Viajaram durante dez meses pela Nova Zelândia, Austrália, Sudeste Asiático e Inglaterra. Mariana Oliveira, professora de Filosofia, pediu licença sabática e decidiu conhecer Mundo em vez de se agarrar a uma tese de doutoramento. André Gomes deixou de ser comercial numa multinacional do ramo do tabaco. Pesquisaram, partiram, fizeram house-sitting, cuidaram das casas de outros, conhecerem pessoas e lugares. Quando voltaram a Esmoriz, nada podia ser como dantes. Uma fotografia da estação de comboios foi o clique e o início do projeto.
Conversações com a IP Patrimónios – Administração e Gestão Imobiliária, negócio fechado, obras durante meio ano, e a antiga casa do chefe e subchefe da estação, no primeiro andar, transformou-se numa guesthouse cheia de luz. A abertura foi num dia especial, nos 157 anos do edifício, a 8 de julho de 2020.
“A ideia era viajar a partir de casa, receber pessoas na nossa casa, queríamos uma coisa que fizesse a diferença, escolhemos a estação pelo entra e sai”, conta Mariana. “Aqui há uma grande rotação de pessoas”, diz André. Pessoas que chegam, pessoas que partem todos os dias. “Continuamos a viajar aqui, onde estamos, as pessoas vão passando e contando histórias”, acrescenta Mariana.
O casal fez questão de honrar a história e o visual de um edifício que é património nacional. “Não destruir, mas manter”, garante Mariana. A traça original da fachada foi totalmente respeitada, agora tem floreiras nas janelas. No interior, não foram levantadas novas paredes. O miolo tem quatro quartos, cada um com cama de casal, uma pequena sala de estar e casa de banho privativa. Tem uma sala de estar comum com sofá, mesas e televisão. Uma cozinha com a chaminé antiga, ar rústico, apetrechada com o que é necessário e com vista para os passeios de embarque e desembarque.
O que não foi possível reaproveitar não foi desperdiçado. As madeiras das janelas antigas foram transformadas em mesinhas de cabeceira, tampos de mesas, cabides, porta-vasos de parede. Portas antigas são divisórias de correr nos quartos. E a cortiça é o elemento dominante na decoração, daí o batismo, por ser um material português, ecológico, e pelo encanto que Mariana e André lhe reconhecem. Cortiça nas testeiras das camas, nos números dos quartos, nos porta-chaves, no meio das mesas, no chão, no piso da entrada que dá para uma bela e antiga escadaria de madeira. Mariana explica. “É um conjunto de experiências que acumulámos e que decidimos pôr aqui”. André confirma que foi tudo pensado ao milímetro, nada comprado por impulso, para o máximo de conforto.
Não é apenas estar em cima da linha do Norte com comboios todos os dias e a toda a hora, há muito para fazer à volta da guesthouse. O passadiço da barrinha de Esmoriz fica à porta, há praias e o mar a dois passos, o imenso parque verde do Buçaquinho está perto. É possível fazer passeios a cavalo, aulas de surf, batismo de voo, encomendar refeições. André sabe pescar e os hóspedes podem acompanhá-lo numa pescaria e, se correr bem, trazerem peixe para o almoço ou jantar. Entretanto, o casal continua à procura de mais histórias do edifício que agora é a sua casa.
FICAR E OBSERVAR
Duas pontas do edifício, com janelas para norte e para sul, são espaços luminosos para sentar e ver passar os comboios. Nesses pequenos compartimentos, agora remodelados, ficavam as casas de banho dos antigos ferroviários.
Longitude : -8.2245