Melgaço: Passear pelas vinhas, entre o rio e a montanha

Quinta do Louridal (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)
Provas diretamente da cuba, piqueniques na vinha, passeios e almoços harmonizados. Há muito para fazer em terras de alvarinho, e tudo é embalado nas histórias e memórias de quem o produz.

Vê-se plantada junto ao rio, mas a casta rainha da sub-região de Monção e Melgaço também não se deixa intimidar pela altitude, e no entremeio, pinta de verde a paisagem para não deixar dúvidas que se está em terras de alvarinho.

“Melgaço é um anfiteatro natural”, lança Élio Barreiros, enólogo da Quintas de Melgaço, produtora há mais de 20 anos. O vale em que o concelho está inserido oferece uma boa dose de exposição solar, a proteção das montanhas e a brisa q.b. do rio, explica. Esta disposição do território permite ter vinhas de alvarinho em três micro-terroirs distintos, que imprimem uma identidade única ao vinho.

Falar de alvarinho é também falar de pessoas: de emigrantes que regressaram a casa e investiram na terra e de famílias que encontraram na produção de uva alvarinho uma alternativa à agricultura de subsistência, e à emigração. A vinha foi o passaporte para uma vida melhor, e esse testemunho está impresso em cada garrafa.

Enoturismo digital
Durante o período de confinamento o Soalheiro lançou as Digital Tastings, provas de vinhos à distância, que continuam disponíveis. O kit de prova, adquirido através da loja online, inclui acesso ao vídeo comentado pelo enólogo António Luís Cerdeira, um livro de receitas e um voucher para visitar a adega com validade de um ano.

 

QUATRO HISTÓRIAS DE ALVARINHO:

# Quinta de Soalheiro | Na vanguarda de mão dada à tradição

Há sempre novas ideias a fervilhar na Quinta de Soalheiro, e por isso, uma grande probabilidade de a cada visita haver novidades dos irmãos Maria João e António Luís Cerdeira. Afinal, carregam o legado da primeira marca de alvarinho de Melgaço, projeto pioneiro que o pai criou em 1982, e não têm tempo para conformismos. “Não podemos estar parados. Há sempre vontade de inovar e de experimentar”, assume Maria João, com a premissa de que tudo o que se cria tem de ser repetível e sempre com a casta alvarinho na essência. É que estar na vanguarda também significa andar de mãos dadas com a tradição e a sustentabilidade. Quando Maria João se juntou ao projeto da família, em 2004, encarregou-se de certificar toda a vinha em agricultura biológica. Daí que a produção de infusões também tenha surgido naturalmente, como complemento à viticultura. “Para estimular a biodiversidade, ter uma agricultura sustentável e equilíbrio do ecossistema”, explica. A mais recente experiência dos irmãos Cerdeira foi a plantação de uma vinha de alvarinho a mais de mil metros de altitude, na Branda da Aveleira, no verão de 2019. Bom pretexto para uma visita à aldeia e ao vale glaciar.

Em matéria de enoturismo, também não faltam propostas: aos passeios na vinha e pelas aromáticas, e às provas de vinho ao ar livre, juntam-se experiências gastronómicas na Quinta de Folga (projeto de Maria João e do marido). Ali produzem fumeiro tradicional, e acompanham as provas com compotas e legumes da horta biológica, ou até um almoço caseiro, em ambiente descontraído e bem disposto, onde apetece estar.

Quinta de Soalheiro
Alvaredo, Melgaço
Tel.: 251416769
Web: soalheiro.com
Visita com prova a partir de 6 euros

 

# Alvarinho Poema | Um paraíso à beira rio

Há lugares que enchem a vista, e a Quinta do Louridal é disso exemplo. A propriedade está instalada junto ao rio Minho, em jeito de auditório, onde as vinhas se dispõem à mercê da brisa fluvial e se deixam cobrir pelo sol. “Isto aqui é tão bonito que só pode ser um poema” pensou a família Teixeira, quando lançou a marca Alvarinho Poema, batizada a propósito. O projeto começou há 20 anos, mas a propriedade ribeirinha já está na posse da família desde o século XVII. “E sempre se produziu vinho aqui”, assegura Maria de Fátima, a matriarca. Era até usado em cerimónias religiosas na vila (o chamado vinho de missa), e vendido aos restaurantes galegos. Hoje, contribuem para o Poema o irmão António – que aos 10 anos já atravessava o rio para levar o vinho ao outro lado da fronteira -, a filha Sofia, o genro Vítor, e os rebentos mais jovens da família, que também ajudam nas vindimas. Dos quatro hectares de vinha, são produzidos dois vinhos alvarinho, o Reserva e o Novellis, com uma produção limitada a 12 mil garrafas por ano. Por marcação, a família dá as boas-vindas a quem quiser visitar o seu pequeno pedaço de paraíso, conhecer os outros residentes da quinta (ovelhas, patos, porcos), fazer uma prova de vinhos sob o alpendre ou até um almoço com os produtos locais e aquela bela paisagem de fundo.

Quinta do Louridal
Rua do Louridal, 342, Melgaço
Tel.: 910862183
Web: alvarinhopoema.com
Visita com prova: 40 euros

 


Quando Melgaço é abraço: 8 sugestões de vinhos do crítico Fernando Melo


 

# Quinta do Regueiro | Pequeno produtor de grandes vinhos

Dar tempo ao tempo é o segredo para se fazer um grande vinho. Quem o diz é Paulo Cerdeira Rodrigues, produtor da Quinta do Regueiro, mas assume que também é preciso juntar-lhe uma boa dose de “paixão e muita dedicação”. Foi com essa receita que em 2019 produziu dois dos melhores vinhos brancos do país, segundo as revistas da especialidade, o Barricas e o Jurássico (esgotado três meses após o lançamento). “Lançámos o Jurássico para comemorar os 20 anos da Quinta do Regueiro. É um vinho único na região. Tem 10 anos de estágio em inox e mais dois anos em garrafa, com um perfil completamente diferente mas que ombreia com os melhores vinhos do mundo. E nasceu quase por acidente na adega, porque havia sempre uma cuba que não se vendia e ia ficando”, explica Paulo. É um vinho disruptivo, que o produtor acredita vir mostrar a capacidade da região em produzir vinhos com grande potencial de envelhecimento e durabilidade, e que vai definir, assume, a orientação da Quinta do Regueiro daqui em diante.

Quinta do Regueiro – Paulo Cerdeira Rodrigues (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Aos vinhos premiados juntou-se-lhe ainda a distinção de Produtor do Ano, pela revista Vinho Grandes Escolhas. “Este último ano foi um ano de sonho”, admite Paulo, ainda que surpreendido pelo reconhecimento do trabalho que começou há 20 anos. Na altura, tudo teve início com uma pequena plantação de alvarinho, cerca de um hectare, ideia da sua mãe, para deixar a agricultura de subsistência, e vender as uvas a produtores de vinho. Com o pai emigrado na França, era ele quem subia ao trator e se ocupava da vinha, e aos 23 anos, convencido do potencial da região decidiu produzir o seus próprio vinho. “A primeira colheita nasce em 1999, no fundos da casa”, recorda.

Em breve, irá abrir o novo edifício, onde já funciona a adega, e que vai albergar uma nova sala de provas e loja. Mas entretanto continua a receber visitas (por marcação), de quem quiser provar diretamente da cuba alguns dos tesouros que ainda possa ter por lá. “Agora todos os anos guardamos cerca de três mil litros de vinho para estagiar pelos menos oito a 10 anos. É preciso dar tempo ao tempo. Os vinhos estão bons, mas lançá-los agora era um crime, porque para o ano vão estar muito melhores”, defende. Há que ser paciente.

Quinta do Regueiro
Coto, Alvaredo
Tel.: 966854542
Web: quintadoregueiro.com
Visita com prova a partir de 5 euros

 

# Quintas de Melgaço | Um postal da região

São 530 pequenos produtores que fazem a Quintas de Melgaço. A empresa, fundada em 1994, consegue por isso ter vinhas – 90% das quais de casta alvarinho – dispersas pelos três micro terroirs presentes no concelho: junto ao rio, em solos de aluvião, em zonas de transição, e em altitude, com solos de granito. Características que, alerta o enólogo Élio Barreiro, em separado, vão resultar vinhos de perfis completamente distintos, mas que quando se juntam formam um “verdadeiro postal de Melgaço”. É desta fusão que nasce o QM Alvarinho, o clássico da marca, e também o QM Homenagem, que tal como o nome deixa adivinhar é dedicado ao fundador da empresa, Amadeu Abílio Lopes, emigrante no Brasil regressado à terra com o sonho de unir os produtores de uva do concelho sob o mesmo estandarte.

 

Ainda que dispersas, uma visita à adega da Quintas de Melgaço também inclui uma passagem pelas vinhas, por esta altura viçosas e de cachos cheios, onde, aliás, se pode fazer um piquenique (inclui um cesto com duas garrafas QM, queijos e compotas). Quem quiser passar mais tempo sob as videiras, pode juntar à experiência um sofá (sim, isso mesmo) para confortavelmente disfrutar de um copo de alvarinho.

Quintas de Melgaço
Ferreiros de Cima, Alvaredo
Tel.: 251410020
Web: quintasdemelgaco.pt
Visita com prova: 25 euros




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