Viana: Passear junto ao mar pela rainha do Minho

Um hotel de madeira que é um refúgio de onde não apetece sair e uma cidade graciosa que nos conquista o coração. Não é preciso verão para apreciar esta beira mar revigorante nem este panorama tão bonito quanto culturalmente rico.

A chegada ao hotel FeelViana pode iludir-nos à primeira vista. Estando avisados que se trata de um hotel de quatro estrelas, com alguns razoáveis luxos como um spa e quartos com vista, parece que entramos em vez disso num muito bem arrumado parque de campismo de praia. O chão é de areia com vegetação dunar, há bungalows ligados por passadiços de madeira a um edifício também em madeira, comprido a perder de vista. É impressão pouco duradoura, porque o encanto deste hotel peculiar está no seu minimalismo cheio de aconchegos, tão rústico como contemporâneo e, sobretudo, na sua fabulosa inserção na paisagem.

Tem um certo ar de paliçada esta construção de madeira avermelhada (criptoméria dos Açores) cheia de transparências. Tanto cá fora como lá dentro, enormes paredes de vidro promovem uma permanente sensação de estarmos no meio do pinhal do Cabedelo, quase de pés na areia, a caminho do mar. E é o passar do dia que define os tons da luz que amaciam a madeira, material dominante no interior, a criar um acolhimento de cabana. E depois, em cada canto, peças de arte contemporânea – quadros, esculturas, pequenos objetos – a criar desafios ao olhar e à atenção.

José Sampaio, um dos sócios deste hotel criado para quem gosta de turismo ativo e de mergulhar na natureza, precisou de dez anos até que a sua ideia se concretizasse, num terreno que pertence ao município de Viana, em Darque, na praia do Cabedelo tão conhecida por aficcionados do surf. Depois de finalmente conseguir a concessão, empenhou-se em erguê-lo o mais rápido possível, com projeto de arquitetura de Carlos Castanheira. Mesmo podendo construir mais volumetria, preferiu deixar o hotel com 55 quartos e não mais que o primeiro andar, esguio e naturalmente camuflado pelo pinhal, assim que se avança por ele dentro em direção à baía do Cabedelo.

No FeelViana Restaurante provam-se produtos da região e da época, servidos em doses generosas.

Lá dentro, tudo é ao mesmo tempo confortável, bonito e funcional, com um certo ambiente náutico, com as portas de verde água raiadas de ferrugem a evocarem um navio. Por exemplo, o lindo chão de xisto é prático para resistir à areia e ao pisoteio de calçado desportivo. Há muito espaço livre e sem obstáculos para que as famílias possam descontrair, entre muitas plantas. Os sofás em tons claros também servem para dormir uma sesta. No FeelViana Restaurante, a cozinha do chef Paulo André, com uma soberba carta de autor criada para a degustação de produtos da região e da época, com empratamentos sugestivos, traduz-se em pratos de doses generosas, aptas a satisfazer quem chega de fazer surf ou pedalar muitos quilómetros. E na sala ao lado, a da taberna, servem-se petiscos que são autênticas refeições para partilhar ao longo de todo o dia, para que preferir comer a desoras.

 

 

Um fim de semana de aventura

«Há muitos anos que eu vinha para aqui praticar kitesurf, cheguei a ter um apartamento», conta José Sampaio, oriundo de uma família de Guimarães que teve negócios na indústria têxtil antes de investir no turismo náutico no Douro, criando a empresa FeelDouro. O empresário concebeu este hotel como um ninho de confortos essenciais para aqueles para quem passar um fim de semana a descansar inclui pranchas, corridas ou bicicletas e treinos no ginásio. Mas também uma ida ao spa (onde há massagens com pedras quentes, com algas e desportivas), uma imersão na piscina aquecida e ainda um cocktail com os amigos ao fim da noite, nas mesas corridas da taberna, com uma muito razoável carta de bar.

Parece não faltar mesmo nada para que apeteça ficar o fim de semana inteiro entre o hotel e a praia do Cabedelo, com umas pedaladas pela costa. Mesmo no inverno, a baía junto à foz do rio Lima é uma delícia para um passeio prolongado ou caminhadas vigorosas ou até para fazer as aulas de yoga do hotel. No Sports Center no rés do chão (também aberto a não hóspedes), pode-se comprar e alugar equipamentos para desportos aquáticos (kitesurf, stand up paddle, surf, windsurf e bodyboard) e desportos terrestres (corrida e trekking) e ainda combinar sessões ou circuitos com instrutor. Ou ainda escolher bicicletas de uma impressionante lista de quase 60 modelos, entre eles bicicletas de pneus grossos para rodar no areal, bicicletas para crianças e até as simpáticas pasteleiras para passear na cidade.

 

O spa do FeelViana.

O desafio para explorar os arredores, de Viana do Castelo até Ponte de Lima (com possibilidade de fazer SUP nos rios da região) é constante – a prová-lo, estão os carros e os jipes estacionados cá fora, que se podem alugar entre 34 e 50 euros por dia. No verão, pode-se mesmo ir a pé, já que o ferry boat atravessa várias vezes por dia o rio Lima entre Darque e o centro de Viana. No inverno, é preciso uma curta viagem de carro (ou de bicicleta), que bem vale a pena considerando ser sempre um prazer revisitar esta cidade que se estende entre o monte de Santa Luzia e o rio Lima, com o seu ar de boneca antiga bem cuidada.

Cidade revivalista

Basta uma atitude de passeio livre e algum apetite, porque esta é uma cidade tentacular de ruas agradáveis por onde se espalha um comércio tradicional que, para quem assiste à globalização em cidades maiores, parece quase revivalista. E nem se procure escapar aos lugares comuns desta Viana graciosa, porque eles foram feitos para regressos. Falamos das suas boas confeitarias e doces imperdíveis, como as casas dos irmãos Natário – a Manuel Natário, a original e mais antiga, ou a Zé Natário, mais recente e aberta em 1970 – para comer as bolas de Berlim, os manjericos e ainda a deliciosa torta de Viana, com creme de ovos frescos. Mas falamos também da subida ao monte de Santa Luzia e uma visita ao Museu do Traje, para sairmos embaciados pela riqueza cultural deste canto noroeste do país.

E prosseguindo em direção ao Lima, quando a cidade desagua em espaços mais amplos e um ar mais cosmopolita, podemos comungar dessa fusão entre o velho e o novo, com uma visita à loja-bistrô À Moda Antiga, onde uma carta de surpreendentes hambúrgueres casa com cerveja artesanal e refrescos portugueses, entre paredes de pedra de uma antiga loja e muitos produtos nacionais – de comer ou de usar – à venda. Se dali sairmos diretos para o pôr do sol no rio, inspirando uma frescura atlântica, somos bem capazes de não evitar deixar o coração em Viana.

Monte de Santa Luzia

 

O santuário no Monte de Santa Luzia.

Ninguém diga que foi a Viana sem ter subido ao monte de Santa Luzia e visitar um dos mais extraordinários santuários do país, dedicado à santa advogada da vista. Foi por um voto de gratidão que o capitão de cavalaria Luís de Andrade e Sousa, curado de uma doença dos olhos, ali instituiu a Confraria de Santa Luzia, em 1882. Pode-se subir até lá de carro ou, então, para quem for bravo de alma e de pernas, escalar a pé a encosta com 659 degraus. Como meio intermédio, existe o funicular(3 euros ida e volta).

É uma visita que se pode repetir, sem cansar, sempre que se for a Viana: pela vista panorâmica do rio Lima e costa atlântica; pela grande beleza do templo dedicado ao sagrado Coração de Jesus, com a sua arquitetura majestosa e as três maiores rosáceas da Península Ibérica, revestidas a vitrais; e ainda pela possibilidade de subir ao zimbório, que fica 250 metros acima do mar, com o panorama como prémio. Em redor do templo, encontra-se o fotógrafo que há muitos anos tira as muito vintage fotografias a la minuta (20 euros, 4 fotografias) e ainda, nas suas traseiras, a citânia de Santa Luzia, que também se pode visitar.

 

Museu do Traje

 

 

Quem achar que conhece mais do que bem o traje de Viana, deve ir confirmar como pode estar muito enganado numa visita ao essencial Museu do Traje. Diante dos manequins com os vários trajes de todas as zonas do concelho, da singela roupa em branqueta das sargaceiras do Neiva até às lavradeiras de Afife, passando pelas roupas de trabalho, de festa, de luto e de casamento, com os seus detalhes singulares, impressionantes bordados e muito trabalho manual, é possível compreender porque tantos etnógrafos se apaixonaram pelo Alto Minho. A riqueza dos trajes está também na sua confeção, feita pelo mesmo povo que os usava, pelo que o museu inclui uma exposição sobre o cultivo e trabalho do linho. E ainda uma pequena, porém suficientemente rica, secção dedicada ao ouro e à filigrana.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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