São João. A noite mais longa está de volta

Fogo de artifício visto do lado de Gaia. (Fotografia de Miguel Pereira/GI)
O Porto está preparado para voltar a viver a sua maior festa. Depois de dois anos de pandemia - o primeiro sem nenhuma celebração, o segundo com alguma festa, mas muito contida (e sem noitada) - os foliões podem finalmente regressar à rua. Haverá diversões, bailaricos, fogo de artifício e muitos balões a sobrevoar a cidade.

O regresso do Guindalense e outros lugares incontornáveis do São João, no Porto

Na noite mais festiva da cidade, o Guindalense volta este ano a organizar a sua famosa festa de São João. Também estão de regresso o típico arraial nas Fontainhas, e a roda gigante na Rotunda da Boavista. LM

“As pessoas estão ávidas de festa, de alegria, de estarem umas com as outras”, diz Paulo Soares, colaborador do Guindalense FC, associação cujo bar e esplanada é, há várias décadas, um ponto nevrálgico das festividades sanjoaninas. Sobranceiro ao rio Douro, com a Ponte Luís I enquadrada na paisagem, o Guindalense é um local privilegiado para se assistir ao fogo de artifício da Ribeira.

“Será o regresso à normalidade”, refere Paulo, que recorda com mágoa os dois anos passados. “Foi muito difícil para nós não podermos festejar o São João”, admite. Mas a associação não ficou parada: “demos apoio à população aqui da freguesia da Sé, distribuindo máscaras de proteção e viseiras”, conta, até porque o Guindalense “não serve só para organizar festas, também faz serviço social”, diz.

(Fotografia de Rui Oliveira/Global Imagens)

A tradição da festa sanjoanina que se quebrou nos dois últimos anos vinha desde a fundação do clube, em 1976. Ainda antes de ser o Guindalense, funcionava ali “um grupo folclórico chamado Rosas da Fé, que já organizava os seus bailaricos”, conta Paulo.

A festa, no dia 23, vai começar às 15h com as sardinhas, os pimentos assados e o caldo verde para confortar estômagos. Às 22h, arranca a animação musical com o cantor popular Paulo Costa, que faz um intervalo pela meia-noite para se poder assistir ao fogo-de-artifício. A festa continuará pela noite dentro, sem horas para acabar, e “são todos bem vindos”.

Mais lugares para viver o São João no Porto:

Fontainhas

(Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

Considerado um dos bairros mais típicos das festas são-joaninas, as Fontainhas volta a estar em modo de celebração. Foi de forma tímida, com recinto fechado, muitas restrições e álcool gel à entrada que o ano passado o São João regressou ao Passeio das Fontainhas. Mesmo não abrindo na noite de 23, os dias de animação serviram para matar um pouco as saudades da festa, comer sardinha assada e farturas, com vista para o Douro, andar de carrosséis, jogar matraquilhos ou comprar o tradicional martelinho.

Este ano será possível fazer isso tudo sem os constrangimentos do ano passado. Boa oportunidade também para se redescobrir esta pitoresca zona da cidade: admirar o monumento “Da Cidade, às Carquejeiras”, obra do escultor José Lamas dedicado às mulheres que transportavam a carqueja para alimentar os fornos da cidade, desde o rio à parte alta da cidade, subindo a difícil calçada, hoje chamada, precisamente, das Carquejeiras.

(Fotografia de Artur Machado/Global Imagens)

Desde o ano passado que também ali se pode ver o mural da artista Mariana Malhão dedicado à maior festa do Porto. São com 40 metros de comprimento e 10 de altura com desenhos coloridos alusivos aos ícones sanjoaninos, como o martelo, o balão de ar quente e o alho-porro.
Nas ruelas que vão dar a alameda, descubra-se as várias ilhas tradicionais, onde se montam cascatas e se faz festa rija, à moda antiga.

Até dia 3 de julho
Das 12h às 23h; sextas, até à 1h; sábados das 10h à 1h; domingos das 10h às 23h.

Rotunda da Boavista

(Fotografia de Ivo Pereira/Global Imagens)

Desde há uns anos que a roda gigante instalada no Jardim da Rotunda da Boavista, Praça Mouzinho de Albuquerque, é um dos chamarizes da festa de São João nesta zona da cidade. Por 4 euros, pode passar-se um bom bocado a apreciar a cidade bem lá de cima. Mas há muitos outros divertimentos para aproveitar, como carrinhos de choque, a casa de terror, trampolins, carrosséis para os mais pequenos e outros. Isto, além dos comes e bebes da temporada.

Até dia 3 de julho
Das 12h às 23h; sextas, até à 1h; sábados das 10h à 1h; domingos das 10h às 23h.
Roda gigante: 4 euros

No Jardim do Cálem, em Lordelo do Ouro, a festa também já está montada, tal como na Avenida D. Carlos, um pouco mais à frente, no Passeio Alegre.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 


São João do Porto: a agenda da festa (e algumas curiosidades)

O São João está de regresso às ruas do Porto, com várias atividades. Eis alguns destaques da programação, informações úteis e curiosidades sobre a festa. LM

Música na noite da festa

O Chico da Tina com o seu “trap minhoto” é um dos pontos altos da festa na Casa da Música. O espetáculo será ao ar livre, num Cais de Carga transformado em palco, às 23h30. Ainda antes, às 22h, na Sala Suggia, a Banda Sinfónica Portuguesa apresenta-se com um programa musical festivo. A partir das 20h, a dar música na esplanada estará o DJ Rodrigo Affreixo. Nos Jardins do Palácio de Cristal, às 20h, vai ouvir-se música popular com as atuações de Romana, Saúl e Marante. Duas horas depois, no Largo Amor de Perdição, é a vez de se apresentarem Toy e José Malhoa. No dia seguinte, a Banda Sinfónica Portuguesa volta a atuar, desta vez na Concha Acústica dos Jardins do Palácio.

Casa da Música
Av. da Boavista 604-610
Atuações a partir das 20h
Grátis

Jardins do Palácio de Cristal
Rua D. Manuel II
Atuações a partir das 20h
Grátis

Largo Amor de Perdição
Atuações a partir das 22h
Grátis


Passear pela cidade e ver as montras

São 56 as montras inscritas no concurso de São João, promovido pela Câmara Municipal do Porto. Haverá prémio para as três melhores, escolhidas por um júri. O público também terá uma palavra a dizer, visto que pode votar online nas suas favoritas, através da leitura de um QR Code presente no identificativo de cada montra a concurso. Cada pessoa pode votar em mais do que uma montra a concurso, mas apenas uma única vez. O ano passado o vencedor foi a loja/atelier de arte e ilustração Circus Network, na Rua do Rosário. Informações e mapa das lojas aqui.


Visitar a cascata comunitária no Mercado do Bolhão

Tal como tem acontecido nos últimos anos, realizaram-se workshops, na Oficina Brâmica, de construção de vários elementos para a cascata sanjoanina comunitária do Mercado do Bolhão, nos números 506-508 da Rua de Fernandes Tomás. Neste espaço, a partir da próxima terça-feira, a cascata já estará montada e visitável, até 4 de julho. Funciona todos os dias, exceto domingo, das 8h às 20h (sábado, até às 18h).


Assistir às rusgas

Na semana a seguir à festa, dia 2 de julho, um sábado, os grupos das várias freguesias vão desfilar pela cidade. Às 17h, partem da Praça da Batalha em direção à Rua de Santa Catarina, passando pela Rua Fernandes Tomás e a Avenida dos Aliados até à Praça General Humberto Delgado.

A União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória será a primeira a exibir-se no cortejo são-joanino, seguindo-se a União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, da Junta de Freguesia de Campanhã, da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, Junta de Freguesia de Ramalde, Junta de Freguesia de Paranhos e a Junta de Freguesia do Bonfim.

De recordar que na última edição, em 2019, a freguesia de Campanhã foi a vencedora, pelo quarto ano consecutivo.

(Fotografia de Ivo Pereira/GI)


Regata de barcos rabelos

No dia 24, o rio Douro – entre o Cabedelo e a Ponte Luís I – enche-se de barcos rabelos com velas das várias casas de vinho do Porto. É a XXXVIII Regata de Barcos Rabelos da Confraria do Vinho do Porto, que se realiza sempre no dia de São João. Terá início às 18h.


CURIOSIDADES

Alho porro

A festa de São João tem origem pagã, tendo começado por ser uma festa para celebrar o solstício de verão. Posteriormente, foi cristianizada, tal como aconteceu com outras celebrações pagãs. Bater com o alho porro na cabeça de alguém é uma forma de cumprimento e a afastar o “mau olhado”. Pode não parecer, mas o alho-porro é o comestível alho-francês, já em flor.

Martelinhos

Os martelinhos de plástico substituíram em parte o alho-porro. Estes foram criados em 1963 por Manuel António Boaventura, da Fábrica Estrela do Paraíso, em Rio Tinto. O brinquedo fez-se famoso entre os estudantes que o utilizaram na Queima das Fitas nesse mesmo ano. O sucesso fez com que as lojas tivessem muitos martelinhos disponíveis na época sanjoanina que veio logo a seguir.

(Fotografia de Maria João Gala/GI)

Fogueiras

Saltar à fogueira faz parte da antiga tradição pagã de celebração do solstício de verão. Durante a Idade Média tornou-se típica da festa de São João. Hoje, é característica comum de todas as festas de São João que se celebram na Europa. Mas também das festas juninas do Brasil, herdeiras desta tradição.


INFORMAÇÕES ÚTEIS

Condicionamento do trânsito nos dias 23 e 24 de junho

CASA DA MÚSICA

Corte total de via da Rua de Ofélia Diogo da Costa, a partir das 15h. Corte total de via da Rua de 5 de Outubro (exceto STCP) a partir da interseção com a Rua de Domingos Sequeira, a partir das 21h.

CORDOARIA

Corte total de via do Campo Mártires da Pátria (desde a interseção com a Rua Dr. Barbosa de Castro até à interseção da Rua Dr. Ferreira da Silva), a partir das 20h30.

ALIADOS

Corte total de via, a partir das 21 horas do dia 23 de junho até às 3h do dia 24. Rua de Camões desde a interseção com a rua de Gonçalo Cristóvão; Praça da Trindade e rua da Trindade; Rua Clube dos Fenianos; Av. dos Aliados; Rua de Mouzinho da Silveira; Rua da Restauração; Rua da Alfândega (desde a interseção com a Alameda Basílio Teles) e Rua do Infante D. Henrique até à interseção com a Av. Gustavo Eiffel.

Devido ao corte da circulação pedonal no tabuleiro superior da Ponte Luís I, a partir das 23h, o Metro circulará até às 23h45 e retomará quando for possível. O tabuleiro inferior da ponte estará igualmente encerrado.

A circulação na Ponte do Infante poderá ser condicionada caso se verifiquem grandes constrangimentos de circulação.

 


Comida, natureza e outras ideias para viver as Festas de São João de Braga

As Festas de São João de Braga já animam a cidade, do centro histórico ao Parque da Ponte. É o regresso em pleno à celebração fora de portas, após dois anos de constrangimentos causados pela pandemia. Eis algumas sugestões de paragem, entre monumentos e novidades de comer e beber. CF

Casa dos Coimbras

A CASA DOS COIMBRAS é um lugar cheio de História, que iniciou novo capítulo no verão passado, quando abriu ao público com diferentes valências, pela mão da família Lencastre, proprietária, e da empresa Signinum. Esta última foi responsável pelo projeto de conservação e restauro, até porque inserida naquele património está a capela privada mais antiga da cidade. A Capela dos Coimbras, ou Capela de Nossa Senhora da Conceição, foi construída entre 1525 e 1528, a mando de D. João de Coimbra, provisor e vigário-geral da diocese de Braga, e fica colada à IGREJA DE SÃO JOÃO DO SOUTO, local de devoção indissociável das festas são-joaninas, que terão nascido aí.

O conjunto arquitetónico Casa e Capela dos Coimbras está classificado como Monumento Nacional, revela o coordenador do espaço, João Ferreira. E que melhor convite para entrar? Para lá daqueles muros, há um café-museu aberto a exposições, assim como um jardim-esplanada, de acesso livre, que recebe espetáculos e outros eventos (o São João deverá ser celebrado com DJ). A carta assenta em cocktails e snacks, como tábuas mistas, tostas ou hambúrgueres. Já a visita à capela e à torre com vitrais coloridos, a que se chega por uma escada em caracol, requer bilhete.

A Capela dos Coimbras. (Fotografias de Pedro Granadeiro/GI)


Parque da Ponte

Este parque urbano, no extremo sul da Avenida da Liberdade, é palco habitual de arraiais são-joaninos. A música mistura-se com os diversos pontos de comes e bebes (das sardinhas assadas às bifanas e farturas), num espaço com árvores, jardins, esculturas, um lago, mesas de piquenique e instalações sanitárias. A parte exterior – que é também a mais antiga – cresceu em redor da CAPELA DE SÃO JOÃO DA PONTE, construída em 1616. É lá que se celebra, no dia 24, às 11h, a Eucaristia Solene do Nascimento de São João Baptista. O parque acolhe ainda outras iniciativas, desde cantares ao desafio até um torneio de malha.

Parque da Ponte, Braga. (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

A capela de São João da Ponte, no Parque da Ponte.


Levar os santos para casa

Em junho, os santos populares também chegam à livraria Centésima Página, que tem expostas peças de três criadores: o artesão António Costa, com os seus Papeludos feitos de pasta de papel; e as ceramistas Conceição Sapateiro e Maria João Sampaio. As figuras, representando São João, Santo António e São Pedro (e ainda manjericos, gigantones, homens e mulheres minhotos, no caso dos Papeludos), podem ser adquiridas por valores desde 15 euros.

Os Papeludos, do artesão António Costa.


Mais de mil jogos de tabuleiro

Outro atrativo do Parque da Ponte é a Ludoteca da Estufa, equipamento público nascido numa antiga estufa municipal e dinamizado pela associação Cidade Curiosa. Vale a pena apreciar a arquitetura do edifício, de cor amarela, que já serviu de videoteca e hoje guarda acima de 1300 jogos de tabuleiro, para diferentes faixas etárias. Entre jogos de estratégia e de xadrez, há muito para explorar ali, de forma gratuita, todos os dias – e existe serviço de empréstimos. Tel.: 916861891. Das 9h às 12h30 e das 14h às 19h; sexta e sábado, das 9h às 12h30 e das 14h às 22h30; domingo, das 15h às 19h. Encerra nas manhãs de domingo e segunda.

A Ludoteca da Estufa, no Parque da Ponte.


Brunch para todas as horas

O Méze, na Praça Conde Agrolongo, tem um menu versátil e com opções 100% vegetarianas, que inclui desde panquecas e bowls até produtos de cafetaria ou cocktails. Uma alternativa para quem dispensa a habitual sardinha assada.

Quando Nuno Carvalhal decidiu avançar com um negócio próprio na restauração, após outras experiências na área, fê-lo com o sogro, Paulo Morais, e focado no brunch. O Méze, cujo nome remete para outras latitudes e para uma ideia de convívio e partilha, abriu em março do ano passado, na Praça Conde Agrolongo, em Braga. “Queríamos criar a nossa identidade dentro do conceito de brunch, não copiar o que já existe; temos um ou outro prato que vai buscar sabores mais tradicionais, como a alheira”, conta ele, antes de fazer chegar à mesa a panqueca batizada com o nome da casa – uma proposta salgada, de porte generoso, que envolve cogumelos Portobello, espinafres e molho holandês com alho negro.

Panquecas, tostas, batidos e cocktails são algumas das propostas do Méze.

A oferta contempla panquecas, tostas, tapiocas, uma variedade de bowls, e em breve chegam bagels e bolos caseiros. Nas bebidas, dominam os cocktails, os sumos naturais e os batidos, sem esquecer a cafetaria. É uma ementa versátil, com algumas opções veganas, que se adapta a diferentes fases do dia e está disponível de manhã à noite, durante todo o horário de funcionamento – sendo o fecho ampliado até às 23 horas no fim de semana que marca o auge dos festejos de São João.

“Dá para vir beber um café, um cocktail, ter uma experiência mais saudável ou mais gulosa”, observa Nuno, sublinhando a aposta na qualidade dos ingredientes. O Méze tem parcerias, por exemplo, com a padaria bracarense Nørre (usa o seu pão artesanal de fermentação lenta e natural) ou com a Quinoa Portuguesa (de produção biológica, em Barcelos). E os legumes e frutas chegam ali vindos, essencialmente, do mercado municipal, pela mão da D. Tina.

O espaço de Braga abriu portas no ano passado.


Destaques do programa

Tradições seculares, espetáculos, exposições, bombos, cavaquinhos, concertinas, cantares ao desafio, cabeçudos e gigantones, fogo de artifício, arraiais e muita devoção. Tudo isto integra o programa das Festas de São João de Braga, que já está em curso, atingindo o ponto alto na noite de 23 para 24 de junho.

Concertos
Entre os espetáculos musicais agendados, destacam-se o dos Santamaria, na madrugada de 23 para 24, na Avenida Central; e o de José Cid, que atua, no dia 24, no mesmo local.

José Cid atua dia 24. (Fotografia de Steven Governo/GI)

Cancioneiro reinterpretado
Uma novidade é a apresentação do projeto “São João Hoje” – Cancioneiro Sanjoanino Bracarense, que foi alvo de reinterpretação, de modo a acompanhar as sonoridades atuais. A conferir na Gala Sanjoanina, dia 21, às 21h, no Theatro Circo.

Cortejo das Rusgas e Fogo da Ponte
Na noite de 23 de junho, o Cortejo das Rusgas parte da zona do Arco da Porta Nova em direção ao Parque da Ponte, recriando uma velha tradição. Segue-se um espetáculo de pirotecnia no Monte do Picoto.

Cortejo Sanjoanino
No dia 24, realiza-se o Cortejo Sanjoanino, marcado por três representações teatrais: o Carro das Ervas, a Dança do Rei David e o Carro dos Pastores (que, neste ano, é novo). Os carros alegóricos percorrem as ruas de manhã e de tarde.


Curiosidades sobre a festa

Origens
São apresentadas como as “festas são-joaninas mais antigas de Portugal”, com raízes em 1150, ano em que foi fundada, em Braga, uma igreja dedicada a São João. Em meados do século XIX, havia duas romarias coincidentes em sua honra, que acabaram por se fundir: a de São João da Ponte e a de São João do Souto.

Números
A organização espera mais de um milhão de visitantes nesta edição das Festas de São João de Braga, que envolvem cerca de dez mil pessoas e 365 entidades. O programa contempla mais de 150 iniciativas.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 


São João em Vila do Conde: sardinhas, marchas e fogo no rio Ave

Dois ranchos rivais, um centro histórico engalanado, fogo-de-artifício no rio, Toy e uma pedrinha na fonte. Assim se faz a festa do padroeiro São João em Vila do Conde. ATM

A rivalidade entre os dois ranchos da terra tem cem anos. É ela que faz do S. João de Vila do Conde uma festa única e cheia de tradições de outros tempos. Há cascatas espalhadas pela zona histórica, manjericos e alho-porro, cantares ao desafio, farturas e carrosséis, sardinhas assadas, marchas luminosas na avenida central, fogo-de-artifício junto ao rio Ave e festa pela noite. No final, a pedrinha na fonte de S. João e um segredo para revelar.

Vila do Conde. (Fotografia de Artur Machado/GI)

O programa começa bem antes da grande noitada: hoje mesmo há cantares ao desafio. Na Igreja Matriz, o Rancho da Praça. Do outro lado, junto ao Mosteiro de Santa Clara, o Rancho do Monte. Traja-se a rigor e ergue-se a voz a plenos pulmões, numa espécie de cantares ao desafio. São os cantares a S. João que, a uma semana do dia, anunciam as festas do padroeiro.

A estátua do padroeiro. (Fotografias de Artur Machado/GI)

Desde sábado, inauguraram-se as cascatas. São 12 espalhadas pela zona histórica da cidade e ficam até 26 de junho. Segui-las é uma boa forma de percorrer os sítios mais pitorescos da festa.

Comer e beber

À beira-rio, não faltam opções para comer sardinha assada. Na grande noite, Paulo Rodrigues, do Alfândega, não tem mão a medir. É dele o assador. Ali, chegam a vender-se 1500 sardinhas em meia dúzia de horas. Em frente à nau quinhentista, com uma esplanada virada para o rio, em pleno centro da festa, o Alfândega está em lugar privilegiado. Na noitada de S. João, a dose com dez sardinhas, batatas e pimentos vai custar 30 euros. No Bar da Praça, ali a dois passos, mais esplanada, mais sardinhas assadas. Ali, a iguaria típica dos santos populares mistura-se com o rancho – um dos protagonistas da festa – e o jantar é entre cantigas de outros tempos, t-shirts e cachecóis do rancho, entre “pracistas de alma e coração”.

Paulo Rodrigues, do restaurante Alfândega. (Fotografias de Artur Machado/GI)

Desfile na avenida

A noite mais longa do ano começa com as marchas luminosas dos ranchos do Monte e da Praça. Nos carros alegóricos, preparados em segredo, em esferovite ou madeira, seguem réplicas dos monumentos da terra. Pelo meio, são centenas, de arcos e balões na mão, a desfilar pela avenida, a partir das 22h. Findo o desfile, a festa segue na “casa” de cada um: a Praça dança na praça de S. João, junto ao mercado; o Monte, no monte do Mosteiro, junto a Santa Clara.

Vila do Conde, 10/06/2022 – Reportagem sobre São João, em Vila do Conde.
Decoração das ruas para a festa do S. João.
(Artur Machado / Global Imagens)

O fogo-de-artifício no rio, com direito a cachoeira na ponte sobre o Ave, é à 1h30. A beira-rio, o Mosteiro ou a Capela do Socorro têm vista privilegiada. Depois, a festa segue com o Toy, no palco no Cais da Alfândega.
Há farturas e carrochéis para os mais pequenos no jardim da avenida Júlio Graça. Para os jovens é junto ao rio, a nascente da ponte, na avenida do Ave. Antes da noite acabar, é tradição atirar a pedrinha. “Quem conseguir acertar [no nicho da Fonte de S. João – situada na rua D. Nuno Alvares Pereira, junto ao Mosteiro], este ano irá casar”.

Animação infantil no Cais da Alfândega.

Ida à praia

No dia do padroeiro de Vila do Conde à noite, há mais uma tradição para cumprir: a ida à praia. Milhares seguem de mãos dadas ao som da música do seu rancho, a cantar e a dançar, até à frente marítima da cidade. Compete-se pelo rancho que leva mais gente, canta mais alto, tem a festa mais animada. A noite fecha à meia-noite com a sessão de fogo preso na Praça D. João II.

 


São João em Valongo: a bugiada volta à rua em Sobrado

Os Bugios e Mourisqueiros prepararam-se para mais uma ronda de luta pela estátua milagreira de S. João, na pequena vila de Valongo que recria, todos os anos, uma festa singular. DM

Por estes dias, há um ambiente de feliz alvoroço na vila de Sobrado, em Valongo. Depois de dois anos sem se realizar, à conta da pandemia, a festa da Bugiada e Mouriscada regressa este ano, com os ensaios dos rituais já em curso. “Estamos todos à espera que chegue o dia”, sublinha o presidente da Associação São João de Sobrado/Casa do Bugio, António Marques. O programa de animação e concertos já arrancou há alguns dias, mas o dia forte é 24, com a recriação da luta entre bugios (cristãos) e mourisqueiros (mouros) pela posse da estátua milagreira de S. João.

Festa de São João em Sobrado. (Fotografia de Ivo Pereira/GI)

Desde há muitos anos, com a origem desta festa a perder-se no tempo, que a população da vila recria, por sua iniciativa e com organização própria, uma lenda local que descreve um confronto dos tempos da presença muçulmana no norte de Portugal. Em curtíssimo resumo de uma história, esta luta acontece porque os mourisqueiros se recusam a devolver aos bugios a estátua de S. João que estes, sensibilizados pela gravidade da doença da princesa moura, tinham emprestado aos rivais para que mediasse uma cura. A princesa curou-se, mas a estátua não foi devolvida.

Os mourisqueiros, na última edição da festa, em 2019. (Fotografias de Ivo Pereira/GI)

E é por isso que, ao longo dos vários momentos da festas, as centenas de bugios – homens e mulheres anónimos, mascarados com trajes e adornos coloridos – gritam “ela é nossa!”. Desde bem cedo que os grupos rivais realizam vários rituais, sem nunca de cruzarem, com a multidão a crescer para aquele que é a primeira grande aparição pública, entre muita música, a partir das 12h: as “Danças de Entrada”. Daí em diante, é toda uma festa de alegria, danças, sátira, caricatura e recriações etnográficas, com antigos costumes a serem encenados, com os bugios à mistura. “Isto não é uma festa de gala, é uma festa para ser vivida. E por isso, quem quiser antes saber mais sobre a festa, poderá perceber melhor o que está a acontecer. E deve vir com roupa e calçado confortável, para aproveitar bem o dia todo”, sugere António Marques.

A festa de São João, na vila de Sobrado, em Valongo, já arrancou.

Os ensaios já animam a vila e, se quiser entrar no espírito desta garrida e animada festa cuja origem se perdeu nos tempos, pode assistir ainda ao último ensaio público. Realiza-se este domingo, junto à Casa do Bugio (que fica perto do centro da vila) e chama-se “Ensaio dos Tremoços”, por estes serem distribuídos no final. Todos os anos, a emoção cresce com o desenrolar do conflito, até ao embate final – e não vamos estragar o final a quem não conhece a Bugiada. Um final que, apesar de conhecerem bem, os sobradenses aguardam sempre com a mesma ansiedade. E esta é apenas um dos aspetos curiosos desta festa popular com grande riqueza etnográfica, que prepara uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade, juntamente com outras festas ibéricas com máscaras.

Comer e beber

O Largo do Passal, e as ruas e recantos ao redor, oferece uma fartura de espaços onde comer e beber. Renovado e a estrear para esta festa, o próprio largo já tem montado um conjunto de bancas de gastronomia das coletividades e da Comissão de Festas onde se pode comer petiscos locais. E ali na vizinhança, ao alcance de curtas caminhadas, há outros espaços de comida e bebida que vale a pena experimentar, nestes dias preparados para servir com abundância.

Conhecer melhor uma festa singular

Para saber mais sobre esta festa singular, pode consultar vários sites, livros e até um repositório académico, já que a Universidade do Minho tem em curso um projeto de investigação sobre ela (pode pesquisar no respetivo repositório, de acesso aberto) e ainda nestas páginas web: bugiosemourisqueiros.blogspot.com; saojoaosobrado.wordpress.com. No Youtube, encontra ainda vários vídeos sobre a Bugiada.

Uma curiosidade

Apesar de serem os “inimigos” dos bugios, que representam os cristãos, são os mourisqueiros (os mouros) os únicos que vão na procissão que arranca no final da missa solene, carregando os andores dos santos venerados na igreja de Sobrado, incluindo o de S. João.

A procissão onde se carregam andar dos santos venerados, faz parte das festividades.

Levar uma recordação

Ímanes para o frigorífico e miniaturas de bugios, canecas ou sacos de pano são alguns dos artigos à venda na loja da Casa do Bugio, que pode encontrar numa banca no Largo do Passal.

Parques e vaivém

Haverá seis parques de estacionamento nas entradas da vila de Sobrado, a partir dos quais se pode alcançar, a pé, o local da festa. Porém, pode-se ainda fazer esse trajeto nos autocarros que vão circular em modo vaivém entre os parques e o Largo do Passal, ao longo de todo o dia.




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