Esperança: o trabalho “mais duro” de César Mourão já pode ser visto

César Mourão na pele de Esperança.
A comédia, escrita e realizada por César Mourão e Pedro Varela, está disponível na plataforma de streaming OPTO.

É uma “homenagem à terceira idade e às nossas mulheres. Como os idosos são esquecidos”. É assim que César Mourão define a série que protagoniza e que estreou na OPTO a 19 de dezembro. A personagem que lhe dá nome nasceu no Teatro da Trindade, em 2016, num monólogo escrito pelo ator e por Frederico Pombares. Chega à plataforma de streaming da SIC depois de a dupla a ter apresentado ao canal de Paço de Arcos. É, como diz o autor e intérprete, “o trabalho mais duro” que fez até hoje.

A trama adaptada à televisão é uma comédia de enganos, com uma pitada de suspense criminal. Centra-se numa carismática viúva de 80 anos que vive num muito cobiçado segundo andar de um prédio no Bairro do Castelo, em Lisboa, onde “resiste” às tentativas de despejo por parte do senhorio. Tem, pelo caminho, que lidar com o seu filho e a ambiciosa nora, que juntos conjuram para que a viúva aceite um suposto “acordo financeiro” e abandone a sua casa de uma vida. Esperança vai revelar a verdadeira fibra de que é feita.

“É uma série absolutamente diferenciadora daquilo que já vimos na televisão portuguesa. Deu oportunidade ao César Mourão, que é um dos talentos de sempre do humor português, de se superar”, frisou Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, na apresentação deste projeto. O responsável apontou “a riqueza de detalhes” que escapam “a um primeiro visionamento”. “Vi três vezes o primeiro episódio e descobri sempre novas coisas na interpretação do César”, completou.

Ao longo de 12 episódios, o ator surge no papel da octogenária. Para vestir Esperança, foram precisas três horas diárias para a caracterização, a cargo do argentino Fito Dellibarda (que transformou Javier Bardem em Pablo Escobar em “Loving Pablo”). “Enviamos um email na certeza de que ele ia dizer um não redondo. Disse-nos que adorou o conceito e a ideia e conseguiu chegar aos nossos valores”, explicou o ator, recordando as “três horas de caracterização diárias, mais uma hora para desmaquilhar” no final das gravações. “Eu tinha de estar [em estúdio] três horas antes da equipa inteira. Já estava cansadíssimo quando terminava de caracterizar”, recordou Mourão. O esforço compensou. “Esquecemo-nos que é o César Mourão quem está ali. Acreditamos que aquela Esperança vai aparecer nas nossas vidas, a qualquer momento e em qualquer rua por onde andemos. Há aqui um conjunto de elementos de portugalidade de qualidade estética, que colocam esta série num patamar diferente do que aquilo que temos visto em Portugal e que se compara às melhores”, acrescentou Daniel Oliveira.

MÚSICA DE MIGUEL ARAÚJO

Além de César Mourão, o restante elenco é praticamente desconhecido: Eva Tecedeiro, Marco Paiva, José Manuel Mendes, Leonora Carvalho, Valerie Braddel, Joana Africano, Gonçalo Almeida, Iara Cardoso e Miguel Freire. “A ideia já era não termos ninguém no elenco muito conhecido. O Daniel teve a mesma ideia. Juntou-se o útil ao agradável. É uma surpresa e uma lufada de ar fresco”, prosseguiu o artista.

Para o coautor Pedro Varela, com esta série “nascem uma mão cheia de atores para o grande público”. “Nada do que fizerem a seguir voltará a ter este sabor de descoberta, nem para eles, nem para o público, tão habituado a ver as mesmas caras de sempre, sempre…”.
Já a banda sonora original foi entregue a Miguel Araújo. Os temas nasceram durante “umas férias no Algarve”, depois de César Mourão lhe ter falado deste projeto. Foi antes de um almoço e, depois desta refeição, “ele pegou na guitarra e tocou a música do genérico”. “Foi imediato. E ficou essa mesma música, não lhe mexemos mais. Falei-lhe em mais duas ou três e ele fez nove”, completa.

Miguel Araújo afina pelo mesmo diapasão. “Foi fácil escrever estas canções. (…) A velha não existe, o apartamento não existe, senão no domínio da ficção, mas durante os últimos meses nada existiu tão concretamente para mim como esta senhora, este apartamento, estas pessoas com quem privei tão a fundo”, desabafou.
O álbum que aqui nasceu conta ainda com colaborações de António Zambujo, Cláudia Pascoal e Camané.

#1. ARTUR, o Filho / LEONOR, a Nora (Marco Paiva) / (Eva Tecedeiro)
Tem o mesmo nome do pai, é o único filho de Esperança e funcionário de escalão médio numa seguradora. Bom coração e um pouco desajeitado, é o retrato do homem mais comum de classe média. É casado com Leonor, enfermeira num hospital que quer mudar-se para a zona do Parque das Nações. Para beneficio próprio, tenta convencer Esperança a abandonar a sua casa de 50 anos.

#2. RODRIGO, O Neto (Gonçalo Almeida)
O adolescente problemático de 17 anos que vai aprender muito com a avó, mas que até lá ainda vai ter muito caminho, “literalmente”, a percorrer.

#3. JOANA, A Hóspede (Joana Africano)
A sobrinha que veio do Porto para o mestrado. Moderna, torna-se confidente de Esperança. Falam sobre tudo sem tabus.

#4. PAULINA, A Empregada (Leonora Carvalho)
Enérgica e simpática, é como uma filha para Esperança. Divorciada e mãe de Joyce, afilhada de Esperança, ajuda na casa desta três dias por semana.

#5. HERMÍNIA, a Amiga (Valerie Braddell)
É a melhor amiga de Esperança. Juntas, vão à hidroginástica, aos Alunos de Apolo, aos velórios e falam sobre tudo, tudo, tudo…

Era uma vez uma casa…

Uma semana antes do Natal e após receber mais uma carta de despejo, Esperança “agride acidentalmente” à bengalada o sobrinho do senhorio, que a quer para fora da casa no Bairro do Castelo, em Lisboa, na qual vive há já 50 anos. Artur e Leonor, o filho e a nora, apressam–se a interceder numa tentativa de gerir o conflito entre Esperança, agora constituída arguida, e o proprietário António, um elegante homem de 80 e muitos anos, que parece saber mais sobre Esperança do que ela imagina. Na noite da consoada, a família reúne-se à volta da mesa, onde deixa claro que dali não sairá a não ser no dia da sua morte. Para surpresa de todos, Esperança anuncia a chegada de uma “hóspede”. É alguém que vem para ficar…




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