Assim que se entra, não são apenas os retratos pintados de dois caseiros que chamam a atenção. Numa das paredes, estão quatro relógios, com as horas em Nova Iorque, Hong Kong, Sidney e na Herdade do Touril. Neste último, os ponteiros não mexem, mas não há qualquer avaria. «É mesmo assim. O tempo aqui para», explica Luís Leote Falcão, o diretor-geral deste que foi um dos primeiros turismos rurais alentejanos a nascer.
Fica em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a quatro quilómetros da Zambujeira do Mar, a duas horas de Lisboa – e está de cara lavada. «2017 foi o nosso melhor ano, mas mesmo assim decidimos evoluir», conta o responsável. A herdade reabriu este ano com uma nova decoração, mais contemporânea e acolhedora. Também com um novo leque de rotas para se fazer de bicicleta, que se juntam aos trilhos pedestres já existentes. Já o ar puro e a tranquilidade são os de sempre. Este é, afinal, mais um avanço no caminho que já se fazia há década e meia, com o aumento da capacidade de alojamento e a criação do bar de petiscos junto à piscina exterior de água salgada, aquecida. Em breve, poderá também encher-se uma caixa de madeira com fruta e legumes da horta que está a ser ultimada, por apenas cinco euros.
Ao longo dos cinco hectares da herdade, estão espalhados os 18 quartos, para duas a quatro pessoas, e casas T1 e T2 com cozinha equipada, que podem levar até seis pessoas. Os terraços são embelezados com canteiros de plantas e ervas aromáticas como salva, tomilho e alfazema. Dali, a vista pode variar, tanto para a piscina como para o mar, ou não estivesse a Praia do Tonel já ali ao lado. Foi esta, de resto, a baía que inspirou o nome de um dos burros da herdade. «O outro chama-se Litoral. Foram as pessoas no Facebook que lhes deram os nomes», ri-se Luís Leote Falcão. Há cinco gerações que a quinta está na sua família. «Na altura, não se ouvia falar em Rota Vicentina. Hoje temos caminhantes do mundo todo, o ano inteiro», revela.
O sudoeste alentejano tem dado nas vistas – e com razão. E o Touril tem crescido com isso. Nos últimos tempos, já foi capa da «Condé Nast Traveler» e sugerido pelo «The Guardian» e «The Times». Afinal, a forma como se acolhe visitantes marca a diferença – e aqui não há margem para dúvidas. Nem na despedida, onde todos levam para casa como lembrança um pão alentejano cozido a forno a lenha.
Pedalar de dia, contar estrelas à noite
Caminhando no seu próprio ritmo ou em cima de uma bicicleta, as rotas que a Herdade do Touril promove são mais do que pretextos para passar uma manhã ou uma tarde em sadia atividade. São também uma forma de conhecer melhor o sudoeste alentejano, com uma exigência de esforço e de tempo razoáveis para todos os físicos. Os quatro percursos a pé são feitos sempre pela costa, de olhos postos no mar, e oscilam entre os nove e os 18 quilómetros. Para norte, caminha-se até Almograve, para sul até Azenha do Mar e Odeceixe, e uma outra vai até ao Cabo Sardão, um dos miradouros mais bonitos e desafogados desta região, onde o oceano parece ser infinito.
Quem preferir alugar uma bicicleta, normal ou elétrica, para passeios dentro e fora da herdade, tem à disposição seis circuitos entre cinco e 64 quilómetros. Neste caso, passeia-se e pedala-se entre pastos, estufas, hortas, ninhos de cegonhas, pescadores de cana lançada, numa zona de grande beleza. Garantido é que a energia gasta durante o dia se pode recuperar no Touril, junto à nova lareira exterior da quinta. Seja a contar estrelas ou a partilhar histórias, entre amigos e familiares.
Comer a sudoeste, sem perder o norte
É conhecida por ser uma vila piscatória, mas a fama não está só no nome. Também se prova no prato. E na Zambujeira do Mar, não há quem não conheça A Barca Tranquitanas. O restaurante fica no topo de uma arriba, no porto da Entrada da Barca, e não poderia ter peixe e marisco mais fresco. A feijoada de búzios e o choco à Barca com amêijoas da Ria Formosa, feito como a carne de porco à alentejana, são dois dos pilares desta casa que funciona há três décadas em ambiente familiar.
Os filetes de pampo com migas de grelos e o polvo frito com batata-doce também são pratos vencedores do restaurante gerido por Arménio Silva, que recusa usar produto de aquacultura. Nos grelhados, o sargo, que é possivelmente o peixe mais pescado na Zambujeira, e na Costa Vicentina em geral, está sempre a sair.
A norte do Sudoeste, e com pronúncia do Norte, se gere a Tasca do Celso. Fica em Vila Nova de Milfontes, próximo da praia, mas muitos já sabem o caminho para lá, até de olhos fechados. É uma verdadeira instituição na Costa Vicentina e tido como um dos melhores restaurantes alentejanos. José Ramos Cardoso, natural de Lamego, gere há duas décadas o restaurante que chega a servir qualquer coisa como 300 refeições por dia, mesmo no pico Inverno.
Aos clientes habituais de sempre foram-se juntando os curiosos, o que levou a Tasca a ampliar-se para a sala vizinha, no ano passado, e para uma nova esplanada, neste verão. O espaço é acolhedor, com bancos de cortiça, jarros com malmequeres, guitarras portuguesas encostadas à parede e pipas de madeira a servir de balcão. O verdadeiro conforto, contudo, está no sabor. Produto sazonal e de qualidade, a maioria de origem alentejana, ajudaram a criar o nome da Tasca do Celso, assim como a sua generosa garrafeira com 220 referências vínicas. Generosas são também as doses de comida, diversa nas propostas.
Nas entradas, o destaque vai para a salada de queijo fresco com beterraba, rábano, tomate cherry de Almograve e amendoas torradas, para o pica-pau de porco preto ou as tibornas de sarrajão e de presunto. A picanha é tenra e a cataplana de peixe é um ex-líbris mas o cabrito assado em forno a lenha, com pele crocante e a desfazer-se do osso vai ficar na memória. Com sotaque alentejano. E com tempo para degustar. Não haja dúvidas que aqui parece mesmo que o tempo para.
Um bar na praia, o ano todo
A meio caminho entre Vila Nova de Milfontes e a Zambujeira do Mar, o Bar da Praia by Casas Brancas pretende ser mais do que o nome indica. Abriu no verão e, à exceção de dezembro e janeiro, tem as portas abertas ao longo do ano, sempre que não chova. Tem vista privilegiada para a Praia de Almograve, e o seu rochoso areal, e é ponto de passagem na Rota Vicentina. Dos sumos naturais com fruta da época aos cocktails clássicos e aos petiscos, é só escolher. Os jarros com flores e os barcos em madeira ajudam a compor o espaço e o orgulho regional saboreia-se com os vinhos da Herdade do Sobroso, na Vidigueira. Um por do sol visto da esplanada promete ficar na memória.
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