Adão Soares tinha cinco anos quando começou a pescar com o pai, no rio Douro. Estava sempre desejoso de ver chegar domingo, para irem juntos. Com o tempo, foi desenvolvendo as suas aptidões e, hoje, aos 71, é conhecido como o “rei dos congros” – peixes de grande porte que costumava capturar na zona de Aveiro, paciente, no cimo das rochas, madrugada dentro.
Deve a alcunha sonante aos pescadores mais velhos com quem se cruzava nesse tipo de pesca, que iniciou há décadas, em São Jacinto. “Diziam: vem aí o rei dos congros! Porque eu tirava grandes e eles só tiravam pequenos. Andei quatro anos a estudar, a ver de que é que os congros mais gostavam”, conta. O resultado foram iscos feitos com diferentes qualidades de peixe envoltas em meias de vidro, as “bonecas”.
O maior congro que Adão apanhou pesava 30 quilos e media mais de dois metros. O feito está registado em fotografia, uma de muitas expostas no museu particular que abriu, em 2011, em Gondomar, na rua que já então levava o seu nome. O Museu Adão Soares, Rei dos Congros mostra alguns exemplares embalsamados, artigos de jornais e revistas, troféus de pesca desportiva e outras curiosidades.
Antes da pandemia, questões de saúde levaram o mentor do museu a encerrá-lo temporariamente. Reabriu em julho passado, com a mesma missão: dar a conhecer um percurso de vida indissociável da pesca ao congro. “Trabalhei dia e noite para fazer isto”, diz, sobre aquele equipamento, o “rei”, que tem ainda outro título: quando trabalhava na EDP, como montador de linhas de alta tensão, chamavam-lhe “canário dos fios”, por ser alegre e gostar de cantar.
Do recorde pessoal aos sustos
O maior congro que o “rei” tirou das águas pesava 30 quilos, media 2,31 metros, e está imortalizado numa fotografia, com indicação do local e da hora da captura, mas também de quem o ajudou a tirá-lo do mar. É um animal com muita força. Por isso afirma, humildemente: “Eu, sozinho, não conseguia ser o rei dos congros. Estamos em cima das pedras, e a água está a quatro, cinco metros, lá em baixo”. Precisa de auxílio para puxar o congro para terra. Diz que entre outubro e fevereiro “é quando saem os maiores”. Se estiver lua nova, melhor. Ainda hoje não sabe nadar, e já apanhou sustos, como quando caiu à água, de madrugada, em pleno janeiro. Conseguiu sair, a custo, e foi outra vez pescar.
Um aquário com safios
No museu, há um aquário onde nadam safios – só depois dos cinco anos é que esses peixes de corpo alongado passam a ser designados congros. Adão Soares segue-os com o olhar, enquanto nos convida a apreciar a dorsal “lindíssima” daqueles animais, que tenciona devolver ao mar, mais adiante, para atingirem a maturação.
Artefactos de pesca improvisados
Adão Soares, ainda miúdo, começou por pescar com engenhos improvisados. Entre os objetos expostos no museu estão a sua primeira cana de pesca, feita com uma cana-da-índia, e uma boia que criou, aos 7 anos, com uma pena de peru e um pedaço de cortiça. Quem quiser conhecer melhor a história pode adquirir o livro “As noites longas do rei dos congros”, por 10 euros.
Longitude : -8.2245