “A produção é dividida em três fases: a receção e retenção da água do mar; o período de evaporação e concentração da água; a cristalização e a colheita do sal”, explica Rui Simeão – nome por que é mais conhecido graças à sua marca. A salina produz em média 1000 toneladas de sal por época e 40 a 80 toneladas de flor de sal por ano.

Tavira Sal (Algarvephotopress/Global Imagens )

Ambos têm certificação DOP, depois de o salineiro, acérrimo defensor da produção artesanal e da qualificação do setor, ter conseguido uma alteração à lei comunitária, ditando que o sal deixaria de ser um produto químico para ser um produto agroalimentar. No fundo, o sal resulta apenas da atuação conjunta da energia solar e do vento, que cristalizam a água em grandes talhões, sendo colhido entre junho e setembro, de duas em duas semanas. A fina película que se cria na superfície da salmoura é a flor de sal e pode ser apanhada até duas vezes por dia – o tal “ouro branco” do Algarve.

Acontece tudo numa área de 13 hectares, dividida em canais e pequenas comportas, e com 500 talhões de fundo de argila limpos periodicamente. Uma vez pronto, o sal é guardado em armazém para ficar a salvo de poeiras e outras impurezas, embalado e vendido, tanto no local, como em lojas gourmet, no mercado de Tavira e em hipermercados. Quando teve de assumir o negócio há 35 anos, Rui Simeão desconhecia a sua rentabilidade. Mas logo que tomou essa consciência investiu amor, suor e conhecimento para tornar o negócio uma “salina modelo” da qual se orgulhasse. O resultado está à vista.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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