Lupin: A nova série da Netflix que nos faz torcer pelo ladrão

"Lupin" é a nova série francesa da Netflix.
É mesmo assim: quando torcemos pelo ladrão e o transformamos no bom da fita, isso quer dizer que fomos conquistados. É o que acontece com Assane Diop, personagem interpretada por Omar Sy na série francesa da Netflix “Lupin”.

Disponibilizada pela plataforma de streaming no início de janeiro, chegou rapidamente aos primeiros 10 títulos mais populares do catálogo em Portugal (enquanto escrevemos este artigo, ocupa a primeira posição). De acordo com as previsões da própria empresa, a história deverá ter sido vista, quando estiveram decorridos os primeiros 28 dias, a 15 de fevereiro, por qualquer coisa como 70 milhões de pessoas.

Se assim for, ultrapassará sucessos como a espanhola “A casa de papel” (assistida por 65 milhões de membros no mesmo período) e as norte-americanas “Gambito de dama” (62 milhões) e “Bridgerton” (para a qual se prevê uma audiência de 63 milhões).

Particularmente popular também no Brasil, Vietname, Argentina, Alemanha, Itália, Espanha, Polónia, Holanda, Filipinas e Suécia, “Lupin” logra ainda de já se ter tornado na primeira série francesa a alcançar o top 10 da Netflix nos Estados Unidos. A culpa é atribuída à trama em torno do homem que jurou vingança em nome do pai, preso por um crime que não cometeu 25 anos antes, e cuja vida é inspirada pelas aventuras do famoso Arsène Lupin, do livro de Maurice Leblanc. A cereja no topo do bolo é Omar Sy, o ator nascido em França, filho de um casal de imigrantes: ela uma governanta da Mauritânia e ele um trabalhador da indústria automóvel oriundo de uma família senegalesa de tecelões.

O protagonista, com 43 anos feitos no passado dia 20, tornou-se conhecido internacionalmente ao dividir o grande ecrã com François Cluzet em “Amigos improváveis”, de 2011. Este filme francês não só foi o mais visto no seu país no ano do seu lançamento, como permanece na história como o mais rentável de sempre em França (de recordar que o valor arrecadado com a venda dos direitos da adaptação do livro autobiográfico “Le second soufflé” foram doados a uma associação de ajuda a portadores de deficiência motora).

“Lupin”

 

Pela sua interpretação nesta longa-metragem, Sy arrecadou o prémio de Melhor Ator nos César, os galardões mais importantes da Sétima Arte francesa, batendo Jean Dujardin em “O artista”, título que acabaria, nos Oscars desse mesmo ano, por ser agraciado com a estatueta de Melhor Filme. Para já, no que toca ao cavalheiro Assane Diop no original da Netflix que está a arrebatar o Mundo, a crítica não podia ser mais positiva. E Omar Sy não podia estar mais contente, apelidando de “loucura” as previsões da plataforma de streaming que apontam para os 70 milhões de espectadores.

Um Lupin moderno e negro
“Os ingleses têm James Bond. Nós temos Arsène Lupin”, disse o ator recentemente, sobre a figura criada no início do século XX pelo romancista Maurice Leblanc. “Ele é brincalhão, ele é inteligente, ele rouba, ele está rodeado de mulheres. Além disso, ele é uma personagem que interpreta personagens. Para um ator, é o melhor”, acrescentou Sy, que assina também a produção artística da série.

Tal como a personagem Assane Diop invade e apropria-se dos sentimentos de quem assiste à história da Netflix, também o seu representante se foi deixando apoderar pelo Lupin “original”: Sempre foi apenas uma figura que se via unicamente obrigado a “conhecer” por fazer parte da cultura do seu país, mas acabou por se transformar num “vício”.

Omar Sy

 

O resultado é uma homenagem transversal aos cinco capítulos que compõem a trama. “O Lupin era um observador atento à sociedade e queríamos que Assane também o fosse. Ele não precisa de muito para se disfarçar: junta-se ao tipo de pessoas que passam despercebidas e simplesmente desaparece”, explicou Sy.

A cartola e o monóculo que ajudaram, quando Arsène nasceu, em 1905, a torná-lo tão popular dão aqui lugar às boinas e aos sobretudos. O mais notório é, ainda assim, o facto de essa personagem de Leblanc ser bem mais jovem e negra. Para Sy, trata-se de “dar um rosto novo ao que significa ser-se francês nos dias de hoje”. “O estereótipo mudou”, frisa o ator, que cresceu na zona de Trappes – um dos principais pólos de recrutamento do Estado Islâmico em França nos últimos anos. Aqui, teve uma infância feliz e que lhe deu “mundo”. “Viajei pelo planeta ao andar de apartamento em apartamento no prédio onde cresci. Havia de tudo, de todas as línguas, todos os cheiros, todas as cores… Esse é a minha França, aquela da minha infância, e é por isso que tenho a abertura que tenho hoje”, recordou.

 

Mais: o “Lupin” da Netflix é, também, uma reflexão sobre a importância dos pais na vida dos filhos e de como o que os primeiros fazem determina o futuro dos segundos. “É a primeira vez que interpreto esse tipo de pai, que tem muita bagagem e muitas perguntas”, confessou Omar Sy, casado desde 2007 com Hélène Sy, com quem tem cinco crianças. “Sempre me interessei pela paternidade. Não é fácil, e nunca sabemos se fomos bons ou maus pais até os nossos filhos crescerem”, admite.

Tal como a sua personagem – que adquira do progenitor a paixão por Lupin e a passa, depois, ao filho, também Omar Sy dá valor “à ideia de herança”. “O que retemos e o que passamos aos nossos descendentes. Para mim, esse é o verdadeiro significado da vida. É o que nos torna humanos”.




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