A Igreja de Nossa Senhora de Fátima foi projetada pelo arquiteto Luiz Cunha, ligado ao Movimento de Renovação da Arte Religiosa, e inaugurada em 1968. “Na altura, era um projeto muito arrojado”, até porque, vista do exterior, lembrava uma fábrica de cerâmica ou algo semelhante, diz o padre Pedro Barros, convidando-nos a mergulhar naquela igreja construída com tijolo de burro, algum betão à vista nas estruturas, que “só se percebe entrando”. A porta costuma estar aberta, e os visitantes são bem-vindos.
“Quem a vê de fora não tem noção do que é lá dentro”, reforça Paulo Miranda, arquiteto e professor que está a fazer um doutoramento em teoria e história da arquitetura, na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, sobre “a originalidade e a novidade que Luiz Cunha trouxe para a arquitetura das igrejas”.
No interior, a disposição da assembleia sugere um anfiteatro. “Não há aquele corredor central com o altar no meio, e quando estamos lá em celebração conseguimos ver a cara das outras pessoas, não só as costas”, aponta, frisando a ideia de encontro e a relação visual que se cria entre a comunidade.
Em destaque estão ainda obras de escultura e pintura de Luiz Cunha, como o crucifixo em espelhos, em que nos vemos refletidos em Cristo; e a imagem de Nossa Senhora de Fátima composta por fatias de madeira. “Ele não é só um arquiteto, é um artista”, sublinha Paulo Miranda. Curioso é também o batistério, raramente encontrado junto ao altar. Falta dizer que o edifício se inspira nas noras tradicionais da zona (engenhos para recolher água dos poços), a provar a ligação que Cunha estabelecia com a arquitetura dos lugares. “Tudo o que fez tem simbologia”, conclui o padre Pedro Barros. “É como se a igreja fosse uma circulação de água viva, que não para de jorrar.”
Longitude : -8.2245