Entreter crianças em casa: o consolo de ler e escrever

Fotografia: DR
A leitura e a escrita podem ser boas companheiras de quarentena: funcionam como escape, mas também ajudam a lidar com as emoções (que estão num alvoroço), a consolidar conhecimentos ou a estreitar laços.

A leitura e a escrita podem ser terapêuticas nesta altura de isolamento social, se já fizerem parte dos hábitos das crianças e das famílias, refere a psicóloga Lilian Fraga. Caso todos estejam nervosos com a situação, tentar impor novas rotinas agora pode gerar mais stress. Ressalva feita, a escrita ajuda a expressar emoções e pode diminuir a ansiedade, prossegue Lilian, que incentivou a filha pré-adolescente a fazer um diário (até porque esta é uma época que vai ficar na História) e também a ler “O diário de Anne Frank” original, depois de já estar familiarizada com a versão em banda desenhada. “Os miúdos estão a viver um tempo novo; é bom pôr no papel o que estão a sentir, e falarem uns com os outros”, sustenta.

Para crianças até ao sexto ano, escrever e-mails aos colegas ou avós pode ser útil, até para treinar a escrita; já os adolescentes preferem mensagens mais diretas, defende a psicóloga. Acresce que, mais do que servir de evasão, a leitura e a escrita ajudam a consolidar conhecimentos e a manter o vínculo à aprendizagem. Uma última nota, em relação ao diário: se na sua essência é algo privado, que permite desabafar sem filtros, também há quem, por estes dias, partilhe o quotidiano nas redes sociais – fazendo um diário de mãe e filho, por exemplo. Neste caso, importa preservar a privacidade dos mais novos, não revelando de mais.

Fotografia: DR

O que fazer

Diário da gratidão

Fazer um diário da gratidão, ou seja, anotar o que de bom aconteceu em cada dia, é uma ferramenta útil. “É importante os miúdos agradecerem pelo que têm e não terem sempre tudo o que querem, porque na vida não temos tudo o que queremos. E devemos ensiná-los a ver o copo meio cheio: não podemos ir comer um gelado agora, mas podemos fazer um em casa”, exemplifica Lilian Fraga.

Livro de receitas

Criar um livro de receitas, com os pratos cozinhados e saboreados em família, as coisas de que gosta mais e menos, é outra sugestão. E mais um documento que fica.

Jornal de parede

Uma boa ocupação com propósito é criar um jornal sobre os acontecimentos familiares. Pode ser um semanário de parede, com uma página apenas, para não ser muito complicado. As crianças podem desenhar o título do jornal, escolher uma manchete (a notícia principal) e depois notícias secundárias e breves (notícias curtas). E depois partilhar uma foto desse jornal com a família.

Ler noutra língua

Os miúdos mais crescidos podem ser estimulados a ler em inglês ou noutra língua que venham aprendendo. Assim, mantém-se essa competência oleada.

Partilhar leituras

A partilha de impressões sobre o que cada um leu garante bons momentos em família – e os pais devem dar o exemplo. Os mais novos podem ainda fazer cartazes sobre as obras lidas, salientando as suas partes preferidas, ou fazendo desenhos.

Fotografia: DR

Dicas de Dora Mota para desbloquear a escrita

Histórias de seis palavras

A contenção é um exercício muito usado para soltar a escrita e que, no caso das crianças, pode ser muito divertido. Consiste em pedir-lhes que contem uma história ou descrevam o que estão a observar, usando seis palavras. Não seja muito exigente com os resultados e instigue-os a inspirar-se no que estão a ver ao redor. Por exemplo: “Floresta despenteada na cabeça da mãe” ou “Luz acesa entra pela janela aberta”.

Poemas visuais

Também se chamam caligramas e são desenhos que se fazem com palavras, mais ou menos elaborados. São uma modalidade artística (com muitos exemplos na internet para descobrir), mas para as crianças que têm dificuldade em expressar-se pela escrita, podem ser um bom princípio. Peça-lhes para fazerem uma flor, um pássaro ou uma casa com os traços compostos por palavras – aquelas que eles quiserem e lhes ocorrerem – e vá apurando esse trabalho. O resultado pode ser uma obra de arte maravilhosa.

A palavra preferida

Parece simples pedir-lhes uma palavra preferida, mas a escolha pode ser difícil para as crianças, ainda para mais estando ansiosas. Por isso, ajude um bocadinho nessa parte e dê-lhes liberdade. Se quiserem escolher coisas banais como “bola” ou “dormir”, está tudo bem e serve para o exercício. Use depois essa palavra para os levar a viajar na imaginação. No caso da bola, peça-lhes para escrever uma frase sobre com quem e onde gostariam de jogar à bola, se eles pudessem voar – e aí sim, pode ser que escrevam que jogam com o Cristiano Ronaldo nos anéis de Saturno.

Ter paciência e não conduzir

As crianças pensam de forma mais concreta e direta, e o mundo deles tem muito mais fantasia na sua composição. Por isso, evite impor os seus padrões de estilo literário e deixe-os escrever e desenhar as palavras com liberdade. O sonho comanda a vida deles – aproveite e siga no tapete voador.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend