Roteiro na Ericeira: a vida ao sabor das ondas

Roteiro na Ericeira: ao sabor das ondas
Na vila piscatória a menos de uma hora de Lisboa ainda se saboreia o lado calmo da vida. A Ericeira tem novidades e prova que é mais do que zona balnear e refúgio do surf. Sempre com o mar a espreitar, e em cima da mesa, com o peixe e marisco frescos da costa.

A homenagem ao mar está explícita em todos os cantos. Dos pormenores náuticos que decoram os 35 apartamentos, às tonalidades azuladas e esverdeadas dos mesmos, até ao enorme caranguejo que Bordalo II criou de propósito para uma das fachadas do You And The Sea. Em retribuição, o mar serve de companhia constante ao novo hotel quatro estrelas da Ericeira, onde todos os apartamentos – de T0 a T5 – têm terraço e vista privilegiada para um horizonte azul de perder de vista.

E não poderia ser de outra forma. Nesta vila piscatória da zona oeste, também um santuário do surf, o ritmo das ondas serve de compasso para o quotidiano e o mar dita o que se serve na mesa. «Aqui há uma boa atmosfera, um mar lindo, boa comida», explica Margarida Almeida, fundadora da Amazing Evolution, especialista na reabilitação de ativos insolventes. «A Ericeira é uma ode às coisas simples da vida e um sítio onde alguém se consegue encontrar consigo próprio», acrescenta.

A decoração é contemporânea, sem ser pretensiosa, e a sustentabilidade ambiental está presente de várias formas. Seja no kit de higiene biodegradável ou nas cabeceiras das camas, feitas de materiais reutilizados como pinho e nogueira. A chegada é sempre brindada com uma bebida de boas-vindas na zona de restaurante e bar, o Jangada. Um espaço com muita luz natural de dia e acolhedor à noite, a meia-luz. A lareira acesa e a piscina aquecida na sala ao lado compõe a moldura. E o mar, claro, sempre à espreita.

É uma experiência que fica completa com as propostas do chef Nuno Bandeira de Lima, que criou uma carta variada e com o toque de irreverência que já mostra no restaurante Infame, no Intendente. Prova disso é o arroz com camarão-tigre, vieiras e ovas de ouriço do mar, este último um produto popular na vila e alvo de um festival anual. Outro exemplo reside nos secretos de porco com arroz de berbigão e pipoca (pele desidratada e frita) de porco. As doses são generosas, assim como o leque de atividades do You And The Sea: para além de sauna, banho turco, ginásio e sala de videojogos, as massagens partem dos 25 euros e alugam-se bicicletas.

O arroz com camarão-tigre, vieiras e ovas de ouriço do mar do Jangada. (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)

O Jangada é o restaurante inserido no novo quatro estrelas You and The Sea. (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um clássico e uma novidade à mesa

Está a pouco mais de meia-hora de carro de Lisboa, mas ainda consegue manter o seu espírito de vila. Quer seja com um saco de pão fresco que é deixado à porta de alguém ou com um grupo de idosos reunidos num terraço a jogarem às cartas. Mas se é de tradição que se faz esta vila cheia de casas brancas, o seu percurso também se faz de novidades. E na gastronomia, ambas caminham lado a lado.

A vila piscatória é um refúgio do surf. (Fotografia: Carlos Manuel Martins/Fotografia: GI)

O peixe e marisco fresco da sua costa fazem com que não seja difícil encontrar uma boa marisqueira na Ericeira – e há várias. O Restaurante Sul, aberto há uma década, é um dos clássicos. Está inserido no Parque de Santa Marta, onde existe um parque de diversões para os mais novos, e está quase colado ao mar, junto a um miradouro onde é impossível não registar com a máquina as ondas a bater nas rochas.

Cherne, dourada, robalo, linguado, sargo e raia são alguns dos peixes mais pescados na zona. Mas também o tamboril que protagoniza uma das cataplanas mais pedidas no restaurante familiar. A sopa rica do mar também é conhecida – leva tamboril, lagosta, amêijoa e camarão – assim como a sua mousse de arroz doce com bolacha de canela, uma espécie de arroz doce desconstruído, mais leve. Sabores para provar no interior do restaurante, ao som de jazz, ou na esplanada, agora coberta para acolher os dias mais frios.

Perto dali, e a dois passos da praça principal da Ericeira que acolhe por estes dias o Mercado de Natal, o peixe fresco também é rei e senhor, como mostra a montra junto ao balcão do Miyabi Sushi by Rodrigo Mattos. Ao longo dos últimos anos, este sushiman foi fidelizando o seu público, em passagens por restaurantes japoneses na Foz do Lizandro e na Malveira. «Muitos clientes seguem-me por onde passo. Agora chegou a altura de abrir o meu próprio espaço», explica Mattos, enquanto corta, com precisão, salmão para um sashimi.

Rodrigo Mattos abriu este ano o Myabi Sushi. (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)

A estrela da casa é o menu “all you can eat”. Para além de miso e giozas, inclui vários tipos de sushi à descrição, como gunkan, hossomaki, niguiri, uramaki ou sashimi. A base para as combinações são salmão, atum e peixes brancos da época e da zona, como cantoril e samonete. Depois, a imaginação é o limite. As propostas mais doces incluem manteiga de amendoim e canela ou banana e algas. «No sushi, os portugueses gostam de arriscar», remata Rodrigo Mattos.

 

Os pastéis mais conhecidos da zona
«Não há segredo nenhum, só amor», ri-se Francisco Duarte. Aos 28 anos, tem motivos para sorrir. Não só O Pãozinho das Marias é uma das pastelarias de referências do concelho de Mafra como os seus pastéis de nata já são famosos. O cheiro sente-se logo na rua, à entrada. «A massa folhada é mais seca, mais crocante, tem menos gordura e é um pouco mais salgada. O recheio é aveludado e feito com casca de limão», conta o jovem.

Antes de se aventurar nos bolos, Francisco começou como padeiro, ou não fosse ele neto de Fernando Firmino, pioneiro na história do pão de Mafra. Todos os dias, há pão fresco n’O Pãozinho das Marias: centeio, milho, alfarroba, cereais ou passas e nozes. O bolo de banana, sem açúcar e glúten, também está sempre a sair, assim como o bolo-rei, cuja massa fermenta durante 24 horas.

O pasteleiro Francisco Duarte, no meio, é responsável pel’O Pãozinho das Marias (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)

Um percurso de esforço e dedicação que lhe valeu o prémio de Melhor Pastel de Natal 2017 durante o festival Peixe em Lisboa e a abertura de um segundo espaço na vila da Ericeira, há três anos. Os números não mentem: num só dia, já chegaram a vender oito mil pastéis de nata.
Marcar golo no mundo dos vinhos
Arriscar é também uma palavra-chave na vida de André Manz. O húngaro veio para Portugal para defender bolas na baliza do Estoril-Praia, há 30 anos, mas uma lesão levou-o a deixar o futebol – e a redescobrir-se. Do relvado para as vinhas.

Quando decidiu mudar-se com a família para a pacata vila de Cheleiros, a 15 minutos de carro da Ericeira, há 18 anos, estava longe de imaginar que iria dar que falar por razões vínicas. Sempre foi um amante de vinho e começou a produzir para consumo interno, até ao dia em que especialistas lhe disseram que no seu terreno estava a casta branca Jampal, que não existe em mais local do país.
Daí à comercialização, foi um passo. Hoje, a Manzwine tem 11 referências: para além do já referido branco, tem rosé, tintos (todos blend), uma produção do Douro, outra em Setúbal, e um novo espumante, lançado este mês. Um negócio que não para de crescer: este ano, produziram-se 300 mil litros de vinho, face aos 80 mil de 2017.

A produtora de vinhos Manzwine fica em Cheleiros, a 20 minutos da Ericeira. (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)

As visitas guiadas, de hora e meia, fazem-se pelo museu-loja que conta a história de Manz e que aborda a ligação de Cheleiros ao vinho, pela adega e laboratório e termina com uma degustação, acompanhada de queijos e, claro está, pão de Mafra. O que é nacional é bom, diz a sabedoria popular. O que é local, já se sabe, também.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Roteiro pelas noites quentes e charmosas da Ericeira
A vila da Ericeira é a capital dos icónicos dois cavalos
Tudo o que há para ver e descobrir na marginal da Nazaré



Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend